Ninguém quer cometer um erro na hora de uma contratação, e isso não tem só a ver com encargos trabalhistas. Porém, uma pesquisa elaborada pelo site CareerBuilder em 2016 consultou 2,3 mil gerentes de recursos humanos e descobriu que 75% deles já contrataram a pessoa errada para uma posição.
Mas como descobrir que o profissional contratado foi uma má escolha? Segundo os especialistas, dificilmente é algum problema de conhecimento técnico que indica o erro; já que as seleções costumam focar justamente nestas habilidades. O calcanhar de Aquiles de um profissional qualificado geralmente é a inadequação à cultura da empresa.
Nessa hora, entram na conta fatores como a postura, o tipo de comunicação e o estilo de tomada de decisão do profissional. Nem sempre isso é culpa exclusivamente do contratado. “Cada tipo de processo e vaga vai pedir uma característica do profissional, então é muito importante que a empresa se conheça. As empresas contratam errado por desconhecer a sua própria cultura”, explica o gerente da consultoria de recrutamento Michael Page, Thiago Gaudêncio.
Uma startup, por exemplo, com ambiente informal e descontraído, pode estar precisando de um especialista em logística. A empresa vai buscar alguém extremamente experiente, com um background em grandes companhias tradicionais. Mas é preciso ter certeza de que o contratado sabe onde está pisando e que está apto a adotar essa mudança de comportamento para se alinhar aquilo que está no DNA da contratante.
O que fazer quando a pessoa errada foi contratada
Uma vez que essa escolha errada é detectada, a situação tem que ser resolvida o mais rápido possível. Se, após uma avaliação, é constatado que aquele profissional não se encaixa na empresa, é preciso dar início ao processo de desligamento. “Quanto mais tempo a pessoa fica, maior é o desgaste da equipe”, diz Arnaes.
É essencial que exista sempre muita transparência em todo o processo, inclusive no desligamento. “É importante dizer por que aquilo não deu certo, onde estava a diferença de visão, de comportamento ou de cultura para que isso fique claro”, ressalta Guadêncio. “Se a companhia precisa do Super Homem, não adianta contratar o Homem de Ferro. Ele é a pessoa errada naquela posição e pode ser bom, mas ele nunca vai ser bom para aquilo que você precisa”.
Contratar errado custa caro
Ainda que não seja possível estimar um valor em dinheiro sobre quanto custa uma contratação errada (já que isso varia muito de acordo com o cargo), ela pode atrapalhar até um ano de planejamento, segundo Thiago Gaudência, da Michael Page.
“Estatisticamente, uma vaga é preenchida entre 70 e 90 dias. Em seguida, até a pessoa se adaptar, especialmente numa posição gerencial, são mais 45 dias”, enumera. Se a empresa, por algum motivo, chegar à conclusão de que aquele profissional não é adequado para aquela cadeira, é mais um mês até a demissão.
Começa então um novo processo seletivo que vai culminar no período de adaptação – ou seja, são mais quatro meses e meio para encontrar um novo profissional. “Uma contratação errada custa muito caro”, resume.
E isso levando em consideração apenas o tempo e investimento gastos especificamente com o contratado, sem contar o impacto na equipe e no ambiente de trabalho. Um novo profissional provavelmente precisará ser treinado por um colega para que entenda como funcionam os sistemas internos, o que toma tempo de alguém que deveria estar executando suas próprias tarefas. “Quando a contratação dá certo, isso é um investimento. Mas, quando dá errado, é custo”, aponta o gerente sênior de recrutamento da Robert Half, Caio Arnaes.
Existe, ainda, o impacto desse erro na moral da equipe. Geralmente, explica Arnaes, um profissional vai ser contratado para resolver um problema. Caso essa pessoa não se encaixe na organização e saia sem que aquele problema seja resolvido, pode passar a impressão que o problema não tem solução.
Todo cuidado é pouco no processo seletivo
Uma seleção mais longa, com mais entrevistas e com a participação de diferentes membros da equipe é uma das melhores garantias de uma contratação certeira. Assim, são testadas mais variáveis e as dúvidas diminuem. A escolha não vai necessariamente ser unanimidade, mas as pessoas que vão estar envolvidas com aquele profissional dentro da companhia devem estar seguras para bater o martelo.
“Os recrutadores devem procurar referências dos profissionais em diferentes organizações e em diferentes momentos da carreira. Isso é a garantia que aquele comportamento que a organização espera é replicável e constante”, aponta Thiago Gaudêncio.
Como esse momento é de aposta para todos os envolvidos e nenhum profissional quer ser admitido só para ser demitido seis meses depois, os candidatos também devem tomar alguns cuidados. Ele deve se certificar que conhece a situação da empresa, que se identifica com a cultura e que não está sendo alvo de promessas que não podem ser cumpridas. “É preciso que haja um alinhamento das expectativas da pessoa que está sendo contratada”, explica o especialista da Robert Half.