Procura em escolas de treinamento para piloto de Curitiba chegou a cair 40% neste ano| Foto: Albari Rosa/ Gazeta do Povo

Altos e baixos

Escolas que formam pilotos têm queda de até 40% em Curitiba

Lana Canepa, especial para a Gazeta do Povo

No ano passado, a situação ainda era confortável nas escolas de treinamento para piloto. Segundo a Anac, houve alta de 52% na emissão das licenças para piloto, na comparação com 2011. A obtenção dessa licença é o primeiro passo para se alcançar o posto de comandante – uma carreira cara, com custo médio de formação de R$ 140 mil, apontam os especialistas. Em 2013, porém, a procura em algumas escolas de Curitiba caiu, em média, 40%, reflexo do freio nas contratações por parte das companhias aéreas.

Apesar de ser um setor que convive bem com a sazonalidade, a crise nunca foi tão severa. "O movimento está ruim desde o ano passado. Se continuar assim vai ser difícil permanecer nessa área. Essa está sendo a pior crise", afirma o diretor da CWB, Arli Nunes.

Na Aerocon, a gerente Maria Fernanda Prata conta que em 2012 a maioria dos pilotos saía do treinamento empregado. Agora, muitos ficam e se tornam instrutores. "A desaceleração nas contratações afeta os treinamentos, mas a aviação é muito dinâmica. Quando eles estiverem prontos, em um ano e meio, pode ser que o cenário esteja diferente", diz ela.

Essa é a expectativa do aluno Emerson Perin, que planeja se formar no final do ano e dar instrução enquanto não entra no mercado formal como piloto comercial. "Vou aproveitar esse tempo para me preparar e, quando as coisas melhorarem, estarei pronto", conta.

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Desde o fim do ano passado, as companhias aéreas iniciaram um movimento de demissão em massa e redução na oferta de voos – quase 5% menor este ano, segundo a Agência Nacional de Aviação Civil (Anac). As empresas culpam o impacto da alta do dólar no preço dos combustíveis, responsáveis por 40% do custo das companhias.

Muitos pilotos perderam o emprego e estão buscando o exterior para se recolocar no mercado. Nesta onda de emigração, China e Panamá aparecem como os destinos mais procurados, engordando a lista de países que abrigam mais de 500 pilotos expatriados, segundo estimativas do Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA).

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Alexandre Fernandes, de 42 anos, é um dos brasileiros que estão voando na chinesa OK Airways.

Em outubro do ano passado, enquanto o Conselho de Administrativo de Defesa Econômica (Cade) aprovava a compra da Webjet pela Gol, ele começava um processo seletivo na aérea chinesa, antecipando-se a uma possível demissão, que veio no mês seguinte, quando a Gol anunciou a extinção da Webjet e a dispensa de 250 pilotos e copilotos.

Fernandes foi contratado pela OK Airways em janeiro deste ano e se mudou para a China com a família – assim como pelo menos outro cinco pilotos brasileiros que também foram contratados pela companhia, que faz apenas voos domésticos.

As atuais condições do mercado de trabalho no setor de aviação não confirmaram as previsões otimistas de alguns anos atrás, quando a demanda era tão grande que havia expectativa de falta de pilotos no país. Em 2010, o crescimento do número de passageiros transportados bateu recorde, com alta de 21%. Este ano, já há quem arrisque dizer que não haverá crescimento. "O que vemos é uma tendência de sobra de pilotos. As empresas não contratam, mas a procura pela carreira não para", disse Elones Ribeiro, professor da Faculdade de Ciências Aeronáuticas da PUC-RS.