No trabalho, um colega te obriga a cumprir tarefas que não são suas. Vez ou outra, te faz até sentir culpa por algo que você não fez e coloca mil dúvidas na sua cabeça. Se situações como estas são comuns no seu cotidiano profissional, fique atento: você pode estar vítima de um manipulador.
Segundo especialistas, relações assim acontecem com frequência nas empresas e são altamente prejudiciais à vida profissional de qualquer pessoa. Em um artigo para a revista norte-americana Pysichology Today, o escritor Preston Ni enumera as quatro principais características dos manipuladores e defende que a influência mental por meio de distorções e exploração emocional para obter poder, controle e privilégios às custas da vítima pode ser evitada.
Quem são eles?
O primeiro traço dos manipuladores mencionado pelo autor é o potencial para detectar a fraqueza alheia. Uma vez capazes de fazer esta análise, eles desenvolvem artifícios para usar suas percepções contra os outros. Um terceiro aspecto comum entre esses profissionais é a perspicácia que eles têm para fazer com que a outra pessoa desista de algo que quer em prol de um projeto deles. Por fim, Preston chama atenção para a repetição das ocorrências de abuso: o sujeito só vai parar de fazer o indivíduo de fantoche quando receber um basta do colega, o que nem sempre acontece rapidamente.
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Outra descrição interessante de um profissional manipulador é a da psiquiatra americana Abigail Brenner. Na visão dela, o abusador entende que manipular o outro é uma ação inevitável e imprescindível, já que só consegue enxergar a si e as próprias demandas.
A especialista acrescenta que eles não hesitam em ser invasivos, ultrapassando fronteiras emocionais, espirituais e profissionais das pessoas com as quais convivem. O manipulador também costumar culpar você pelas falhas deles. Muitas vezes, a vítima acaba acreditando mesmo que está errada e, quando não assume o problema, passa um bom tempo se martirizando.
Cuidado com os “queridinhos”!
Se enquanto lê esta matéria, você imagina o manipulador como um sujeito sisudo e austero como a Miranda Priestly, de “O diabo veste Prada”, é bom começar a rever isso. Abigail menciona que o manipulador pode ser muito simpático e usar essa simpatia toda como arma para obter a atenção e a credibilidade que deseja.
Mas tem como saber logo de cara o que é empatia real e o que é simpatia forjada? Para a psiquiatra, sim. Por exemplo, como o manipulador ama alimentar um ambiente de intriga, discussão e desarmonia, costuma falar mal dos colegas pelas costas. Por isso, os fofoqueiros são as pessoas para as quais você precisa olhar primeiro, segundo a especialista.
Ken Sundheim,CEO da consultoria americana Kasplacement faz uma ressalva que também ajuda na identificação do sujeito que manipula. Ele explica que manipulação não é o mesmo que persuasão. Esta corresponde a um mecanismo saudável de tentar obter do outro a posição ou ação desejada em determinadas situações.
Não é errado alguém persuadir você a fazer algo ou pensar de alguma forma. Tudo vai depender da maneira como isso acontece. É importante apenas se perguntar: a conversa aconteceu de uma forma honesta ou abusiva?
A gerente de negócios da consultoria De Bernt, Renata Perrone, lembra que o manipulador não é facilmente identificado porque nunca expõe diretamente suas intenções. “Ele tira uma informação do colega, envolve as pessoas pelas beiradas e de repente usa aquele dado para dar o bote”, brinca. Nesse sentido, é fundamental observar ao máximo o que acontece ao seu redor e conhecer em que âmbitos atuam os manipuladores.
Três perfis de manipulação
A coach e consultora de carreira Cristina Bresser divide os manipuladores em três tipos. O primeiro é o humilde, que te elogia o tempo todo dizendo que seu trabalho é melhor do que o dele para que, no fim das contas, você faça tudo. O segundo é a vítima, um sujeito ressentido que coloca a culpa dos seus fracassos em todo mundo. Ele não aceita críticas e vai sempre expor o colega como o vilão de qualquer debate. O último perfil é o perverso, aquele que rouba ideias, abusa do poder que tem e faz tudo para a crescer – avançando sobre as pessoas como um trator, doa a quem doer.
