As mulheres brasileiras não querem mesmo ficar para trás, estão buscando novas titulações para se tornarem mais competitivas no mercado de trabalho. Elas que representam 54,6% da população - são maioria não só nas salas de aulas dos cursos de pós-graduação das universidades mas em todos os níveis de ensino. As conclusões foram divulgadas na publicação "Trajetória da Mulher na Educação Brasileira", lançada em 7 de março (véspera do Dia Internacional da Mulher), pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais (Inep) e pela Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres (SPM).
A participação feminina nos cursos de mestrado e doutorado das instituições de ensino superior tem crescido ano a ano. Em 1998, eram 20.622 mulheres freqüentando uma pós. Em 2003, o número saltou para 45.263, o que representa um crescimento de 119,4%. Já os homens, em 1998 eram 24.860 e em 2003, 51.247, um aumento de 106,1%.
Nas instituições de ensino superior de Curitiba o crescimento também é sentido. "A evolução da presença da mulher tem se dado em todos os níveis e em todas as turmas da Universidade. Em 1980, no curso de Engenharia Florestal, por exemplo, havia apenas duas mulheres. Hoje o perfil do curso é bastante diferente e equilibrado, 50% de homens e 50% de mulheres", conta o pró-reitor de Pesquisa e Pós-graduação da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Nivaldo Rizzi.
Também nas Faculdades Integradas do Brasil (Unibrasil), a cada ano a presença da mulher nos cursos de pós é maior. A participação feminina já é de 60%. "Isso se deve à busca das mulheres pela educação graduada e, quando esta não é suficiente, elas procuram fazer mestrado e doutorado para conseguirem uma melhor colocação no mercado. Além de ser maioria, elas são mais exigentes com a qualidade dos cursos. Querem saber detalhes sobre o corpo docente e a estrutura curricular", afirma a coordenadora de Pós-graduação, Pesquisa e Extensão, Roseli Rocha dos Santos.
Para a coordenadora de Pós-Graduação, Pesquisa e Extensão da UTP, Elizabeth Sbardelini, a participação feminina na educação é esperada. "É um reflexo do próprio desenvolvimento da sociedade e da afirmação da mulher nos mais diversos segmentos do mercado. Elas estão aproveitando as oportunidades e ocupando novos espaços".
Segundo Elizabeth, na UTP, nos cursos lato sensu (especialização), 71,4% são freqüentados por mulheres e 28,6% de homens. Também nos cursos stricto sensu (mestrado e doutorado) a presença feminina é marcante. Nos mestrados em Educação, elas representam 77,2%; em Comunicação e Linguagem, 58,4% e em Distúrbios da Comunicação, 94, 5%.
Presença no corpo docente
Outros dados da pesquisa mostram que a presença feminina cresceu não apenas nas salas de aulas como alunas, elas estão mais presentes no corpo docente das universidades, nos níveis mais elevados de titulação. Enquanto o número de docentes homens, de 1996 a 2003, cresceu 67,9%, o número de docentes mulheres aumentou em 102,2%.
Na UFPR, de acordo com Rizzi, o número de coordenadoras dos cursos vem aumentando. "Dos 46 programas que oferecemos, 19 deles estão sendo coordenados por mulheres. A concentração sempre foi maior nas áreas de Humanas e Biológicas, mas vemos crescimento nos cursos de Engenharia e Tecnologia", conta o pró-reitor.
Bolsistas
Dados deste ano da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) mostram que as mestrandas e doutorandas são maioria entre os bolsistas (54%). Entre os homens o percentual é de 46%. As mestrandas somam 54,4% e as doutorandas 53,7%. No corpo docente o predomínio ainda é masculino, sendo mais expressivo nas Engenharias e Ciências Agrárias, enquanto que a presença das mulheres é mais expressiva nas áreas de Lingüística/Letras/Artes e Ciências Humanas.
Possibilidades de avaliação
O estudo do Inep pretende servir como ponto de partida para mudanças na realidade educacional feminina. "Ele (o estudo) amplia as possibilidades de avaliação dos dados de maneira que possa intervir na educação e no seu conteúdo. Com isso, a escolaridade obtida pelas mulheres passa ter reflexo em outras de sua vida", afirma a ministra Nilcéa Freire, da SPM. Ainda segundo ela, a educação é necessária para que as mulheres tenham autonomia e obtenham novos espaços. Para Dirce Margarete Grosz, gerente de projetos da SPM, a presença feminina crescente é positiva e demonstra que a mulher está realmente procurando se qualificar. Porém, lembra ela, na hora da mulher participar da atividade profissional, ela percebe 30% a menos do salário que o homem recebe, realizando a mesma função. "Isso acontece por causa da discriminação contra a mulher já que o papel histórico e social dela era estar em casa e não no trabalho. O papel de estar na gerência, na direção, ou seja, nos cargos que envolvem espaço e poder, historicamente sempre foram atribuídos aos homens. A mulher ainda tem um longo caminho a percorrer para desfazer essa discriminação do poder e da desigualdade que existe entre os sexos", explica. Dirce afirma ainda que a própria Educação tem papel fundamental para discutir a transformação dessa realidade. "As escolas devem desfazer os conceitos constituídos em que perpetuam a desigualdade entre sexos. No entanto, as diferenças devem ser respeitadas".
Para saber mais sobre "Trajetória da Mulher na Educação Brasileira", acesse o site do Inep(www.inep.gov.br).
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