A empreendedora Shirley Gomes da Silva, de 49 anos, começou vendendo cueca virada e agora sua loja produz cerca de 60 marmitas por dia e tem lucro líquido de R$ 4,5 mil| Foto: Antonio Costa/Gazeta do Povo

Mutirão formaliza empreendedores

A menos de dois meses do fim do ano, as agências do Sebrae de todo o país estão mobilizadas para alcançar a meta de um milhão de microempreendedores individuais formalizados. O programa, lançado em agosto de 2009 pelo governo federal para estimular a regularização de trabalhadores informais, ganha essa semana mais um reforço. Até sexta-feira, técnicos do Sebrae farão mutirões em lugares movimentados de várias cidades para explicar as vantagens do programa e ajudar os interessados a conseguirem seu CNPJ. No Paraná, os mutirões serão em Cascavel e Maringá.

A figura jurídica do "empreendedor individual" permite que o trabalhador se formalize por conta própria, pela internet. É preciso consultar o site para saber se a atividade exercida está enquadrada no programa. Advogados, dentistas e jornalistas, por exemplo, não estão incluídos. Mas cabeleireiros, pipoqueiros e até vendedores de porta em porta podem se formalizar. Atualmente, existem 400 atividades listadas e outras 40 devem ser aprovadas até o fim do ano. Ao aderirem ao programa, esses profissionais passam a pagar uma taxa fixa mensal de 11% do salário mínimo mais R$ 1 de ICMS ou R$ 5 de ISS. É necessário comprovar renda bruta de até R$ 36 mil. Em 15 meses, o Sebrae conseguiu formalizar 703.516 empreendedores – ou 70% da meta de 1 milhão.

No Paraná, a média de formalização, que era de 113 empreendedores individuais por dia, saltou para 260 formalizações diárias nos últimos dois meses. Se mantida essa média, o estado chegará até o fim do ano com 53.177 em­­preen­­dedores individuais. De acordo com dados do Sebrae e Dieese, existem cerca de 500 mil empreendedores informais no Paraná.

Da redação, com agências

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Com capital de giro inicial de R$ 14,50, a vendedora Shirley Go­­mes da Silva, 49 anos, começou seu negócio vendendo cueca virada perto de casa, no Boqueirão. Numa das vendas, recebeu uma reclamação. "Quero comer comida", disse um cliente. "Com o dinheiro que eu tinha, a única coisa que dava para fazer era frango com polenta", lembra Sirlei. Foi assim durante quase um ano quando, em julho passado, ela tomou uma decisão que transformou sua loja, a Quen­­tinhas da Shirley: endividou-se.

O primeiro empréstimo foi de R$ 860, para a compra de um fogão industrial. "Fiquei com muito medo de não conseguir pagar, mas com o aumento no número de marmitas também aumentei meu lucro." Depois do fogão, Sirlei fez uso do microcrédito mais duas vezes, uma no valor de R$ 980, para a compra de um novo forno, e uma terceira, de R$ 2,4 mil, para uma máquina de assar frango. "Hoje tiro R$ 4,5 mil por mês limpo e quero crescer", diz a empreendedora, que hoje faz cerca de 60 marmitas por dia, com direito a salada e sobremesa.

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A história de Shirley é um exemplo de como o microcrédito, quando bem planejado, pode transformar os pequenos negócios. Um evento dentro da Semana Global do Empreende­­dorismo, que começou na segunda-feira em mais de 120 países e conta com atividades em várias cidades do Paraná, quer mostrar que o caso da Quentinhas da Shirley não é isolado. Com o apoio da Juriti Microfinanças, a Caravana de Negócios para o Microempreendedor Individual contará com teatro de rua e postos de informação sobre a tomada de empréstimos. Até domingo, o evento passará por São José dos Pinhais, Curitiba e Pinhais.

"O pequeno empreendedor ainda tem dificuldade em conseguir empréstimos porque os grandes bancos não têm muito interesse nesse perfil", diz Diether Werninghaus, presidente da Juriti, que oferece crédito de R$ 200 a R $ 20 mil e conta com mais de 2,5 mil clientes. Segundo o empresário, pelo menos 70% deles são informais.

Potencializar o lucro

O coordenador de acesso a serviços financeiros do Sebrae-PR, Flavio Locatelli Jr., diz que crédito pode potencializar o lucro das empresas, mas é preciso planejamento. "Crédito é igual remédio. Tem que ser na dose certa." Para avaliar quando o endividamento vale a pena, a entidade conta com o apoio da figura do agente de crédito. "Essa pessoa vai fazer uma avaliação junto ao microempresário sobre qual é a melhor opção. Há várias perguntas a serem feitas antes da tomada de um empréstimo. Será que o investimento vai gerar lucro para pagar as parcelas? Qual linha de crédito traz mais benefícios? Esse tipo de pergunta precisa ser analisada", afirma.

Segundo Locatelli Jr., um dos maiores desafios do Sebrae é conscientizar o microempresário a separar as contas da empresa das particulares. "Isso é comum no público de microcrédito: pagar uma despesa familiar a partir do caixa da empresa. É essencial separar essas contas, até para avaliar se um empréstimo é realmente necessário, e não apenas questão de falha na gestão do fluxo de caixa."

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Garantia

Outro problema enfrentado pelos microempresários é a falta de garantia na tomada de crédito. Para facilitar esse processo, o Sebrae iniciou um programa chamado Sociedade de Garantia de Crédito (SGC). Com um fundo inicial de R$ 4 milhões, o SGC fará a ponte entre empresas e instituições financeiras durante a operação de empréstimo. "O que acontece hoje quando um banco ou uma financeira faz um empréstimo é que eles pegam um bem em garantia. Geralmente é um imóvel, ou a própria máquina que está sendo financiada. Nessa operação, há todo um processo jurídico envolvido e, claro, contabilizado no custo do empréstimo. O diferencial do SCG é que a garantia é líquida, então o custo do crédito também deve ser menor", diz o coordenador do Sebrae. No início, serão três unidades no estado, mas há planos para que hajam outras. Os da região Oeste, com sede em Toledo, e Sudoeste, com sede em Francisco Beltrão, devem entrar em operação até o fim deste ano. A SCG do Noroeste, em Maringá, abre as portas no início do ano que vem.

Serviço:

A programação completa da Semana Global do Empreendedorismo pode ser vista em http://www.semanaglobal.org.br/