O mercado brasileiro vai ser o primeiro a receber o novo livro do autor do best-seller "O Monge e o Executivo", James Hunter. Seu terceiro livro, "De Volta ao Mosteiro" (Editora Sextante, R$ 24,90), é um retorno às origens que o consagraram como um "guru" da liderança no Brasil é aqui que está seu maior público leitor, que comprou 80% das 5 milhões de cópias que ele vendeu nos últimos 17 anos. Hunter esteve no país na semana passada para apresentar o novo livro, e visitou Curitiba. Em entrevista à Gazeta do Povo, o autor diz que, tantos anos depois do lançamento de "O Monge e o Executivo", aprendeu que a boa liderança precisa ser associada a uma boa cultura dentro das empresas. Para isso, é preciso investir na construção de um sentimento de comunidade, em que há apoio mútuo dentro das equipes.
Seu novo livro traz a questão sobre como colocar a liderança em prática. Por que é tão difícil para uma pessoa se tornar um líder diferente?
Porque nós temos muitos hábitos, alguns bons outros ruins. E não mudamos esses hábitos lendo um livro ou assistindo a palestras. Precisamos de rotina, de prática. Muitas pessoas pensam que liderança é uma questão intelectual, que lendo um livro será um líder melhor. Mas não se desenvolve liderança intelectualmente. Desenvolver a liderança é como ser um atleta, ou um músico. Você aprende a tocar um piano lendo um livro? Ninguém aprende a ser um líder melhor lendo livros. Infelizmente, a maioria das pessoas não quer trabalhar tão duro. A preguiça é uma grande barreira à liderança.
O senhor fala muito sobre o papel da inspiração. A maioria das pessoas gostaria de inspirar os outros. Esse não é um dom?
Eu acreditava que era um dom, mas não é. O que inspira as pessoas é perseguir a excelência, a abertura, ouvir o outro, o relacionamento. Quando a minha missão com você é fazer de você o melhor que eu puder, abraçar quando você precisa de um abraço, dar uma palmada quando precisa de uma palmada, isso inspira as pessoas. E aí quando eu preciso pedir para você dar o máximo, é claro que você faz. Por quê? Porque nós construímos um relacionamento juntos. Há confiança, nós nos conhecemos, você sabe que eu quero que você seja o melhor. Essa é uma visão de longo prazo que pode se chocar com as estratégias de curto prazo das empresas. Como combinar as duas coisas?
Você precisa fazer as duas coisas. O dilema é: como cumpro tarefas enquanto construo relações para o futuro? Se cumpro as tarefas sem ligar para os relacionamentos, no fim as relações vão sofrer ao ponto de as pessoas não escutarem mais. E há as pessoas que são 100% relacionamento, sem pensar na tarefa. É preciso encontrar o equilíbrio entre esses dois extremos, e isso é uma habilidade que você aprende. E assim o líder se torna um amortecedor entre seu time e os seus superiores?
Seu chefe quer resultados, e você terá de decidir como entregá-los. Você pode usar o poder, dizer "faça o que eu mando", ou você pode ser um líder servidor, capaz de escutar, de manter a equipe focada na excelência. Infelizmente, no Brasil a maioria decide usar o poder em vez de autoridade. Meu primeiro chefe, com quem eu trabalhei há 40 anos, não tem poder sobre mim, mas ele pode me ligar a qualquer momento para me pedir qualquer coisa. Ele tem grande autoridade sobre mim porque quando eu tinha 20 anos, ele foi um grande líder servidor. Muitos líderes reclamam da dificuldade em obter o compromisso de suas equipes. Como conseguir isso?
Há três perguntas universais que precisamos fazer. Posso confiar em você? Você está comprometido? Você se importa comigo? Líderes servidores se importam com as pessoas, isso é mais do que querer atingir resultados. Se eu chamo a atenção, dou uma palmada, é porque me importo, quero que você seja melhor. Quando você descobre que eu me importo dessa forma, você atravessa paredes por mim. Seu livro traz a ideia de se construir uma comunidade. Como isso funciona?
Uso o termo comunidade porque nós podemos estar juntos como um time ou como uma comunidade. E por comunidade entendo um grupo de pessoas que aprendeu a conviver, aprendeu a resolver conflitos, em vez de evitá-los, aprendeu a compartilhar, construir conexões emocionais, a não trair e não construir barreiras. Um time é mais poderoso quando cada um toma conta do outro, conversa sobre seus problemas, aprendem uns com os outros. Mudar a cultura parece mais difícil do que mudar o estilo de liderança.
É fácil, bastam 30 minutos por semana. É só chamar o grupo para um trabalho de construção de comunidade, pode ser colocando uma questão para cada um responder. Uma semana você pode pedir para eles contarem o dia mais difícil de suas vidas. Depois, para que contem o dia mais embaraçoso de usas vidas. Mas a cada semana você pode ir um pouco mais fundo, ouvir as histórias de vida de cada um. E com o tempo as pessoas vão dar mais apoio uns aos outros, porque elas passam a se conhecer.