Não importa qual é o seu lado e, menos ainda, se você tem um lado. A verdade é que abrir a boca para comentar política se tornou algo arriscado no Brasil. Em meio à crise política que tomou conta do país no último ano, não é difícil achar conhecidos que já tenham saído “machucados” dessa batalha travada na rua, nas redes sociais, dentro de casa e especialmente no trabalho, um verdadeiro campo minado para esse tipo de discussão.
Amizades desfeitas dentro e fora das redes sociais, climão no almoço da família e saia justa no trabalho. O impeachment da presidente Dilma Rousseff marcou o ápice da polarização política e dos nervos à flor da pele, mas sua saída passou longe de apaziguar os ânimos. O doutor em filosofia e professor da Unisinos Gabriel Ferreira diz que a polarização política e necessidade de marcar posição não são ruins, mas enfrentamento não é algo com o qual os brasileiros estão acostumados. Segundo ele, temos dificuldades para debater ideias e conduzimos discussões apaixonadamente. No fim, essa divergência de ideias acaba se tornando algo pessoal.
Não temos tradição do debate, nem na academia e nem na esfera pública. O que há é uma polarização bem pouco racional marcada pela exacerbação das ideias. É o pior dos mundos possíveis: nível baixo de argumentação, afetação da sensibilidade, pouco enfrentamento de ideias e uma tentativa constante de eliminar o contraditório, sem o qual não há debate
Essa falta de prática para o debate de qualquer natureza, especialmente o político, pode ser muito danosa no ambiente de trabalho. Independente da sua posição política, o trabalho não é o melhor lugar para travar um debate político, alerta Alexandre Weiler, consultor de carreira da ESIC Business & Marketing School.
Mas a questão é muito mais complexa do que parece e vai além do ambiente físico de trabalho, alerta o consultor. Isso porque, as pessoas não dissociam a imagem pessoal da profissional. Então, se você não esta sendo chamado para o happy hour da firma, para o almoço com os colegas ou para o cafezinho no meio do expediente, é bom refletir sobre a imagem que está passando.
“80% da imagem que as pessoas têm sobre nós estão diretamente ligados à nossa postura nas redes sociais, às informações que curtimos e compartilhamos no mundo online”, afirma Weiler.
Que imagem você quer passar?
Ou seja, aquilo que eu faço das redes sociais não fica apenas nas redes sociais. Os processos de seleção, por exemplo, consideram não apenas as competências de um profissional, mas sua história, seu comportamento e suas atitudes no mundo real e virtual: LinkedIn, Twitter, Instragram, Facebook e afins. Portanto, o posicionamento político tem um peso muito importante, pois também reflete a imagem e a marca pessoal no mercado. Não adianta ser um profissional ponderado no ambiente de trabalho e o oposto na internet, alerta o consultor.
Além de profissionais coerentes, as empresas valorizam demais pessoas profissionais, ponderadas, equilibradas e resilientes que não vão gastar boa parte do seu tempo e esforço com algo que não está diretamente ligado ao negócio. Isso, aliás, é algo que as empresas costumam observar. Um estudo da Associação Americana de Psicologia mostrou que, além de aumentar o estresse dos profissionais, as discussões sobre política no ambiente de trabalho afetam a produtividade.
Isso significa que as empresas não querem profissionais críticos, informados e politicamente engajados? De forma alguma. As companhias valorizam profissionais que defendem as ideias com base em argumentos sólidos e evitam entrar em discussões irrelevantes e vazias, afirma Weiler.
“Ponderado não quer dizer que ele não pode acreditar e defender uma ideia ou um lado do debate, desde que o faça com bons argumentos e sempre respeitando o direito do colega de fazer o mesmo, sobretudo quando ele pensa diferente”.
Conheça seu interlocutor
Antes de enveredar por discussões políticas no trabalho, é importante conhecer o seu interlocutor. A dica é simples: saiba com quem você está falando. “É uma pessoa madura que respeita a opinião alheia? Vale a pena entrar nessa discussão? Muitas vezes é seu gestor, que está acima de você na hierarquia. Prudência e caldo de galinha nunca fizeram mal a ninguém”.
Saber se retirar de uma discussão improdutiva não é sinal de fraqueza, mas demonstração de inteligência e sensatez. Por outro lado, um profissional que não respeita a opinião alheia e que tenta vencer a qualquer custo toda discussão política, por menor que ela seja, tende a ser excluído e até perder oportunidades dentro da empresa.
“Na mesa do diretor tem quatro currículos com o mesmo nível de competência e ele precisa tomar a decisão final. Muitas vezes, ele acaba escolhendo por meio de critérios mais subjetivos aquela pessoa que tem uma imagem melhor, mais bem posicionada enquanto marca pessoal”