Quem está em busca de um emprego precisa olhar com atenção para as cidades do interior do país. São esses municípios que, mesmo em meio à crise econômica, estão conseguindo gerar novas oportunidades de trabalho.
As cidades do interior demoraram mais para sentir os efeitos da crise e começar a demitir. Agora, mostram uma recuperação mais rápida do emprego formal. Enquanto a maioria das capitais ainda está demitindo – apenas três contrataram mais do que demitiram em 2017: Goiânia, Boa Vista e Cuiabá – os municípios do interior lideram a criação de vagas no acumulado do ano no país.
Das 20 cidades que mais geraram empregos no acumulado de janeiro a maio deste ano, 19 estão no interior, especialmente da região Centro-Sul. Com 2.413 vagas criadas, Goiânia é a única capital nesse grupo, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), do Ministério do Trabalho e Emprego.
O estado de São Paulo tem seis cidades na lista das 20 maiores geradoras de emprego, incluindo Franca, a campeã nacional até maio. Com cerca de 345 mil habitantes, o município gerou 6.203 novas vagas, 83% delas criadas pela indústria da transformação, especialmente pelo setor calçadista, responsável por 4.710 novos postos de trabalho com carteira assinada.
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Assim como Franca, outros dez municípios dos 20 que mais contrataram tiveram o saldo positivo puxado pela indústria da transformação. É o caso Santa Cruz do Sul (RS), Venâncio Aires (RS), Nova Serrana (MG), Joinville (SC), Blumenau (SC), Juazeiro (BA), Goianésia (GO), Pontal (SP), Vista Alegre do Alto (SP) e Birigui (SP).
Já o bom desempenho de outras cinco cidades da lista das Top 20 do emprego – Vacaria (RS), Cristalina (GO), Mogi Guaçu (SP) Bebedouro (SP) e Patrocínio (MG) – está diretamente ligado ao resultados vindos do campo, com destaque para a agroindústria.
Goiânia e Rio Verde, em Goiás, e as cidades de Cascavel e Maringá, no Paraná, aparecem na lista das grandes geradoras de emprego graças a criação de vagas mais equilibrada em diferentes setores como indústria, construção civil, comércio e serviços.
No mapa interiorano do emprego, esses 20 municípios abriram, juntos, 54,6 mil novos postos de trabalho. Quase 60% das vagas foram criadas pela indústria da transformação, seguida pelas oportunidades geradas pela agricultura (21%) e pelo setor de serviços (16%).
No geral, contudo, o cenário do mercado de trabalho está longe de ser positivo. Apesar de um leve recuo no trimestre encerrado em abril, 13,7 milhões de brasileiros ainda engrossavam a fila do desemprego no resultado de maio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (Pnad) Contínua, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística.
“Seria desejável que o setor terciário começasse a reagir porque a recuperação do emprego depende desse segmento, que ainda está reticente em investir em função do consumo interno baixo”, afirma Julio Suzuki Júnior, diretor-presidente do Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico e Social (Ipardes).
Dois municípios paranaenses - Cascavel e Maringá - ficaram entre as 20 cidades do país que mais abriram vagas no acumulado de 2017 no país, segundo o Caged. Nos dois casos, o bom desempenho na criação de vagas esteve mais diluído entre pelo menos quatro setores. Enquanto Cascavel criou empregos na indústria, construção civil, serviços e administração pública, Maringá abriu vagas na indústria, construção civil, comércio e serviços.
Olhando apenas os números do Paraná, nove dos dez municípios que mais contrataram estão no interior do estado – e apenas três deles têm mais de 100 mil habitantes. Na maioria deles, o agronegócio monopolizou a criação de empregos. É o caso de Palotina, no Oeste do estado. Em março deste ano, reportagem da Gazeta citou o exemplo de uma cooperativa do município que estava selecionando mais de mil trabalhadores para atuar na agroindústria.
Isso comprova a boa condição do mercado de trabalho em locais em que o agronegócio vai muito bem, sobretudo, a agroindústria paranaense, avalia Suzuki, do Ipardes. Ele lembra, contudo, que o efeito positivo desse setor no mercado de trabalho tende a diminui nos próximos trimestres.
“A agropecuária e a agroindústria não dependem exclusivamente da demanda interna, ao contrário dos grandes centros urbanos onde há uma predominância de comércio e serviços que dependem basicamente consumo interno, ainda em baixa. Esse também é o caso da indústria mais vinculada ao consumo doméstico, que segue em dificuldades”, afirma Suzuki.
A capital Curitiba, por sua vez, fechou 626 postos de trabalho no acumulado do ano, o segundo pior desempenho do estado, atrás apenas de Guaratuba, no Litoral, que registrou 666 demissões. Em maio, Curitiba liderou as demissões no Paraná.
“Na economia de Curitiba, predomina o comércio e os serviços que dependem do consumo local. Londrina é outro exemplo de município com essa característica que ainda está demitido”, diz Suzuki.
No acumulado do ano, o Paraná tem saldo positivo de 25.182 mil vagas, o quarto melhor desempenho, atrás apenas de São Paulo (58.762), Minas Gerais (46.583) e Goiás (30.534). Depois, aparecem Santa Catarina (22.729), Mato Grosso (10.644), Rio Grande do Sul (8.568) e Espírito Santo (5.520).