A Vale contra Itabira
Numa cidade tão pequena e rica como Itabira (MG), berço da Companhia Vale do Rio Doce, a crise financeira ceifou um emprego a cada 74 habitantes nos últimos 12 meses. O cenário já foi pior, quando empresas iniciaram cortes que atingiram o pico de 2 mil trabalhadores.
Por muitos anos, Porto Velho ignorou o Rio Madeira, ruim para navegação nos trechos tomados por saltos e pedras. A capital de Rondônia cresceu em outra direção, tentando engolir a floresta. Hoje, o rio virou moda numa cidade que só recentemente ganhou prédios de 20 ou mais andares. O sonho das classes média e alta agora é morar com vista para o Madeira. Motivo da transformação: as obras das hidrelétricas no Rio Madeira.
Tocadas por grandes construtoras e grupos de energia, elas devem criar 13 mil empregos na construção. Inúmeras outras empresas e milhares de trabalhadores estão migrando para Porto Velho. Buscam seu quinhão na cidade que nos próximos anos deve ganhar mais 150 mil habitantes, segundo prevê a prefeitura, que espera arrecadar mais R$ 180 milhões com impostos em 2010. Dinheiro que a população quer ver revertido em saneamento, coleta de lixo, infraestrutura, educação e saúde.
A rede de esgoto não chega a 5% da cidade e pouco mais da metade dos moradores tem água tratada. A saúde de uma empresa, a monocultura que sustenta uma região, as obras de infraestrutura que finalmente chegam, o setor afetado pelas exportações, esses são principais fatores que traçaram a geografia do trabalho no Brasil em 2009. Explicam por que algumas cidades como Porto Velho se destacam na geração de empregos como também para tornar clara a dependência do município de Itabira (MG) à siderúrgica Vale do Rio Doce, a pior colocada no ranking.
Em São Paulo, diante de uma economia tão diversificada, as explicações são mais complexas. Apesar do saldo de 112.739 novos postos de trabalho nos últimos 12 meses, maior geração de empregos do país, a capital paulista cai para a 35.ª posição se for levada em conta a proporção de vagas criadas pelo tamanho da população. O campeão desse ranking é Porto Velho.
Na metrópole paulista, uma vaga com carteira assinada é criada para cada 97 moradores. Em Porto Velho, a razão é de um para 18.
Agreste cearense
Há pouco mais de uma década e meia, os moradores de Sobral (CE) e do Nordeste vibraram com a chegada da Grendene, indústria do ramo calçadista. Eles sabiam que serviriam de mão de obra barata que a empresa precisava para ganhar competitividade no mercado estrangeiro. Atraída com benefícios fiscais, a Grendene transferiu boa parte de sua produção de Farroupilha, no Rio Grande do Sul, para o Ceará incluindo sua matriz, que foi para Sobral. Hoje a empresa é a maior produtora de sandálias do Brasil. Quase a metade da população de Sobral trabalha para ela ou em atividades que giram em torno da companhia. São cerca de 24 mil trabalhadores.
Segundo dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), a cidade cearense teve um saldo acumulado de 8.677 novos empregos entre dezembro de 2008 e o mês passado. A cidade é a segunda colocada no ranking do emprego. As sete fábricas de Sobral são responsáveis por 87% da produção nacional da Grendene. Com a forte demanda e a perspectiva de novos lançamentos, a empresa estuda ampliar as suas unidades fabris, plano que só pretendia por em prática daqui a dois ou três anos.
Em Araucária, região metropolitana de Curitiba, o carro-chefe da economia é a Refinaria Presidente Getúlio Vargas, da Petrobras. Embora empregue pouco mais de 500 trabalhadores, ela é a razão de ser para mais de 200 outras indústrias, sobretudo dos setores agroindustrial e petroquímico. A proporção é de um emprego para cada 27 habitantes na cidade.
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