O empresário Marcelo Alves foi o único brasileiro a completar a World Marathon Challenge, uma das mais importantes provas extremas do mundo. Foram sete maratonas, em sete dias consecutivos, nos sete continentes. Ao fim da competição, os 48 participantes se encontraram em um café da manhã.
Os principais assuntos da mesa poderiam ser os medos, as inseguranças, o que cada um deveria ter feito e não fez. Mas Marcelo garante que a conversa era outra. Na celebração de despedida, atletas de países e culturas muito distintas só falavam em uma coisa: seus próximos projetos. “Percebi que esse era o segredo dos campeões: olhar para frente e ter um objetivo bem delimitado”, lembra o maratonista.
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Há três anos, Marcelo leva experiências como essa a empresas dos mais variados setores por meio de palestras de motivação. E um de seus maiores desafios é mostrar que é possível manter o otimismo em períodos de dificuldade e crise econômica - como a que o mundo vive agora.
“Há pessoas que se movimentam pelo simples medo de perder, mas as que se mantém mais motivadas trabalham na esperança de ganhar”
Na visão dele, saber aonde se quer chegar é o primeiro passo para percorrer longas distâncias e superar qualquer obstáculo. Segundo o palestrante, o foco faz com que as pessoas identifiquem mais facilmente suas fraquezas e busquem o melhor preparo possível.
Especialistas da área comportamental reforçam o conceito do palestrante. Segundo a escritora e professora de psicologia Erika lotz, da Universidade Estácio Curitiba , motivação, como o próprio nome já diz, é um motivo que leva à ação. Assim, a saída para se manter esperançoso em uma época difícil é ter uma meta em mente, conhecer seus próprios pontos fortes e direcioná-los para alcançar o que se busca.
O grande erro de muita gente, de acordo com a profissional, é delimitar apenas o que não se deseja e não ter a percepção do que se quer. “A pessoa que só sabe o que não quer passa a vida olhando pelo retrovisor. Isso não a ajuda muito a seguir em frente”, ilustra.
Desemprego e insegurança
Para a coach Ana Pliopas, do Hudson Institute of Coaching, a insegurança que permeia a atual conjuntura econômica é assustadora tanto para quem está sem emprego quanto para quem já ocupa uma vaga. Em ambos os casos, ter um objetivo em mente em vez de sofrer na inércia é fundamental para não se perder em meio a tantas dificuldades.
Quem viu seu volume de tarefas crescer por causa da redução de pessoal na empresa pode, por exemplo, pensar em novos métodos de otimizar as atividades e se destacar no mercado, de acordo com Ana. Para a especialista, ficar preso ao medo de perder o cargo só gera instabilidade emocional.
Ana explica que a crise tende a ser ainda mais difícil para quem está sem emprego. De acordo com a coach, a demissão é uma das situações mais traumáticas para o ser humano e não apenas por vir acompanhada da perda do poder aquisitivo, mas porque também reduz o convívio social e afeta aspectos fundamentais da identidade do indivíduo. “A vida fica em suspenso. A pessoa quase não vê perspectiva de futuro”, explica.
A profissional orienta que, em casos assim, o candidato encare sua busca por emprego como um expediente, um trabalho importante, dedicando seis horas do dia para mandar currículos e fazer contatos e outras duas para se aprofundar em alguma competência que o mercado exige. “Dá para treinar suas habilidades em Excel, ou melhorar sua capacidade de comunicação”, exemplifica. Segundo Ana, essas atitudes devem integrar um plano pessoal de desenvolvimento, que o candidato precisa montar com base no que mais almeja.
Reforçando competências
A professora e gestora do Núcleo de Empregabilidade da Faculdade Pequeno Príncipe, Margareth Grassani, também defende que montar um planejamento de carreira é uma boa estratégia para se manter motivado em períodos difíceis. Segundo a especialista, esse é o momento ideal para que os profissionais parem para avaliar o que têm a oferecer às empresas e o que podem melhorar.
Mesmo quem já está empregado deve reforçar seu potencial. O passo inicial para isso, de acordo Margareth, é buscar o autoconhecimento. “Se a pessoa se conhece, tem mais facilidade em notar o que quer e consegue enxergar nitidamente onde deve melhorar”, explica.
Controle das emoções
Negativas de recrutadores e tensões no trabalho podem muitas vezes ser encaradas como aspectos impulsionadores de recomeços, de acordo com Erika. Para a especialista, quando o profissional refuta a negatividade excessiva, consegue compreender melhor o que é capaz de aprender com cada situação que vivencia. “Se algo não der certo e você está disposto a entender onde errou, tem a possibilidade de corrigir a rota da sua carreira e crescer. Isso acontece muito em épocas de crise, porque as pessoas são obrigadas a abandonar a zona de conforto”, argumenta. Para Erika, o profissional deve comparar seus objetivos aos sentimentos que tem manifestado e entender até que ponto aquelas emoções podem fomentar ou não uma melhora. “Há pessoas que se movimentam pelo simples medo de perder, mas as que se mantém mais motivadas trabalham na esperança de ganhar.”