Curitiba A América Latina Logística (ALL) e a Bunge estão negociando uma parceria que, se concretizada, permitirá a exportação de grãos geneticamente modificados pelo porto de Paranaguá e, conseqüentemente, poderá estimular o plantio de soja transgênica no estado. De acordo com a ALL, as empresas criaram a Paranaguá Grains Terminal (PGT) e estudam a viabilidade de construir um silo próprio fora do espaço público de embarque, em um terreno da concessionária. Ali, a soja transgênica seria rotulada e seguiria por dutos independentes até os navios.
Em 11 de agosto, o superintendente da Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), Eduardo Requião, havia anunciado a possibilidade de a iniciativa privada bancar um terminal para transgênicos, mas sem divulgar quais eram as empresas envolvidas. Na última terça-feira, ele teria discutido o assunto em reunião com a ALL, Bunge, Sociedade Cerealista Exportadora de Produtos Paranaenses (Soccepar) e operadores portuários. A ALL não deu mais detalhes sobre a parceria e, procurada pela reportagem, a Bunge não retornou as ligações.
A assessoria da Appa confirma que houve uma conversa e que "o porto está aberto a essa proposta e quer cumprir a lei". Hoje, o embarque é proibido pelo governo do Paraná, que alega que o porto não tem condições de segregar e rotular a soja transgênica. Mas, para cooperativas, produtores e exportadores, essa seria apenas uma desculpa para inibir o plantio de transgênicos no estado que foi definitivamente liberado após a aprovação da Lei de Biossegurança, em março.
O secretário de Agricultura, Orlando Pessuti, diz não acreditar que a eventual construção do novo terminal possa atrapalhar a pretensão do governo estadual de declarar o Paraná área livre de transgênicos. "O governo vai continuar defendendo o plantio da soja convencional e orgânica. Não há nenhum recuo de nossa parte", diz. "O terminal particular seria apenas uma oportunidade de resolver os problemas que o porto tem com o embarque dos transgênicos."
Pessuti diz que não há um levantamento sobre o tamanho da área que deverá ser plantada com soja transgênica este ano, mas informa que dados extra-oficiais sobre as vendas de sementes indicam que o índice não chegará a 10% da área total. Já a Federação da Agricultura do Estado do Paraná (Faep) estima que esse percentual será de, no mínimo, 15% e tende a crescer para 50% na safra seguinte, 2006/07.
Carlos Albuquerque, assessor da presidência da Faep, defende que não há necessidade de construção de um novo terminal exclusivo para transgênicos. "Há muito tempo o porto tem condições de segregar a soja transgênica e só não exporta por teimosia do governo. Hoje já existem pontos de embarque totalmente independentes, que permitiriam a segregação", diz. Para Albuquerque, liberar a exportação somente pelo novo terminal que teria capacidade para 80 mil toneladas provocaria filas e atrasos no embarque. "A partir da safra 2006/07, metade da produção de soja do estado será transgênica. Como embarcar 6 milhões de toneladas em um único local?", questiona.