Caíto Maia e seus óculos: planejamento de abrir 200 pontos de venda no exterior em cinco anos| Foto: Daniel Derevecki/Gazeta do Povo

Entrevista com o proprietário da Chilli Beans Caíto Maia

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Foi nas praias da Califórnia, há cerca de 15 anos, que o hoje empresário Caíto Maia percebeu uma tendência que um dia lhe seria muito lucrativa – embora ele ainda não soubesse disso na época. Lá, ele notou que os jovens compravam muitos óculos de vários estilos e os usavam como acessórios – um para cada dia. Voltando ao Brasil, ele trouxe alguns e começou a vender para os amigos. De lá para cá, ocorreu o que ele chama de "crescimento natural" em seus negócios. Hoje, a marca Chilli Beans, criada por ele, conta com 220 pontos de venda no Brasil e no exterior.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Maia falou sobre como aproveitou uma idéia, uma tendência, para desenvolver um negócio bem-sucedido, mesmo sem formação específica na área ou um planejamento detalhado desde o início. Fazer o básico – "o feijão-com-arroz", para ele – foi o que fez a diferença.

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Os consumidores brasileiros se habituaram ao conceito de comprar não apenas um, mas vários óculos?

Sim, mas precisaram de um respaldo para isso acontecer. Nós lançamos dez modelos por semana, então, esse conceito de você entrar na loja sempre se baseia nisso. Se eu lanço dez modelos por ano, você não vai se interessar. E depois vem o preço: nós vendemos óculos com uma qualidade absurda por R$ 98. Essa junção de fatores fez com que o consumidor brasileiro encarasse o produto não como "o óculos", mas sim como "um dos meus óculos".

Como foi o começo dos negócios?

Eu comecei vendendo óculos para os amigos, depois montei um atacado que cresceu muito. Eu vendia para várias marcas importantes, como Fórum, Zoomp, Carmim e outras. Por falta de capital de giro eu quebrei. Nesse momento eu criei a Chilli Beans e a desenvolvi no Mercado Mundo Mix [evento anual que lança novas marcas e talentos em moda e arte], que foi a melhor escola de varejo que podia ter. Lá eu aprendi a importância de marca. A partir do momento em que você levanta sua marca as pessoas ficam muito atentas a isso. Aí eu tive uma oportunidade no Shopping Villa Lobos em São Paulo, onde eu pude abrir um quiosque, que tinha como característica o posicionamento da marca no meio do corredor, que funcionou pra caramba. A partir daí a coisa começou a crescer muito.

Como foi a transição entre o momento em que você vendia para os amigos e a profissionalização?

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Para ser honesto, pelo fato de eu não ter feito uma faculdade, a técnica sempre fez falta. Mas a brincadeira era simples e objetiva. Eu vendia para pessoa física, amigos. Aí uma hora eu fui fazer uma graça com pessoa jurídica. Quando eu recebi o primeiro pedido, senti a necessidade de abrir uma empresa. Foi nesse momento que eu constituí uma empresa para vender em maior escala.

Como você passou a trabalhar com franquias?

Eu acredito muito em crescimentos naturais e não artificiais. Claro que, na situação atual, a gente tem que criar planejamentos e objetivos. Mas as coisas foram se ajustando. Não é que eu pensei em vender franquia. Depois que abri o quiosque no Shopping Villa Lobos, as pessoas começaram a bater na minha porta e falar que queriam comprar uma franquia. Naquele momento, ou eu falava não, ou entrava na onda. Isso foi formatando a operação. Quando precisei fazer um contrato de franquia, eu já sabia muita coisa. Acho que a prática me ajudou muito a profissionalizar a empresa.

Quais os próximos passos da empresa?

Os relógios que nós vendemos são todos fabricados na China, mas montados na Zona Franca de Manaus. Existe um projeto para a gente juntar toda essa fabricação aqui no Brasil. Outro passo é dobrar a rede nos próximos cinco anos. Nosso objetivo é ter 500 pontos de venda, 200 deles fora do Brasil. A idéia é continuar com um crescimento muito bacana que já está acontecendo na América Central, na América do Sul e em Dubai – onde a gente abre a loja agora no final do ano. Estamos nos posicionando para entrar no mercado europeu e no mercado americano. Temos um sonho de ser a primeira marca brasileira de moda a se globalizar realmente no mundo inteiro.

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Você é jovem e extremamente bem sucedido. Quais qualidades você destaca em si próprio que permitiram esse sucesso?

Muita clareza, muita honestidade na hora de fazer qualquer tipo de negócio e muito respeito pelas pessoas. Estamos voltando agora de Porto Alegre. Visitei todas as lojas aqui da Região Sul. Podia estar no meu sítio agora, mas estou muito feliz em estar aqui. Na verdade eu aproveitei uma onda. Percebi o momento em que o óculos estava começando a ser tratado como um acessório. A gente ajudou isso acontecer. Aproveitei essa oportunidade, mas não me acho grande coisa. Acho que fiz o "feijão-com-arroz". Há muito projetos por aí, muito legais, mas que as pessoas não fazem o básico para dar certo.

O que é o básico?

Uma política administrativa e financeira muito bem feita. É você pegar as lojas de Curitiba, por exemplo, vir pra cá, ver o que está acontecendo. Ir ao ponto de venda e falar com vendedor. Dessa forma as pessoas chegam perto de mim, não como um patrão, mas como um parceiro e me contam tudo. Esse contato não pode ser perdido.