Nos últimos anos, a cidade de Maringá, no Noroeste do Paraná, se tornou destino de muitos profissionais qualificados, especialmente na área de tecnologia. Com pouco mais de 400 mil habitantes, o município já conta com 400 empresas de desenvolvimento de softwares e cerca de 4 mil profissionais de TI, números que fazem de Maringá a segunda cidade com maior número de empresas com certificações de qualidade em tecnologia, atrás apenas de São Paulo.
Mas o que fez com que a cidade se tornasse um polo de atração de gente qualificada no setor de TI? A resposta está na união de empresários da área, poder público e instituições de ensino que, juntos, buscaram ações para fortalecer o segmento e atrair novos profissionais e empresas para a região. E o esforço deu resultado.
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De acordo com dados da Software By Maringá, entidade de classe que reúne empresas e profissionais, em 2012 o faturamento bruto das empresas de TI da região era de R$ 83 milhões. Quatro anos depois, em 2016, o valor saltou para R$ 610 milhões. O aumento, segundo a entidade, foi resultado do crescimento das empresas que já atuavam em Maringá, mas também da vinda de novas companhias para a cidade.
“Faz toda a diferença quando conseguimos reunir e juntos expormos as dificuldades, divergências e pensarmos ações conjuntas que beneficiem a todos”, afirma o diretor de Inovação Tecnológica da Secretaria de Inovação Desenvolvimento Econômico da cidade, Franz Wagner Dal Belo.
Um olho no presente, outro no futuro
Organizados há mais de 10 anos por meio do Arranjo Produtivo Local, os empresários do setor de TI têm planos até 2047, quando a cidade completa 100 anos. Definidos pelo Sebrae, os APLs consistem em conglomerados de empresas em um mesmo território, que apresentam especialização produtiva e buscam, em conjunto, soluções para inovação e desenvolvimento das empresas e profissionais locais.
Entre os desafios a serem superados até 2047, dois se destacam: a internacionalização das empresas da cidade, aumentando a atuação nos mercados globais, e a criação de um espaço físico que reúna as companhias, o que ajudaria, por exemplo, no acesso a linhas de créditos especiais que existem para parques tecnológicos.
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A negociação deste espaço, que inclui a escolha do terreno para a instalação, já está acontecendo junto com a Prefeitura de Maringá e os empresários esperam que ainda este ano esta questão seja solucionada. “As empresas estão isoladas em salas e prédios comerciais. Com a junção em um espaço físico poderemos trabalhar ainda mais na ampliação do setor”, afirma Ilson Rezende, presidente do Conselho de Desenvolvimento Econômico de Maringá e CEO da DB1 Global Software.
A DB1 apareceu novamente entre as 20 melhores médias empresas para se trabalhar em 2017 no Paraná, de acordo com o ranking do Instituto Great Place to Work (GPTW). A busca por projetos desafiadores e a possibilidade de desenvolvimento de carreira são apontados como o principais motivo de retenção na empresa.
A união entre os empresários também foi imprescindível para o desenvolvimento da DB1. Quando o setor começou a se organizar, em 2006, a empresa tinha cerca de 40 colaboradores. No final de 2017, já eram mais de 250. “Começamos a dividir as dificuldades com outros empresários e com isso todas as empresas se fortaleceram”, diz Rezende.
A Software by Maringá, criada após o APL, em 2007, conta com mais de 100 associados entre empresas, startups e profissionais autônomos interessados em fazer parte do movimento. De acordo com a presidente, Rafaela Campos, a entidade atua como facilitadora de conexões e de amadurecimento profissional.
“É um ecossistema que se retroalimenta. As empresas crescem, os profissionais se capacitam e oferecem mão de obra qualificada, a cidade se desenvolve e se torna mais atrativa para novas empresas”, afirma. Entre os cursos de capacitação oferecidos pela Software by Maringá aos associados estão os de certificação MPS.BR e CMMI, além de cursos com foco em gestão empresarial e de projetos.
A Tecnospeed, empresa maringaense de desenvolvimento de softwares B2B, também aparece no ranking GPTW como a melhor empresa de pequeno porte para se trabalhar no Paraná e segunda melhor de TI do Brasil. Atualmente com 85 funcionários (em 2016 eram 50), a empresa apresentou, nos últimos cinco anos, um crescimento de 35% ao ano.
