"Inadequado para menores 18 anos." Essa frase está estampada em grande parte dos jogos eletrônicos mais vendidos do momento. Títulos como F.E.A.R., Battlefield 2, Half Life 2, Max Payne, Doom 3 e Grand Theft Auto III definitivamente não foram desenvolvidos para o público infanto-juvenil. Por outro lado, são eles que respondem por grande parte das vendas desses games. A própria série The Sims, sucesso absoluto no mercado mundial, recebeu do Ministério da Justiça que possui departamentos responsáveis por classificar conteúdos de filmes, shows e jogos indicação para maiores de 16 anos, devido a sua "temática adulta". Nem por isso, crianças de 11 ou 12 anos deixam de entreter-se com a intrincada tarefa de "administrar vidas", principal objetivo do Sims.
Vale ressaltar que a maioria dos games citados acima são garantia de diversão para adultos. Gráficos excelentes, bom grau de jogabilidade e roteiros melhores do que muitas superproduções hollywoodianas estão presentes em todos eles. A questão é que o grau de realismo da violência e de situações eróticas não os tornam apropriados para crianças. A classificação indicativa do Ministério da Justiça veio, portanto, auxiliar pais e educadores na árdua tarefa de definir o que é ou não saudável para quem não atingiu a maturidade.
De acordo com reportagem de João Paulo Pimentel, da GAzeta do Povo desta segunda-feira, o problema está no fato de que, muitas vezes, o selo restritivo aguça a curiosidade e faz dos jogos "proibidos" objetos de desejo de crianças e adolescentes. Esse fenômeno foi constatado em um levantamento feito na Inglaterra pela Associação Britânica dos Editores de Softwares de Entretenimento e Lazer (Elspa), organização responsável pela classificação indicativa de games em grande parte da Europa. O diretor da Modulum, empresa encarregada da pesquisa, o suíço Jurgen Freund, diz que as classificações não significam praticamente nada no mercado. Freund apresentou uma conclusão ainda mais preocupante, pois o selo que indica a faixa etária para maiores de 18 anos, ironicamente, funciona mais como elemento promocional do que um alerta aos jovens. "A técnica da proibição não resulta em nada. Nessa fase, o que é proibido é melhor", ensina a psicopedagoga da Universidade Federal do Paraná (UFPR), Vanessa Lüders, especialista na relação dos jovens com a tecnologia. Segundo a professora, cabe aos pais participar e, eventualmente, verificar com o que o filho se diverte no PC ou no videogame sempre às claras, avisando e orientando a criança.
De acordo com o especialista em pesquisas Freund, o puxão de orelhas deve ser mesmo direcionado aos pais. "Na maior parte dos casos, os pais se sentem despreparados para julgar o conteúdo dos jogos. Eles se preocupam apenas com o tempo que os filhos passam na frente do videogame", frisa. Sean Dromgoole, presidente da distribuidora GameVision, diz que um estudo feito por sua empresa mostra que os pais, muitas vezes, não fazem a menor idéia dos temas abordados nos jogos eletrônicos. "Sou otimista, no entanto. À medida que a geração de gamers for envelhecendo e tendo filhos, esse fenômeno deixará de existir", conclui.
O engenheiro João Francisco Schimanski poderia fazer parte da estatística européia. Ao voltar de uma viagem aos Estados Unidos, no ano passado, ele trouxe o jogo Grand Theft Auto III para o filho de 12 anos, Fabrício. "Perguntei na loja qual era o jogo de maior sucesso e o vendedor me mostrou o GTA", conta Schimanski. O pai diz que o filho "adorou" o presente, já que na época, todos os seus colegas comentavam quão radical era o game. Só para lembrar, a série GTA talvez seja uma das mais polêmicas da história dos videogames desenvolvido pela britânica Rockstar North. Ao mesmo tempo em que acumulava prêmios de "Jogo do Ano", em 1997, 1999 e 2002, os games GTA horrorizavam quem não entendia (ou não queria entender) o humor negro por trás da violência gratuita e das cenas de sexo que estigmatizaram a marca. Hoje, Schimanski diz que percebeu a inadequação do título para a faixa etária de Fabrício. "Não proíbo, mas procuro acompanhar", afirma o engenheiro.
Lan housesMas não é só em casa que games impróprios podem ser acessados. O jogo adorado por todo e qualquer freqüentador de lan houses é o shooter Counter Strike, cuja classificação é para maiores de 18 anos. Leis municipais, em São Paulo, por exemplo, já existem para que esses estabelecimentos obedeçam à indicação do Ministério da Justiça. Em Curitiba, uma portaria foi baixada há dois anos pela 1ª Vara da Infância e Juventude limitando a idade mínima nas lan houses em 12 anos. Menores de 16, de acordo com o entendimento da juíza Lídia Munhoz Mattos Guedes, só poderiam permanecer no local até as 22 horas. Cabe ao poder público e ao bom senso dos pais, portanto, guiar o passo a passo das crianças e adolescentes na diversão eletrônica.
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