Diretora Financeira da Itaipu Binacional, Margareth Groff enfrentou dificuldades para ascender a um cargo de gestão. Hoje, é uma das principais enstusiastas brasileiras do empoderamento feminino.| Foto: Alexandre Marchetti / Itaipu Binacional

Recém-chegada à Itaipu Binacional, no fim da década de 1980, Margareth Groff almejava um cargo na superintendência. Embora fosse uma profissional dedicada, a engenheira civil se sentia distante do lugar que buscava e o domínio dos homens sobre o mercado era intimidador.

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Mais de 20 anos depois, o universo do trabalho continua difícil para as mulheres. Mas, de lá para cá, várias empresas, como a Itaipu, passaram a desenvolver iniciativas de equidade de gênero, visando tornar o ambiente corporativo menos hostil e evitar que a responsabilidade de mãe e dona de casa, ainda atribuída integralmente à maioria das trabalhadoras por convenções e estereótipos sociais, seja empecilho para que elas construam uma trajetória bem-sucedida.

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Margareth deixou a Itaipu logo que engravidou, no início dos anos 1990. Voltou em 1999, para trabalhar no Fundo de Pensão. Em 2003, quando a empresa implantou uma política de fomento ao protagonismo feminino, participou ativamente dos espaços de formação de liderança, oferecidos à época, e foi uma das primeiras mulheres promovidas em 2006. Desde então, é Diretora Financeira da empresa e uma grande entusiasta da igualdade. “Minha mãe educou a mim e meus irmãos sem diferenças. Nunca me conformei com a injustiça que via”, conta.

Além de estar à frente da diretoria financeira da Itaipu, Groff viaja o Brasil dando palestras e levando o exemplo do programa da empresa, reconhecido pelas Nações Unidas. O projeto oferece horários móveis para que pais e mães possam acompanhar os filhos de perto quando necessário e espaços para discussões sobre empoderamento. A Itaipu também promove uma premiação anual conferida a companhias brasileiras engajadas na promoção da igualdade, o WEPs Brasil (sigla que, em inglês, significa Mulheres Empoderando Mulheres).

A porcentagem de gestoras da Itaipu Binacional, que, em 2003 ficava entre 8% e 10% subiu para 22% até 2010. E, para a diretora, ainda há muito a ser feito. “São processos demorados, trabalhosos, mas não podemos desistir”.

Mulheres ainda são minoria

Um estudo recente da Grant Thornton, uma das principais companhias de contabilidade independente do mundo, mostrou que, embora mulheres estejam em peso nas universidades e companhias, a média internacional de trabalhadoras em cargos de gestão é de apenas 24%. A Rússia lidera o ranking, com 45% . O Brasil tem 19%. A menor porcentagem é do Japão, de 7%.

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Para a presidente do Comitê de Mulheres Executivas da Câmara Americana de Comércio de Curitiba, Vera Regina Meinhard, os números refletem uma realidade que precisa ser superada. Para ela, que é também mestranda em gênero e mercado de trabalho, a transformação desse panorama deve estar ancorada em mudanças culturais que reconheçam a mulher e sua atuação nas empresas.

Segundo Vera, as mulheres historicamente mudaram, mas a mentalidade acerca dos papeis masculinos ainda é o mesmo. Isso sobrecarrega as trabalhadoras, que têm seu o sucesso comprometido. “Ainda hoje há homens que realizam trabalhos domésticos e pensam estar ajudando as esposas. Isso é um equívoco. Se eles também moram na casa, se trata de um justo compartilhamento de tarefas e não de mera ajuda”, ressalta.

Vera defende que o papel do homem no fomento do protagonismo feminino deve ser reforçado pelas companhias. “Aumentar a licença paternidade para possibilitar que os pais também participem da vida dos os filhos, oferecer palestras para funcionários e funcionárias sobre o assunto podem dar bons resultados”, orienta.

Promover condições é fundamental

Gerida por Luiza Trajano, uma das mais conhecidas líderes do Brasil, o Magazine Luiza tem 48% de mulheres em cargos de gestão. Além disso, a empresa possui maioria feminina: lá, colaboradoras são 51%. Os bons percentuais de equidade não se justificam apenas pelo perfil da empresa, que atua no varejo, setor com grande presença de mulheres.

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De acordo com a Diretora-Executiva de Gestão de Pessoas, Patrícia Pugas, um dos diferenciais da rede é o chamado cheque-mãe, auxílio fornecido a mães com crianças de até 10 anos. Além disso, a empresa toma cuidados, como o de escolher bem os espaços em que realiza capacitações de liderança, no intuito de facilitar que a trabalhadoras possam ir a todos. “Já que a mulher tem o mesmo trabalho do homem, que tenha também as mesmas condições de ascensão”, defende Patrícia.

Medalha de ouro no Prêmio WEPs Brasil 2016, a Renault Brasil é outra empresa com eficazes programas de equidade. Seus projetos abarcam licença maternidade estendida, espaços de aleitamento materno e promoção de palestras para homens e mulheres sobre igualdade. Segundo a Diretora de RH, Ana Paula Camargo, da implantação do programa, em 2012, até 2015, houve um aumento de 60% no número de gestoras na companhia. Para chegar a esse aumento, foi preciso estabelecer objetivos, partindo da porcentagem de alunas provenientes dos mais variados cursos universitários. “Se 20% dos estudantes de engenharia eram mulheres, nossa meta de contratação passaria por aí”, exemplifica a diretora. O próximo alvo da Renault Brasil é chegar a 20 % de mulheres no total geral de funcionários e 20% de gestoras. Hoje, os índices são de 13% e 16% respectivamente.

A igualdade é produtiva

Em fevereiro deste ano, uma pesquisa do Peterson Institute for International Economics, que avaliou 22 mil companhias, de 91 países, sugeriu que a presença de mulheres em cargos de gestão pode influenciar positivamente a lucratividade das empresas. Outro estudo, concluído em setembro do ano passado pelo McKinsey Global Institute, apontou que a erradicação da desigualdade de gênero no mundo dobraria até 2025 a contribuição das mulheres para o PIB do planeta.

A professora do ESAE/FGV, Melissa Antonychyn, que é especialista em gestão de pessoas, defende que a equidade é realmente benéfica às corporações, pois alimenta a formação de um ambiente de trabalho justo, transparente, engajado e muito mais produtivo. Especialistas também confirmam as vantagens desse tipo de mudança para a economia. Para o professor da Escola de Negócios da UniBrasil, Reginaldo Daniel da Silveira, a dificuldade que as mulheres enfrentam no mercado estão quase sempre relacionadas à falta de condinções igualitárias no mercado e empoderar trabalhadoras é um bom caminho para aquecer os negócios . “Não se pode haver uma cultura de desenvolvimento quando não se busca dar a mesma oportunidade a todas as pessoas”, justifica.

Investimentos em Curitiba

Embora amplamente discutida, a equidade de gênero ainda é pouco lembrada pela maioria das empresas na capital paranaense. É o que aponta uma pesquisa inédita da Câmara Americana de Comércio de Curitiba. Os dados mostram que 60% das organizações da cidade não investem na causa. Por outro lado, os benefícios de quem investe são claros. O mesmo levantamento mostra que 75% das empresas que se disseram engajadas consideram que os resultados dos investimentos são regulares e 40% já veem mudanças pontuais no ambiente corporativo.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]
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