Dentro de três semanas, os brasileiros terão de decidir em uma votação popular se querem ou não proibir a venda de armas de fogo e munições em todo o território nacional. Irão às urnas pressionados por alguns números fortes:
* No ano passado, 39 mil pessoas foram mortas a tiros no Brasil. No Paraná foram 2.078 e, em Curitiba, 462.
* De 1998 a 2004, os gastos anuais do Sistema Único de Saúde com as vítimas de armas de fogo cresceram de R$ 11,4 milhões para R$ 18,5 milhões um aumento de 62%. De janeiro a julho deste ano, 11 mil pessoas foram internadas para tratar de ferimentos provocados por tiros, o que exigiu um dispêndio de R$ 11,6 milhões.
* Um terço das mortes de jovens entre 15 e 24 anos são provocadas por armas de fogo.
A quantidade de mortos é digna de uma guerra nos 92 dias do conflito bélico entre Argentina e Reino Unido pela posse das Ilhas Falklands, em 1982, a média de soldados mortos foi de 9 por dia, muito inferior aos 98 registrados cotidianamente no Brasil em 2004. E o número de armas em circulação (17 milhões ao todo, segundo estimativa da ONG Viva Rio, que é favorável à proibição) pode ser visto tanto como um fator a intensificar o medo quanto como um indicador de que os cidadãos estão se preparando para enfrentar a violência. As pessoas físicas brasileiras guardam em casa cerca de 4,4 milhões de armas legalizadas.
O lado negro da estatística está presente. Praticamente metade das armas existentes no país estão no mercado informal ou seja, não têm registro legal ou criminal (em posse de quadrilhas). A bandidagem tem em suas mãos algo como 3,8 milhões de revólveres, pistolas, garruchas, espingardas e fuzis. As polícias federal, militar e civil têm 721 mil, o que resulta em um balanço desigual: cinco unidades com os malandros para cada uma nos coldres dos policiais.
Para tentar reverter esses números, surgiu nos últimos anos um movimento que advoga o desarmamento para reduzir a violência. Campanhas pedindo a entrega voluntária de armas de fogo foram realizadas em todo o país, inclusive no Paraná.
Os grupos contrários à proposta argumentam que a medida será inócua porque não afetará os criminosos, que continuarão a adquirir no mercado negro armas roubadas de pessoas físicas e das Forças Armadas ou contrabandeadas. Para eles, o resultado será o desarmamento dos cidadãos honestos, que não poderão defender-se de ameaças à vida e ao patrimônio.
Nas matérias que seguem o leitor não encontrará uma tomada de posição, mas elementos para decidir com a sua consciência. E com a arma mais poderosa ao seu alcance: a informação.
Tiros no bolso
10,5% do PIBé o "custo da violência" gastos com tratamento de vítimadas do crime e recursos que deixaram de ser gerados em conseqüência da perda de pessoas em idade produtiva.
R$ 324 milhõespor ano é o valor que o governo deixará de arrecadar com a renovação dos registros de armas de fogo legalizadas. A taxa é obrigatória e deve ser paga a cada três anos.