Antes mesmo de poder estagiar pela faculdade, a jornalista Camila Faria encontrou em trabalhos como freelancer uma opção para sua vontade de exercer a profissão. Ao mesmo tempo em que atuava como professora de idiomas e redação foi descobrindo na internet e nos seus círculos pessoais os primeiros clientes de produção de conteúdo, como a mãe da amiga que tinha um site ou a professora de um curso que ia lançar um blog.
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No começo, ela, como milhares de outros profissionais, apostou em plataformas on-line — como a Crowd, a 99freelas e a Prolancer, que em dezembro passado foi incorporada ao Freelancer.com — para conseguir trabalho.
“Eu trabalho com edição de vídeo e captação de imagens e, como meu trabalho é todo no computador, consigo pegar trabalhos de vários lugares, inclusive de outros países”, conta Matheus Castilho, que foi buscar uma carreira como frila há um ano e meio para complementar a renda em meio à crise econômica.
E não foi só ele. Apenas em 2016, o site Freelancer.com, presente no mundo todo, cresceu 62,5% no Brasil, indo de 240 mil usuários, em 2015, para 390 mil no espaço de um ano. De acordo com o diretor internacional do portal, Sebastián Siseles, todos os dias são publicados por lá mais de oito mil novos projetos, em mais de 900 categorias e 21 moedas.
“Há três áreas ou especialidades que mais demandam no Brasil: desenvolvimento de software, desde a construção de um site até questões mais complexas; desenho gráfico, para projetos de logotipo, site ou infografia; e tradução”, conta Siseles.
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“No Freelancer.com, os usuários brasileiros geralmente são contratados por compatriotas, seguidos por usuários de países como EUA, Índia, Reino Unido e Austrália”.
Com um pé no jornalismo e outro na publicidade, Camila fez seu nome no mercado — tanto em Curitiba, sua cidade natal, quanto em Brasília, onde mora hoje — por meio da indicação de colegas, clientes e ex-clientes. “Com os jobs pontuais que eu achava nessas ferramentas [online], criava experiência e portfólio, e realizando um bom trabalho, era indicada para outros clientes”, explica.
Com muito papo e aprendendo cada vez mais, criou uma rede que possibilita que continue, seis anos depois, atuando como freelancer mesmo quando tem outro trabalho fixo. “Hoje, atuo majoritariamente como social media e estrategista digital, tenho alguns clientes fixos em Curitiba e Brasília e também trabalho em uma rede de freelancers de comunicação, a Casa10, em Brasília”, diz. “Sempre que surge um tempo extra ou me interesso por um novo projeto, encaixo na minha pauta”.
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Trabalhando com fotografia desde 2009, Eduardo Macarios conta que, até que firmasse seu nome no mercado, fez trabalhos relevantes, mas com remuneração mais baixa ou por permuta. Assim, conseguiu desenvolver seu próprio estilo e uma rede de contatos. “O trabalho vai evoluindo, os clientes veem mais valor nisso e eu consigo cobrar o que vale o meu trabalho”, afirma.
“Hoje meu público-alvo não está nessas plataformas online [que reúnem freelancers], então tenho que fazer a gestão de networking pessoalmente, visitando meus clientes, criando ações que chamem atenção e fujam um pouco daquela ligação inconveniente ou o e-mail que se perde”, explica o fotógrafo autônomo, que foca seu trabalho em retratos, editoriais e arquitetura.
Para o diretor internacional do Freelancer.com, um dos pontos mais importantes é que o profissional defina uma área em que possa se tornar especialista e, assim, se tornar referência para os clientes. “Na hora de escolher em qual categoria se especializar, o usuário deve fazer uma análise da situação do mercado, para obter melhor proveito da situação e, consequentemente, conseguir mais projetos”, aconselha, acrescentando que é preciso prestar atenção também aos valores correntes no mercado nacional e internacional.
