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Ana Cecília teve a oportunidade de crescer e se tornar uma profissional promissora, mas pôs tudo a perder por não acreditar em sua própria capacidade. Há três anos, quando ainda era uma jovem inexperiente de 17 anos, ela conheceu João, um empresário distinto, de muito sucesso. Naquela época, a moça trabalhava como folguista da faxineira da empresa onde João era diretor. Certo dia, ele esbarrou nela no corredor do escritório e, como era um gestor bastante acessível e interessado em seus colaboradores, iniciou com a moça uma conversa agradável.

Ana Cecília, apesar de muito jovem e originária de uma família bastante humilde, era perspicaz, bem informada e prestativa. Por razões financeiras, não conseguiu terminar o ensino médio, mas demonstrava muita vontade de aprender e emanava curiosidade e ânimo em relação às coisas ao seu redor. Após a conversa, que se estendeu por quase uma hora, João lhe fez o convite para que tentasse uma vaga na função de auxiliar administrativa, cujo processo seletivo não analisaria sua experiência de trabalho, mas sim suas características comportamentais. Essa era a metodologia adotada por João, que sempre acreditou que as habilidades técnicas podem ser facilmente aprendidas e que, por essa razão, o que importa é a essência da pessoa, seus valores éticos e sua personalidade.

Na seqüência, Ana Cecília foi encaminhada ao Departamento de Recursos Humanos para ser avaliada e, após alguns testes e entrevistas, foi selecionada para a vaga. A jovem sentiu, naquele momento, que sua vida estava prestes a mudar e que seu futuro seria escrito, a partir daquele dia, de uma forma positiva e feliz. O que ela não sabia era que o gestor da empresa pensava da mesma forma e que havia apostado nela como quem aposta em uma filha. O diretor, assim como Ana Cecília, também provinha de uma família humilde e precisou lutar muito para chegar aonde estava. Por isso, identificou-se imediatamente com a jovem.

Atencioso, João destinou um colaborador para auxiliar Ana Cecília integralmente, que ensinaria a ela todos os procedimentos da área administrativa. A ele, João pediu paciência e deixou claro que queria direcionar a jovem profissionalmente, para que ela pudesse ter sua vida transformada. E assim foi feito. A empresa aumentou significativamente o salário de Ana Cecília, sem que ela tivesse tido tempo de merecê-lo, e apostou nela todas as fichas para que, em curtíssimo prazo, ela pudesse assumir um cargo efetivo e de maior decisão. Para isso, João fez questão que a jovem voltasse a estudar e flexibilizou os horários dela, frisando que o estudo era uma prioridade da organização.

Ana Cecília, muito satisfeita com o tratamento que vinha recebendo, esforçou-se para merecer tanto crédito. Porém, ao perceber que quando cometia algum erro ou atrasava-se demasiadamente para chegar ao trabalho era desculpada imediatamente, ela concluiu que João a protegia e que seu emprego estava garantido. Assim, seu rendimento começou a oscilar. Ora demonstrava empenho e organização, ora descaso e falta de comprometimento. E, como jamais era repreendida, começou a faltar com freqüência e a apresentar cada vez menos resultados.

Quando o tutor reclamou de seu desempenho para o diretor, ela foi chamada para uma conversa séria. Mas, ao justificar seu comportamento alegando problemas pessoais, viu João desabar psicologicamente e a voz dele, inicialmente enérgica, abrandar-se. Ao final da reunião, João lembrou-a de que ele havia apostado nela e que, por isso, iria dar-lhe outra chance para provar comprometimento. Porém, passado um mês após o episódio, Ana Cecília voltou a ser relapsa, esquecendo-se de executar determinadas obrigações e atrasando-se para o trabalho diariamente. Essa postura foi, novamente, comunicada a João, que estava agora em uma situação constrangedora. Sua proteção excessiva com a jovem começou a gerar descontentamento entre os demais colaboradores, que não gozavam das mesmas "mordomias" de Ana Cecília.

Em função disso, ao final do segundo ano de empresa a jovem foi demitida. João não conseguiu fazer, ele mesmo, o desligamento, pois se sentiu frustrado por não provocar na moça a vontade de lutar e prosperar. Ela, em contrapartida, deixou a organização com o sentimento de revolta. Disse a quem pôde que o diretor não era uma pessoa séria e que a desligou porque não queria investir em seus colaboradores. Hoje, Ana Cecília trabalha como folguista em um prédio residencial. Ganha metade do salário anterior e não tem perspectiva de crescimento.

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Espaço se conquista, não se ganha! Essa máxima é freqüentemente esquecida por colaboradores e gestores. Estes esperam dos primeiros empenho e dedicação, além de produtividade. Os trabalhadores, por sua vez, esperam dos superiores retorno por seu suor e reconhecimento. Até aí, não há novidade. Mas o que precisa ser avaliado é a vontade individual de crescer e prosperar. Nem todos têm gana, ou perfil, para sobressair no mercado, tão competitivo e dinâmico. Eis por que não basta ao gestor oferecer a oportunidade para o sucesso. É preciso, inevitavelmente, que o funcionário também deseje a mudança e abrace a oportunidade com paixão.

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SAIBA MAIS...

Oficina de Talentos

A ALL criou em 2005 a Oficina de Talentos, que já formou uma turma de 35 jovens em um curso de elétrica e mecânica básica. A esses jovens também são transmitidas informações sobre ferramentas da Qualidade, além de dicas para a composição do currículo e aulas sobre o comportamento esperado de um profissional no ambiente de trabalho. São selecionados estudantes de 16 a 18 anos da última série do ensino médio das escolas públicas próximas à empresa, que apresentam bom desempenho no colégio - com o objetivo de capacitá-los para o mercado. Com duração de seis meses, por enquanto o curso ocorre apenas na capital paranaense, onde atualmente a segunda turma do projeto assiste às aulas. Mas em setembro, outras turmas também serão formadas em Porto Alegre e na região de Rio Negro (PR) e Mafra (SC).

Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986

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