A liberdade de escolha prometida com a implantação da portabilidade numérica das operadoras de telefonia virou uma dor de cabeça para alguns usuários. A reclamação mais comum é a de que as empresas não estão cumprindo com propostas feitas, geralmente por telefone, para atrair os clientes das concorrentes.
O comerciante Roberto Erwin Kravicz, cliente da operadora GVT, alega que recebeu uma ligação da Brasil Telecom (BrT) ofertando um plano promocional em razão da portabilidade. Segundo ele, para tê-lo como cliente, a BrT ofereceu um plano de 8 mil minutos com 2 linhas telefônicas adicionais, além do serviço de internet banda larga por R$ 79 mensais, pelo prazo de um ano, com contrato de fidelidade.
Kravicz aceitou a proposta e pediu a instalação das linhas em sua loja de confecções. Ele diz que, no momento da instalação, foi informado pelo técnico da operadora de que o plano prometido não existe no portfólio da operadora. Com isso, o cliente pediu o cancelamento imediato da instalação da linha.
Ao entrar em contato com o call center da BrT, o comerciante conta que foi informado que, de fato, o plano oferecido inicialmente não existe, e que a instalação das linhas adicionais elevaria o custo mensal do plano para R$ 144. Com isso, o consumidor pediu a suspensão no processo de portabilidade.
Mesmo assim, Kravicz afirma ter recebido uma fatura com a cobrança dos serviços e, ao ligar para o call canter para pedir esclarecimentos, foi informado de que será obrigado a pagar uma multa de R$ 350 por quebra da cláusula de fidelidade.
"Me sinto enganado. A empresa não entregou o produto prometido e agora quer que eu pague uma multa por quebra de contrato. Isso me parece um absurdo", reclama.
O marceneiro Serafim Caravante de Souza, cliente da GVT, também recebeu uma ligação da BrT em que foi oferecido um plano atraente. Ele aceitou a oferta e autorizou um visita técnica para execução da transferência. A BrT, no entanto, instalou uma linha provisória na casa do cliente, prometendo levar o número da GVT para esta linha "assim que chegasse a portabilidade". Isso tudo aconteceu há mais de 40 dias, em 29 de fevereiro; a portabilidade começou a funcionar em Curitiba no dia 12 de janeiro.
Depois disso, a operadora não concluiu a portabilidade e o cliente está com duas linhas operando simultaneamente.
"Pedi o cancelamento da linha, que também não foi executado. Tenho mais de 30 protocolos de atendimento. Tive muita dor de cabeça por causa disso", desabafa. "Hoje estou com duas linhas gerando contas sem necessidade", reclama.
Já o advogado Sérgio Martins Egg fez o caminho inverso. Cliente da Brasil Telecom, há cerca de um mês ele aceitou migrar para a GVT com a proposta de uma redução de até 60% no valor de suas contas telefônicas. Como combinado, em cinco dias um técnico da GVT foi até a casa do cliente para fazer a migração de duas linhas, uma utilizada para ligações telefônicas e outra exclusiva para uso da internet. A primeira linha passou a funcionar normalmente, dentro do prazo combinado. Já a linha da internet, até o momento, não entrou em operação.
"Liguei inúmeras vezes para a operadora e, a cada ligação, recebia uma desculpa diferente. Tenho mais de 15 protocolos de atendimento, mas a operadora não consegue solucionar o meu problema. Chegaram ao cúmulo de me dizer que eu não havia solicitado a execução do serviço", reclama o advogado, que desde então está privado do acesso à internet em sua casa.
"Me arrependi profundamente de ter migrado. Liguei na operadora para me informar se há alguma cláusula de fidelidade, mas nem isso a GVT soube informar. Não sei o que acontece. Creio que eles não tiveram capacidade e competência para me entregar o que prometeram. Não vejo outra explicação", avalia.
Outro lado
Procurada, a Brasil Telecom limitou-se a informar que os casos mencionados na reportagem estão em análise pela empresa.
A GVT alega que houve uma inoperância de sistema interno no momento da solicitação de ativação da banda larga do cliente Sérgio Martins Egg, e se comprometeu a normalizar a solicitação ainda nesta semana.
"Após o primeiro contato do cliente com a Central de Atendimento para solucionar o problema foi gerada solicitação para a equipe de instalação efetivar o funcionamento da internet banda larga. No entanto, a equipe não conseguiu agendar a instalação junto ao cliente" diz uma nota da GVT.