Cada vez mais as empresas se preocupam com as finanças pessoais dos seus funcionários, apesar de essa ser uma questão pessoal. A justificativa é o fato de que é impossível não misturar vida pessoal e trabalho. Problemas de saúde, relacionamento e dinheiro afetam o desempenho do profissional, que acaba sofrendo de estresse e ansiedade. Quando o assunto é finanças pessoais, a queda no rendimento é significativa. Pesquisa realizada nos EUA pela PricewaterhouseCoopers, em 2015, apontou que 37% dos funcionários utilizam pelo menos três horas de trabalho por semana para cuidar de questões financeiras pessoais.
Além disso, o endividamento de um funcionário pode gerar uma bola de neve que vai, em algum momento, atingir a empresa. É o que explica o diretor comercial da GGV Consultoria, Vinícius Morais. “O baixo rendimento do funcionário endividado reflete nos resultados da empresa. Talvez ela tenha prejuízos a ponto de não conseguir nem pagar o funcionário, terá que demitir pessoas. Com pessoas indo embora, ela produz menos e corre o risco de fechar”, afirma. Em resumo, trabalhador com conta no vermelho afeta diretamente o funcionamento da empresa. Morais afirma que, quando a pessoa está bem, em equilíbrio, o rendimento dela aumenta em até 80% e a produção no trabalho é mais inteligente.
A relação entre dívidas e carreira vai além do espaço de trabalho e dos resultados que um baixo rendimento pode trazer para a empresa. Segundo Mariciane Gemin, sócia consultora do Fesap Group, empresa de consultoria e recrutamento, o endividamento prejudica a carreira de desempregados e de pessoas que buscam mudar de emprego. Isso porque eles podem distorcer a procura por uma nova vaga, atribuindo uma importância exagerada à remuneração. “Num momento de transição, a pessoa pode tomar uma decisão que é muito mais voltada ao pacote de remuneração do que para a oportunidade. Verificar se a oportunidade é boa para a carreira dela fica em segundo plano. O problema é que, com o passar do tempo, ela organiza as contas e o emprego não instiga mais.” Nesses casos é preciso ficar atento, pois o risco de a pessoa se frustrar e ter baixo rendimento no trabalho volta a ser o mesmo de quando ela estava endividada.
Segundo especialistas, a dificuldade em sanar dívidas impede que o funcionário desenvolva competências como organização e planejamento, qualidades que não são aplicadas apenas no setor financeiro. Se, por exemplo, alguém almeja uma posição mais elevada ou quer colocar uma ideia em prática, mas não consegue nem organizar as finanças do dia a dia, dificilmente conseguirá tirar os projetos do papel. Além disso, o equilíbrio de uma vida organizada financeiramente melhora a tomada de decisões, evita comportamentos fraudulentos e promove bem-estar entre os colegas de trabalho.