Em todos os casos, o sujeito fala e reage às situações no trabalho de maneira desonesta seja mediante discursos pretensiosos ou ações práticas de ataque. “Eles não estão interessados em você como pessoa, mas como um meio de obter algum controle, de modo que você participe de seus planos mesmo relutante”, explica Abigail.
O ideal, na visão de Cristina é que o manipulador seja desmascarado e, quem sabe, até demitido. Que as empresas tenham políticas de RH transparentes, pesquisas anônimas entre os funcionários, atividades de treinamento e análise de perfil dos líderes que impeçam o nascimento do clima hostil que os manipuladores tanto fomentam. Mas nem todas as companhias estão focadas nisso.
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A coach lembra que, em boa parte das vezes, a empresa prefere não demitir o funcionário manipulador porque em decorrência de seu perfil sagaz e astucioso, ele tende a dar muito lucro para a companhia. No curto prazo, esses ganhos podem até ser vantajosos, mas no longo prazo o prejuízo com a perda de produtividade por conta de casos de assédio moral sempre de sobrepõe. “Mal pensam eles que lá na frente o preço disso será muito mais alto”, diz.
Não fique vulnerável
E o que você, como funcionário, pode fazer diante desta situação? Ken Sundheim defende que o caminho passa por se fortalecer, conhecer a si mesmo e trabalhar a autoconfiança. Para o especialista, o manipulador foca em um perfil específico: pessoas inseguras e que buscam a aprovação dos outros a todo tempo. É exatamente por isso que ele consegue fazer os colegas abrirem mão das próprias propostas, realizar tarefas que não são de responsabilidade deles e até se culparem pelo que não fizeram. Nesse sentido, tente se blindar o quanto puder.
Comece buscando um senso de propósito em tudo o que você faz. Esse cuidado ajuda a reforçar a sua segurança no trabalho e te deixa menos vulnerável a argumentos manipuladores. “Ninguém pode te manipular sem a sua permissão”, escreve o escritor e consultor Isaiah Hankel em um artigo para o LinkedIn. Quando se é mais assertivo, é mais fácil dizer “não” a propostas abusivas. Também fica mais simples identificar quando seu colega está passando dos limites.
Junte todas as evidências
Para fugir da culpa e descartar a possibilidade de o problema ter a ver com você e não com uma possível manipulação do colega, é bom ter em mente quais são os seus direitos . Preston Ni enumera os principais deles: você tem o direito de ser tratado com respeito, de expressar seu sentimentos, de estabelecer suas prioridades, de dizer “não” sem culpa, de receber o pagamento devido pela tarefa que executou, de ter opiniões diferentes das dos outros, além de se proteger físico, emocional e mentalmente.
Ao avaliar estes tópicos e identificar que tem vivido situações de abuso, a orientação dos especialistas é que você recorra ao setor de recursos humanos da empresa, com provas concretas da manipulação sofrida, caso perceba que um diálogo franco com o colega não foi suficiente para solucionar o problema. “É comum que o abuso pare quando a pessoa se impõe, mas se isso não acontecer, é bom falar com o setor responsável”, diz Cristina.
Mas antes de recorrer ao RH, documente tudo o que tiver a ver com a pessoa em questão. E-mails, registros em papel. Não deixe nada nas entrelinhas. “Colha provas, todas que puder, de que aquela pessoa realmente está jogando contra. Começou a perceber esta personalidade em algum colega, observe com cuidado e junte evidências”, orienta Renata.
Se, no fim, a empresa não tomar nenhuma atitude, pense seriamente na possibilidade de pedir demissão. Cristina lembra que quando a cultura da organização não está pautada no respeito, construir uma carreira ali não é nenhum pouco saudável – e não te levará muito longe.
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