No terreno altamente disputado dos concursos públicos, candidatos de formação superior estão usando os processos seletivos que exigem somente nível médio (e cujos salários são menores) como um "trampolim" para uma carreira no setor público. Depois de colocados, buscam um cargo de acordo com a própria formação (com salários maiores).
Mas especialistas alertam: a estratégia tem seus percalços. Embora a prova demande menos preparação, porque a quantidade de disciplinas para estudo é inferior, os cargos oferecem salário menor e o número de concorrentes nas provas é muito maior.
Para Fábio Gonçalves, diretor executivo do curso preparatório Academia do Concurso Público, a estratégia depende do caso.
"Até oriento a prestar um concurso de nível médio, como por exemplo o caso de um pai de família que está desempregado e precisa o mais rápido possível de um emprego", ressalta.
Entretanto, ele diz que em outros casos, em vez de usar os concursos de nível médio como trampolim, os concorrentes poderiam direcionar o tempo de estudo para um concurso de nível superior.
"(Quando) a pessoa tem tempo e como se sustentar, mesmo que precariamente, sugiro estudar para nível superior."
Foco no edital
Para Carlos Alberto De Lucca, coordenador do curso preparatório Siga Concursos, independente do nível de escolaridade, o candidato deve focar no que o edital pede.
E ele discorda que candidatos de nível superior tenham necessariamente mais chance de passar que os candidatos de nível médio.
"A quantidade de disciplinas previstas nos editais para nível médio é menor, mas as matérias são distintas e nem sempre o candidato de nível superior sabe resolver as questões de nível médio."
De acordo com o coordenador, o candidato deve pesar não o grau de dificuldade da prova, mas se o cargo e o salário são atrativos, se no órgão há plano de carreira e se ele quer realmente exercer a aquela função.
Estabilidade
Entre os motivos que levam os concurseiros a buscar cargos de escolaridade inferior está a estabilidade. Ex-administrador de empresas do setor privado e ex-proprietário de um negócio no ramo de jóias, Luiz Otávio Buhrer, de 32 anos, buscou uma vaga no Banco do Brasil para escriturário com o objetivo de fugir dos altos e baixos do setor privado.Depois de aprovado em concurso em maio do ano passado, Buhrer assumiu o cargo de escriturário, que paga salário de cerca de 1,2 mil. Ele trabalha na central de atendimento na Zona Sul de São Paulo desde janeiro deste ano. "Decidi recomeçar por baixo e optei por um concurso que não iria requerer grandes esforços", diz.
O funcionário público reconhece que ganha muito menos do que quando era administrador, mas se sente feliz pela estabilidade conquistada e a possibilidade de ter tempo para estudar, pois sua jornada é de seis horas por dia. "Não queria chegar aos 60 anos trabalhando 12, 14 horas por dia", diz.
Buhrer diz que pretende prestar outros concursos públicos na área fiscal, mas ao mesmo tempo se entusiasma com o plano de carreira do BB, os benefícios e a participação nos lucros semestral.
'Trampolim'
O carioca Rodrigo Guimarães, de 25 anos, é formado em publicidade e recentemente foi aprovado em um concurso de nível médio no Ministério do Trabalho, para o cargo de agente administrativo, com salário de R$ 1,8 mil.
Segundo ele, a opção pelo concurso de nível médio ocorreu porque em sua área de formação há pouca oferta de concursos. E ele decidiu estudar para cargos na área de direito.
"Acabei a faculdade, trabalhei com publicidade e vi que não era muito a minha praia. Agora penso em estudar para outro concurso de nível superior e aproveitar o que estudei na área de direito", diz.
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