Segundo o diretor-executivo Erike Almeida, para fazer frente a grandes empresas e conseguir selecionar e, principalmente, reter os talentos, foram estipuladas ações para criar um ambiente de pertencimento para os funcionários, como a gestão transparente e participação dos colaboradores nas tomadas de decisão da empresa, além de investir na capacitação de seus funcionários.
Para Almeida, a associação dos empresários do setor ajudou a tornar Maringá atrativa para novas empresas e profissionais. “Nos unimos para tornar as empresas mais competitivas. Evidenciar que Maringá é um polo tecnológico atrai os clientes e muitas portas para novos negócios se abrem. As empresas ganharam mais visibilidade”, avalia.
Cidade atrai profissionais de fora
Maringá é uma cidade que se destaca pelos altos índices de qualidade de vida. Em 2017, ficou no topo da lista das 100 melhores grandes cidades feita pela consultoria Macroplan. O ranking considera indicadores de saúde, segurança, educação e cultura e saneamento e sustentabilidade.
Atraídos não apenas pelas oportunidades de emprego e desenvolvimento de carreira, profissionais de TI de todo Brasil têm desembarcado na cidade em busca também de uma vida mais tranquila. Foi o que aconteceu com Régis Ranniere, desenvolvedor de software sênior da DB1 que atua no segmento há mais de 10 anos.
Ranniere trabalhava em uma empresa de Atibaia, interior de São Paulo, que contratou os serviços da DB1 e o enviou para Maringá para acompanhar de perto o desenvolvimento do projeto. Acabou se apaixonando pela cidade, onde ficou por cerca de um ano. Ele chegou a voltar para São Paulo, desta vez na capital, onde trabalhou para uma fintech. Foi quando sua namorada, que morava em Maringá, engravidou. E também quando surgiu a oportunidade de trabalhar na DB1.
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“Tive de decidir se levava minha família para São Paulo e seguia aquela vida conturbada de um grande centro ou arriscava vir para Maringá. A qualidade de vida em Maringá foi decisiva neste momento”, conta.
Mesmo sendo também um pólo de formação destes profissionais, onde, segundo a Software By Maringá, existem 1.600 alunos em graduação presencial, 5 mil em graduação à distância e outros 1.200 cursando pós graduação em tecnologia, há uma demanda cada vez maior por profissionais que força as empresas a, muitas vezes, extrapolar os limites do município para contratar. Só na DB1, 70% dos funcionários são de outras cidades.
A DB1 e a Tecnospeed também têm investido em contratações de pessoas para trabalharem em home office. “Com isso conseguimos contratar pessoas que não estão na cidade, mas que trabalham para Maringá”, afirma Almeida. Atualmente, a Tecnospeed está com 7 vagas abertas e a DB1 com 30.
Celeiro de novas startups
Em agosto de 2017, a Prefeitura de Maringá lançou o primeiro edital de fomento à inovação tecnológica visando trazer novas startups à cidade. Este foi o primeiro edital do tipo no Brasil. Em São Paulo, há algo parecido com o Pitch Gov, mas lá o objetivo é fortalecer startups que já existam.
“Nos inspiramos na experiência do estado de São Paulo, mas nosso foco é fomentar o surgimento de novas empresas e profissionais na área”, afirma Dal Belo.
Neste primeiro edital, encerrado em novembro, a Prefeitura buscou soluções para seis demandas que envolviam o Procon e as secretarias da Mulher, Educação, Saúde, Inovação e Desenvolvimento Econômico e Cultura. Os projetos inscritos atenderam apenas as demandas do Procon e das secretarias de Saúde e Educação. Neste momento, o produto em fase mais avançada é o do Procon, que já foi apresentado e deve entrar agora na fase de testes. Dal Belo acredita que em até seis meses os munícipes já estarão utilizando o novo sistema, que deve oferecer serviços online para os moradores, agilizando a solução dos problemas da população.
As inscrições do edital eram presenciais, segundo Dal Belo até como uma estratégia para estimular que profissionais maringaenses apresentassem os projetos. “Isso diminui o número de projetos apresentados, mas é uma maneira de fortalecer nossas academias e os profissionais que surgem aqui”, afirma o diretor.
Para 2018, a Prefeitura deve lançar novos editais para startups, um já em março e outro em agosto. Por enquanto, as inscrições devem seguir sendo presenciais, segundo Dal Belo.
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