O ministro da Fazenda, Antonio Palocci, afirmou que a crise política impactou negativamente as expectativas dos consumidores e dos empresários e que a economia recebeu "uma notícia ruim" com a divulgação da queda de 1,2% do PIB no terceiro trimestre. Ele também reconheceu que a política monetária pode ter reflexos negativos sobre o crescimento do país, mas voltou a defender o trabalho do Banco Central e o rigor em relação aos juros para o controle da inflação.
- Admitimos esse debate (sobre a alta dos juros) como um debate legítimo, mas penso que não há erro de dose. Na verdade, combater a inflação tem custos. Ajustar o país do ponto de vista fiscal tem custos, isso exige esforço - afirmou, em almoço com empresários na Firjan, realizado em sua homenagem.
O presidente Lula, por sua vez, disse em discurso na reunião do Conselho de Desenvolvimento Econômico e Social (CDES) que a queda do PIB é um "alerta para o governo analisar o que está acontecendo". Lula ressaltou que em "hipótese alguma se pode começar 2006 sem mostrar à sociedade que o crescimento vai ser mais vigoroso" no próximo ano do que em 2004 e 2005.
- Eu trabalho com a convicção, com a certeza que o Brasil entrou num caminho de estabilidade e de desenvolvimento que não tem retorno. Obviamente que nós sempre temos tempo de fazer os reparos que precisaremos fazer naquilo que precisar ser reparado - afirmou Lula.
- O que aconteceu foi um alerta para nós. Vamos ver o que está acontecendo direitinho. Ver o que a crise política tem de incidência nisso e o que a política de juros tem incidência nisso - acrescentou o presidente.
Lula disse acreditar que o quarto trimestre confirmará o crescimento da economia e ressaltou que o país entrou definitivamente na rota de redução dos juros. O presidente também disse que, mesmo o resultado global sendo negativo no terceiro trimestre, houve dados positivos, como o crescimento do consumo das famílias e o aumento do salário.
Palocci ressalvou que as expectativas começaram a melhorar mesmo ainda durante turbulência politica porque, segundo ele, "as pessoas perceberam que a força da economia é mais forte do que a crise política".
- De fato, houve um impacto da crise sobre as decisões de investimento e consumo. Houve uma forte queda dos consumo de bens duráveis e houve uma retração dos investimentos. Consumidores e agentes investidores tomaram a mesma atitude de cautela. Mas, mais recentemente, ele (o quadro) vem se recuperando. Portanto, houve, sim, uma ação forte da crise política sobre o processo econômico, é um processo que já se reverte - afirmou.
Apesar da queda de 1,2% do PIB entre julho e setembro, justamente o período de agravamento da crise política, Palocci previu uma retomada do crescimento no quarto trimestre do ano. "Teremos um novo trimestre já indicando retomada do crescimento", afirmou, acrescentando que tem "absoluta clareza" de que o Brasil está num ciclo de crescimento longo.
O ministro também disse ser legítima a discussão sobre a dose do "remédio" juro, mas considera incontestável a necessidade de controlar a inflação. Sugundo ele, o país precisa decidir se o combate a ela continua ou não, "como querem alguns".
- Uma coisa é discutir a flexibilidade do grau de ação. Outra coisa é discutir outras políticas - disse, mais uma vez defendendo que políticas econômicas flexíveis em relação à inflação nunca tiveram bons resultados no passado.
Palocci se referiu à ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, como companheira e negou que sua defesa da política monetária como a melhor forma de combater a inflação seja uma crítica às posições da ministra.
O ministro também se esquivou de comentar a cassação do deputado José Dirceu. Perguntado se a cassação reforçaria as críticas políticas em relação à condução da economia, Palocci referiu-se a Dirceu também como "companheiro", mas desviou-se do assunto.
- Não colocaria isso (a cassação) na questão específica do deputado José Dirceu, meu companheiro José Dirceu, me refiro assim a ele. O problema da crise política é que todos têm a expectativa que as instituições funcionem - afirmou.
O almoço na sede da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) foi promovido pelo presidente da instituição, Eduardo Eugenio Gouvêa Vieira, e prestigiado por centenas de empresários e políticos ligados ao Rio.
- Estamos aqui para prestar homenagem ao ministro Palocci, cujo papel tem sido fundamental nos resultado que estamos obtendo na economia - afirmou.
O presidente da Firjan defendeu a austeridade fiscal, o sistema de metas de inflação, o regime de câmbio livre e o combate à inflação implementados pelo ministério da Fazenda. Sobre os altos juros, que prejudicam as indústrias reúnidas na federação, Eduardo Eugenio disse que esse é "um detalhe dentro de uma moldura" e reafirmou o apoio às linhas que guiam a política econômica.
- Não será o resultado (do PIB) no terceiro trimestre que vai nos abater (...) A inflação é o pior dos impostos. Atinge cruel e imoralmente os mais pobres (...) Podem até ser passíveis de discussão alguns aspectos como, por exemplo, o ritmo da queda da taxa de juros, como essa casa vem há tempos se manifestando - disse.
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