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Uma das maiores vantagens do trabalho de freelancer —a autonomia sobre o seu próprio tempo —também pode ser um tiro no pé se o profissional não tiver organização suficiente para administrar a rotina e o volume de trabalho. É possível, por exemplo, escolher projetos que tragam mais motivação e desafios e realizar as tarefas nos horários que mais combinem com o seu estilo de vida.
“Eu mesmo decido quando tirar férias, posso ir no cinema às 15h durante a semana ou dormir até mais tarde. Se você consegue estar com tudo em dia e bem administrado, esses pequenos luxos são excelentes”, garante o fotógrafo. Trabalhando em período integral durante o dia, Castilho reserva a noite para cuidar de seus projetos paralelos. “Como eu gosto muito do que eu faço, acabo fazendo tudo o tempo todo. Mas como é algo prazeroso, que eu curto fazer, não é ruim”.
Macarios faz o contrário. Já que trabalha exclusivamente como autônomo, tem um escritório e não leva trabalho para casa. “Eu não ia aguentar muito tempo com tudo misturado. O trabalho fica no escritório e não tenho nem acesso às fotos em casa. Isso me força a ser produtivo no trabalho e me dá um tempo para relaxar em casa”.
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Outra questão é a organização financeira, que força os freelancers a colocarem um pé na contabilidade para garantir que tudo fique nos eixos. “Acho que o segredo é ser estratégico: vai ter momentos, especialmente em início de carreira, que vai valer a pena pegar um projeto fixo, ou mesmo que vai valer dividir o seu tempo entre um trabalho em escritório por 6 meses e frilas ou arranjos do gênero. Isso te permite montar o pé-de-meia pra poder arriscar em projetos legais mais curtos, por exemplo, ou que não paguem tanto mas que te permitam um crescimento profissional legal ou contatos importantes”, recomenda a jornalista.
Mantendo tudo em dia, nunca deixando de pensar no futuro e na importância de cultivar contatos profissionais, freelancers conseguem ajustar a agenda para que possam tirar férias ou realizar suas obrigações como “nômades” - viajando e trabalhando ao mesmo tempo.
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Gerente de suas próprias finanças e o publicitário de si mesmo, o frila precisa ser atento e curioso quanto às mudanças na sua área de atuação e às necessidades dos clientes. “Você tem que ser mais perfeccionista que o normal, tem que respeitar muito a questão do prazo, tem que fazer as pessoas lembrarem bem do seu trabalho”, opina Camila. Quando acontecerem erros, é ainda mais importante solucioná-los para não prejudicar a sua credibilidade.
“O trabalho freelancer não é para todos”, adverte Siseles. “Antes de tomar essa decisão, tenha em mente que exige muito planejamento e automotivação. Depende de você obter o próximo trabalho, trabalhando horas suficientes para pagar as suas próprias despesas médicas e incidentais, e buscar o crescimento profissional”. Porém, para quem busca independência e liberdade para desenvolver habilidades no seu próprio ritmo, esse pode ser o caminho mais rápido para a satisfação pessoal.
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Sete dicas para acertar o curso da sua carreira como freelancer
O diretor internacional do Freelancer.com, Sebastián Siseles, dá dicas para quem quer começar a atuar como freelancer:
1. Escolha a sua área de competência corretamente, um nicho que é valor único e adicione ao seu perfil.
2. Tente posicionar-se fortemente na sua área e não se expandir para todos os segmentos.
3. Coloque seus próprios padrões pessoais de trabalho, esforçando-se para estar sempre à frente e superar seus concorrentes.
4. Evite fazer parecer que a sua oferta é muito promissora ou boa demais para ser verdade. Não tenha medo de dizer “não” para projetos questionáveis.
5. Não se candidate para tudo. Seja seletivo. Como um profissional independente, sinta-se livre para escolher os seus clientes.
6. Conheça seu trabalho: familiarize-se com preços ou custos correntes para evitar que você seja enganado ou induzido a trabalhar por baixo custo.
7. Mantenha-se atualizado, fazendo cursos dentro da área de sua competência.