Apesar de estar em casa ou no escritório ao lado de um telefone fixo, quanta gente, por pura preguiça, faz a ligação do próprio celular? Especialistas dizem que até 30% das ligações de telefone móvel são feitas nessas circunstâncias e que muitas pessoas preferem pagar mais caro a procurar a agenda, catar um número e discá-lo no fixo, enquanto o celular faz isso rapidamente com dois comandos.
O inconveniente tende a acabar com a chegada dos telefones híbridos, celulares que num raio de 100 metros de casa ou do escritório passam a operar automaticamente através da rede fixa e a funcionar como um telefone comum sem fio, com tarifa e qualidade de uma ligação fixa.
A tecnologia já está em teste com 500 clientes da British Telecom e será lançada em larga escala na Grã-Bretanha em setembro. Por aqui, pelo menos duas operadoras que trabalham nas redes fixa e móvel vão lançar o serviço nos próximos meses, possivelmente com aparelhos Motorola.
A Brasil Telecom (BrT) diz que o pré-lançamento pode acontecer ainda neste ano e o Grupo Telemar, que controla a operadora Oi, afirma que o aparelho estará à venda antes do Natal. Juntas, as duas companhias atendem a todos os estados do país mais o Distrito Federal, com exceção de São Paulo.
- As ligações vão ser cursadas via rede fixa. O custo será igual ou muito similar ao da ligação gerada por um telefone fixo, mas com a vantagem de ser feita pelo celular e contar com a agenda e a praticidade dele - diz o presidente da Brasil Telecom GSM, Ricardo Sacramento.
O diretor de marketing da Telemar, Alberto Blanco, diz que o celular híbrido será vendido com preço similar ou inferior ao dos aparelhos de ponta disponíveis hoje no mercado.
Para ter um telefone híbrido, o usuário precisará de um celular com a tecnologia Bluetooth e de um aparelho do tamanho de um lap top, que ficará em casa ou no trabalho, chamado de ponto de acesso, ou "access point". No caso da BrT, o usuário precisará ter também acesso a banda larga ADSL, a conexão mais comum de internet rápida.
O ponto de acesso fará a conexão, sem fio, entre o celular, a linha fixa e/ou o computador, num total de até seis equipamentos. É ele que possibilitará a conversão, num raio de 100 metros, da ligação de celular numa de telefone fixo. Esse aparelho também possibilitará até três ligações simultâneas com a mesma linha. Segundo a BrT, ele deve chegar ao país por menos de US$ 100, mas o preço final da operadora ainda não foi anunciado.
O ponto de acesso estará ligado ao celular através da tecnologia de transmissão de dados sem fio Bluetooth, criada para eliminar cabos de curta distância e hoje amplamente usada em aparelhos sem fio como mouses, teclados e fones de celular. O Bluetooth nível dois, mais comum, tem alcance de dez metros. Os celulares híbridos terão Bluetooth nível 1, com alcance de 100 metros em campo livre.
Segundo Sacramento, quando entrar na área de cobertura, o celular emitirá um "bip" e passará a operar automaticamente pela rede fixa. Já o Grupo Telemar acrescenta que o aparelho detectará qual é o modo mais econômico para a chamada e fará a ligação como se fosse móvel ou fixo dependendo do caso, inclusive considerando os preços de diferentes planos.
Blanco, da Telemar, explica que os números dos telefones continuarão separados, mas que os clientes do grupo poderão receber uma só conta para a rede fixa (Telemar) e a móvel (Oi).
- Numa segunda fase do projeto, o cliente poderá, por exemplo, usar o celular em sua casa em Teresópolis como se fosse telefone fixo. Também planejamos unificar as caixas postais no futuro - conta Blanco.
O executivo diz que a tecnologia é segura e estará livre de interferências ou clonagens. No entanto, ele admite que a freqüência pode ser interrompida caso haja prédios ou obstáculos entre o usuário e o aparelho do ponto de acesso, "assim como qualquer tecnologia sem fio".
PREÇO
Os detalhes sobre o lançamento do telefone híbrido ainda são secretos em ambas as companhias, principalmente no que se refere a preço. O serviço ainda não tem nome oficial ou data exata de lançamento. A BrT informou que usará aparelhos celulares Motorola e pontos de acesso da Ericsson e anuncia negociações também com Inventel (ponto de acesso), Nokia e Samsung. No entanto, a empresa não divulgou quanto eles custarão, nem se os equipamentos serão vendidos separadamente ou em pacotes junto com o serviço.
A Oi diz que está negociando com mais de um fabricante para cada aparelho e diz que o telefone híbrido pode ser lançado com pacotes nos mesmos moldes de um plano, já comercializado pela operadora, que oferece ligações irrestritas de fixo para fixo e mil minutos para chamadas com celular por R$ 299 ao mês.
A BrT tem mais de dez milhões de clientes de telefonia fixa, mais de 1,5 milhão de telefonia móvel e atende a região 2, que compreende as regiões Sul, Centro-Oeste e os estados do Acre, Rondônia e Tocantins, além do Distrito Federal. A Oi atende a 15 milhões de clientes em telefonia fixa e cerca de oito milhões em telefonia móvel na região 1, que abrange 16 estados do Norte, Nordeste e Sudeste.
LANÇAMENTO EM ESCALA MUNDIAL
As duas companhias brasileiras tinham marcado o lançamento do telefone híbrido para este terceiro trimestre de 2005 e acabaram adiando o projeto. O Grupo Telemar diz ter tido atraso com um fornecedor chinês.
Já a BrT está esperando a British Telecom fazer o lançamento definitivo da tecnologia para pegar carona na experiência da operadora britânica e fazer os ajustes finais com a Ericsson. A BrT também fará um pré-lançamento com 500 clientes, talvez ainda neste ano. O lançamento em larga escala acontecerá aproximadamente três meses depois.
Junto com outras quatro operadoras, a BrT e a British Telecom são co-fundadoras da Aliança de Convergência Fixo-Móvel (FMCA, na sigla em inglês), uma associação internacional criada em julho do ano passado para o desenvolvimento das tecnologias de convergência fixo-móvel. Pouco mais de um ano depois, 18 companhias, com quase meio bilhão de clientes, estão listadas no site da aliança. Os membros da aliança fazem reuniões trimestrais em que são anunciadas as novidades e o cronograma da convergência fixo-móvel. A próxima acontecerá dias 1 e 2 de setembro, na Coréia do Sul.