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Rui sempre quis fazer parte de uma organização não-governamental, pois tem valores éticos arraigados e senso de justiça marcante. Por isso, quando se formou em Administração, o jovem foi logo buscar vagas em ONGs com as quais se identificava. Sem muito esforço, Rui foi aceito em uma instituição bastante organizada e atuante, pois tinha o perfil comportamental apropriado e os conhecimentos técnicos necessários para o posto visado. Então, como sempre sonhara, ingressou como assistente em uma organização de atuação nacional, em prol dos direitos dos homossexuais.

Nessa ONG permaneceu por dois anos e chegou a receber uma diretoria importante, cujas responsabilidades eram administrar o orçamento geral da instituição e alavancar novos contatos e apoios para a causa. Nessa função, Rui foi exemplar, e a entidade conseguiu ainda mais destaque e visibilidade. O jovem sentiu-se pleno profissionalmente, pois havia conquistado o patamar desejado havia muito tempo. Porém, após assimilar todos os conhecimentos referentes ao seu cargo e setor de atuação, Rui sentiu necessidade de expandir seus horizontes e de aprender com novas experiências profissionais. Ele decidiu que precisava dar novo rumo à carreira, exercer outras funções, interagir com outros setores da sociedade.

Ao final de seu mandato como diretor, Rui escolheu três instituições das quais gostaria de fazer parte. Eram do setor educacional e todas buscavam um profissional para desenvolver projetos de investimentos privados. Rui identificou-se com a função, pois ele já executava algo semelhante na ONG. Então, decidiu enviar seu currículo para as três empresas. Titubeou um pouco ao redigir o documento, pois pensou que mencionar onde havia trabalhado nos últimos dois anos não iria beneficiá-lo. Afinal, uma empresa preconceituosa fecharia as portas para ele.

Mas uma instituição aberta e moderna valorizaria aquela experiência prévia. Chegou a perguntar a alguns amigos se deveria, ou não, colocar o nome da ONG no currículo. As opiniões foram divergentes. Alguns disseram que um país machista e preconceituoso como o Brasil jamais valorizaria um profissional que assumia sua orientação sexual daquela forma. Outros discordaram dizendo que a transparência era válida e que a experiência de administrar um orçamento significativo, em uma instituição renomada, era positiva - independentemente do setor de atuação. Rui manteve a dúvida por alguns dias e acabou decidindo pela autenticidade. Descreveu toda a sua experiência profissional no documento e enviou para as três instituições.

Alguns dias depois, não havia recebido retorno de nenhuma delas. Esperou mais algum tempo - e nada. Quando já havia se conformado por ter sido rejeitado, recebeu a ligação de uma das entidades, que gostaria de recebê-lo para uma entrevista. Rui compareceu ao encontro bastante nervoso. Ao chegar, foi encaminhado para uma sala de reuniões formal e sisuda. Em poucos minutos, entraram quatro senhores, todos de terno e com expressão séria, diretores da instituição. Após as apresentações, um deles fez logo a pergunta que Rui tanto temia: "Por que você decidiu colocar em seu currículo a sua experiência com uma organização a favor dos homossexuais?"

Rui respirou fundo e contou-lhes que, no início, teve receio de se expor, mas que decidiu, por fim, ser autêntico consigo mesmo. Ele lhes disse que jamais poderia ingressar em uma empresa, nem vestir a camisa dela, se precisasse abdicar de seus ideais, crenças e valores. E que a experiência obtida na ONG era extremamente válida. Por sua postura transparente, ao final da reunião Rui foi contratado, conquistando o emprego onde está até hoje. Ali ele dissemina entre seus subordinados que a melhor característica de um profissional de sucesso é a autenticidade. ***

É sempre difícil optar pela autenticidade quando não sabemos, ao certo, quais os aspectos que as organizações valorizam. Como a maioria dos profissionais quer – e precisa – ser aceita pelas empresas, acaba se escondendo e omitindo certas características pessoais. Mas é importante manter a autenticidade para conquistar o crescimento na carreira, mesmo que isso signifique escolher o caminho mais difícil. Ao final da trajetória, o profissional perceberá que optou pelo rumo certo. ***

SAIBA MAIS...Balé para crianças Em São Paulo, 60 crianças carentes amparadas pela União Brasileiro-Israelita do Bem-Estar Social (Unibes), com idade entre 7 e 9 anos, estão tendo a oportunidade de praticar balé. As aulas, iniciadas nos últimos meses, são patrocinadas pela Léo Madeiras, que também se encarregou de providenciar um piso especial, próprio para dança, para a sala utilizada. Divididas em quatro turmas, as crianças estão trabalhando por meio do balé a coordenação motora, a postura, o alongamento, a musicalidade, a conscientização corporal e a auto-estima. Este ano, 200 crianças se candidataram a participar das aulas. Em 2007, uma nova seleção será feita para o ingresso de novos alunos no balé.

Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986

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