As mulheres europeias que trabalham no campo da tecnologia estão muito familiarizadas com as preocupações expressas por suas colegas nos Estados Unidos — poucas meninas e jovens estudam ciência e tecnologia na escola, há desigualdade de gênero e assédio sexual no local de trabalho.
Mas elas dizem que os problemas ocorrem de maneiras diferentes. “Não temos uma cultura de clube do Bolinha, há mais tradicionalismo entre eles”, disse Anne-Marie Imafidon, cofundadora da Stemettes, organização britânica sem fins lucrativos destinada a incentivar as mulheres a investir em carreiras como ciência, engenharia, matemática e tecnologia — as chamadas carreiras STEM.
As diferenças de classe, segundo ela, desempenham um papel maior no Reino Unido, fazendo quem está de fora se sentir mais alienado do que nos Estados Unidos, mas “o resultado é o mesmo”.
Nos EUA, no ano passado (ou um pouco antes), uma acusação de assédio sexual e desigualdade de gênero em uma empresa importante mal estava encerrada quando outra apareceu.
As empresas americanas são as que estão em destaque: elas têm um alcance global, não só em razão de seu tamanho, mas também pelas formas como suas ações ressoam em todo o mundo.
E mesmo que as questões de gênero em outros lugares não cheguem às manchetes, as mulheres de ambos os lados do Atlântico apontam para problemas semelhantes — embora as disparidades políticas e culturais criem diferentes desafios e oportunidades.
Por exemplo, embora seja difícil aliar maternidade e trabalho, especialmente em áreas agressivas do mercado de tecnologia, a licença-maternidade remunerada e os cuidados infantis disponibilizados pelo Estado, disponíveis em muitos países europeus, facilitam a vida.
As dificuldades nos quatro cantos do globo
Karoli Hindriks, de 34 anos, da Estônia, começou sua primeira empresa quando tinha 16 anos. Aos 19 anos, falou perante o Parlamento Europeu sobre jovens empresárias. E ela não se considerava uma feminista.
“Eu pensei, se você for boa o suficiente, conseguirá o emprego”, disse ela. Então, foi abordada por um possível investidor. Escrevendo sobre o episódio em seu blog, afirmou que foi “a situação mais humilhante imaginável”.
Ela também disse que, quando estava se candidatando a um programa de aceleração para a empresa que ela atualmente dirige, a Jobbatical, disseram-lhe que deveria omitir o fato de que tinha um filho. A Jobbatical conecta empresas globais a candidatos em áreas de tecnologia, negócios e outros campos criativos.
“Eu era muito segura de mim quando jovem. Isso tudo está abrindo meus olhos”, disse ela.
Mas uma coisa que torna sua vida mais fácil é “que o Estado está apoiando a família fortemente”, disse Hindriks. “Temos uma licença maternidade e paternidade de 18 meses. A pré-escola não custa nada. Cuidar de uma criança não é um problema.”
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Geraldine Le Meur, de 45 anos, mudou-se de Paris para San Francisco há uma década para estar, como disse, “no centro de tudo. Este foi e é o lugar para se estar para quem é do mundo digital e tecnológico”.
Uma das maiores diferenças culturais que encontrou foi a surpresa das pessoas ao saberem que ela tinha três filhos, e ainda assim optava por trabalhar em tempo integral.
“Era quase chocante para todos que eu continuasse trabalhando em vez de ficar em casa com as crianças. Não seria o mesmo na França; não seria tão surpreendente”, disse Le Meur, que lançou o Refiners, um programa de arrecadação de fundos baseado em San Francisco para ajudar as startups de tecnologia estrangeiras a serem globais.
E ela também citou as diferenças na educação pública — na Europa a idade mínima para a creche é aos 3 anos e não aos 5, como nos Estados Unidos.
