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Brasil é o 2° em escassez de talentos

Riccardo Barberis, CEO da ManpowerGroup | Divulgação
Riccardo Barberis, CEO da ManpowerGroup (Foto: Divulgação)

Para conceituar um fenômeno que as empresas de todo o mundo vêm enfrentando nos últimos anos, a multinacional de recrutamento Manpowergroup criou a definição da Era do Potencial Humano, na qual a atração e valorização dos talentos se tornou a nova prioridade das empresas, e cresce como um novo indicador de crescimento econômico dos países. Mas e o Brasil? Onde se encontra nesse contexto? Segundo a pesquisa anual sobre escassez de talentos da Manpowergroup, o Brasil ocupa uma posição bastante incômoda: é o segundo colocado no ranking dos países que enfrentam mais dificuldades para preencher vagas no mercado de trabalho. O desempenho do Brasil só não é pior que o do Japão, que lidera a lista. "O grande ativo do Brasil, conquistado nos últimos 15 anos, é o número de carteiras assinadas, mas para crescer é preciso ir além do combate ao desemprego. O mercado precisa de profissionais com qualificação", afirma Riccardo Barberis, CEO da Manpowergroup.

Como resposta à escassez, as empresas estão recorrendo aos profissionais estrangeiros. Nos últimos cinco anos, o número de vistos de trabalho no Brasil dobrou. "Significa que as empresas estão tentando buscar uma solução. O governo também está pensando nisso e, de fato, é uma boa resposta de curto prazo que pode ajudar o Brasil a ganhar tempo. Porém, uma economia como a brasileira não pode ficar na dependência de talentos estrangeiros. No longo prazo, a solução precisa ser pensada de forma sistêmica por governo, empresas, universidades brasileiras", diz Barberis.

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Entrevista

Competências técnicas exigem mais atenção

Embora Brasil e Japão sejam casos mais agudos de falta de profissionais para preencher vagas, a falta de gente especializada é um fenômeno mundial. Nesta entrevista, o principal executivo da Manpower no Brasil fala das estratégias para enfrentar esse fenômeno.

A escassez é global?

Quando 34% dos empregadores do mundo falam que têm dificuldades para preencher as vagas abertas, significa que a escassez é um desafio estrutural no novo mercado de trabalho global. Isso, considerando que 2012 não foi um ano de grande crescimento econômico no mundo. Imagine toda essa dificuldade colocada dentro de um contexto de crescimento econômico com aumento das oportunidades de trabalho.

O que mudou na relação das empresas com os profissionais?

No passado, a empresa imaginava um tempo de aprendizagem para seus trabalhadores recém-contratados. Hoje esse tempo é cada vez mais curto, porque a empresa tem um foco grande no retorno do investimento feito no capital humano. De um lado as empresas têm vagas que não estão sendo preenchidas e do outro, infelizmente, muitas pessoas com baixa qualificação estão engrossando o porcentual de desemprego.

A demanda está concentrada em que setor?

Olhando as características das vagas no mercado brasileiro é preciso dar uma atenção maior às competências técnicas. Há a percepção no Brasil, como já ocorreu com os países da Europa por muito tempo, de que a escola técnica é considerada uma opção de segundo escalão. Considerando um mercado de trabalho bastante complexo, a escolha do caminho de estudo deveria ser mais conectada com as reais oportunidades do mercado.

Qual seria o grande desafio das empresas hoje?

Lidar com a Geração Y. Um dos aspectos é como atrair e reter esses profissionais, porque o vínculo que eles criam com a empresa é diferente do vínculo que foi criado na minha geração e na geração do meu pai. Eles só ficam em uma empresa quando têm a percepção de que estão aprendendo coisas novas e veem as companhias como uma oportunidade de crescer, não como um lugar para ficar a vida toda.

O que falta aos profissionais?

Não falamos apenas das competências técnicas, mas de outras habilidades. O talento, de que tanto tem se falado, é mais que competência técnica. É conhecer todas as áreas relevantes da empresa, ter capacidade de trabalhar em equipe e sob pressão. Flexibilidade para saber mudar o foco de um projeto de um dia pro outro, em função das necessidades da empresa e do mercado, que muda muito rapidamente.

Qual é papel dos líderes nesse contexto?

As pessoas entram numa empresa por causa da marca e pedem demissão por causa do chefe. O líder deveria ser a pessoa que sabe ouvir, juntar diferentes energias e criar o contexto para que as pessoas de uma equipe trabalhem com o mesmo foco. Estamos em uma época em que se você não sabe selecionar as informações realmente relevantes a tua equipe perde o caminho.

E o papel dos profissionais?

As empresas muitas vezes contratam por competência e depois são forçadas a desligar por comportamento. Isso significa que o contexto econômico imprevisível cria uma pressão nas companhias e profissionais – fazer mais com menos. Os planos são sempre de curto prazo, e as tarefas estão sempre mudando ao longo do mês, do trimestre ou do ano. O mercado precisa de profissionais versáteis que saibam lidar com esse contexto.

Riccardo Barberis, CEO da ManpowerGroup.

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