“Você sabe que as pessoas que cuidam de seus filhos enquanto trabalha são profissionais”, disse ela. “Vejo amigas aqui que têm crianças pequenas e que estão em conflito. Se você tem condições financeiras, não parece certo não cuidar você mesma delas. Meus filhos são a melhor parte da minha vida, mas não a única parte.”
Shira Kaplan, de 34 anos, que se mudou com seu marido de Israel para Zurique para trabalhar, descobriu que a mensagem sobre a combinação de maternidade e trabalho era muito diferente na Suíça do que em seu país natal.
Ela serviu na elite da unidade de inteligência de segurança cibernética no Exército israelense, mas quando ficou grávida de seu primeiro filho enquanto trabalhava em um banco suíço privado, disse que constantemente se perguntava: ‘Você vai voltar? Vai estar 100 por cento?’. “No final, reestruturaram minha equipe enquanto eu estava em licença-maternidade e esse foi um sinal muito forte”.
Ela então criou e agora gerencia a Cyverse, uma empresa que traz conhecimentos da cibersegurança israelense para a Europa. No entanto, mesmo que a indústria esteja cada vez mais ansiosa para mostrar a diversidade, trazendo mulheres — “nós somos a novidade” —, ela ainda se sente diferente, não apenas sobre ser uma mulher, mas uma jovem, disse ela.
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Vanessa Evers, professora de Ciência da Computação da Universidade de Twente, na Holanda, que era estudante visitante da Universidade de Stanford e que trabalhou no Boston Consulting Group em Londres, disse que os EUA oferecem mais modelos femininos em tecnologia e ciência do que seu país.
“Nos Estados Unidos, é mais fácil encontrar apoio”, disse Evers, especialista em interações entre seres humanos e computadores. “Eu tinha mentoras que estavam dispostas a permitir que eu estivesse lá para observar e acompanhar reuniões importantes. Aprendi muito apenas por estar lá. Não é tão comum aqui — há mais um sistema de classe, uma sensação de que ‘você não foi convidada’”.
Ela percebe uma “condescendência básica” com as mulheres em tecnologia. “Sinto que tenho que convencê-los de que conheço a tecnologia, e ficam surpresos quando isso acontece.”
Jean Bennington Sweeney, diretora de sustentabilidade e vice-presidente de responsabilidade social da 3M, agora está em Minnesota, na sede da empresa. Mas encontra-se frequentemente com colegas europeus e costumava trabalhar na Austrália e em Taiwan.
“O que vejo na Europa e nos Estados Unidos é muito encorajador para meninas em STEM. Não é onde precisa ser, mas vejo mais encorajamento nas escolas e mesmo nas famílias”, disse ela. Por meio de orientação e aulas, ela faz sua parte para atrair mais garotas para os campos de ciência, tecnologia, engenharia e matemática.
Na Ásia, em geral, “enquanto as coisas estão melhorando, os chefes ainda são homens mais velhos e podem estar menos dispostos a aceitar” mulheres jovens como engenheiras, disse Sweeney. “É mais como aconteceu há 20 ou 30 anos nos EUA.” E é uma mulher com mais meios financeiros que pode romper com maior facilidade a barreira de gênero, disse ela.
Em Singapura, mais e mais mulheres estão comandando empresas de tecnologia de sucesso ou startups, disse Jacqueline Poh, diretora-chefe da Agência de Tecnologia do Governo de Singapura, acrescentando que “uma proporção significativa” de altos executivos nas empresas de tecnologia do país é do sexo feminino.
Sweeney disse que todas as mulheres em todos os países também precisam se afastar da ideia de que “precisam ser superinteligentes para estar em ciência e engenharia. Não é apenas para os melhores e mais brilhantes. Meninos e homens assumem que, se são de 30% a 40% qualificados, seguem em frente. Meninas e mulheres sentem que precisam ser 80% qualificadas para tentar. Temos de deixar pra trás a ideia de que você precisa ser excepcional, não apenas bom. Acredite, os homens não são todos excepcionais”.
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Publicado por Vida Financeira e Emprego em Sexta, 27 de outubro de 2017
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