De cada dez curitibanos, seis estão total ou parcialmente satisfeitos com o atual salário, mas poucos se preocupam em separar algo para o futuro, de acordo com uma pesquisa exclusiva feita pelo Paraná Pesquisas para a Gazeta do Povo. O levantamento mostra que 87% dos trabalhadores da capital não têm plano de previdência privada. A satisfação maior com o próprio rendimento está no funcionalismo público, onde é maior também o investimento na previdência privada funcionários de empresas privadas estão mais insatisfeitos e se preocupam menos com o futuro (veja quadro nesta página).
A gerente de marketing Laila Sol e Silva é exceção. Ela diz ganhar o suficiente para pagar suas contas e para realizar o sonho do negócio próprio; aplica em títulos de capitalização e em ações, sem descuidar da previdência privada, onde investe há cinco anos quase 46% dos entrevistados que aplicam nesta modalidade começaram a poupar de um a cinco anos atrás. "Tenho um projeto maior, quem sabe abrir um estabelecimento que ofereça serviços de beleza e estética. Por isso estou me preparando financeiramente", conta.
Aposentadoria achatada
O consultor em previdência social pública e privada Renato Follador lamenta que as pessoas não tenham a mesma atitude de Laila. Um dos problemas com a dependência do INSS é o achatamento da previdência pública. Para isso, ele cita como exemplo a queda drástica do teto do benefício, que em 1970 correspondia a 20 salários mínimos e desde janeiro, com o aumento do mínimo, é de 6,3 salários. "Quanto mais cedo se toma a decisão de contribuir para a previdência privada, menos dinheiro é necessário aplicar mensalmente", ensina Follador.
Estar satisfeito com o próprio salário também é uma realidade para a engenheira civil Aurelena da Silva Brito. Funcionária de um órgão público, ela mora com os pais e não tem filhos, aplica na previdência privada e guarda dinheiro para comprar a casa própria. "Não tenho grandes despesas mensais e, mesmo que morasse sozinha, meu salário seria bom", afirma ela, que voltou a trabalhar na empresa pública após um tempo na iniciativa privada.
Cristian Kim, diretor da regional Sul da Business Partners, consultoria especializada em recrutamento executivo, salienta que a tendência é haver mais descontentamento quanto menor o cargo desempenhado na empresa. "Um diretor com um cargo mais alto, por exemplo, não se preocupa tanto com a mudança na hora de aceitar um desafio, mas sim com o projeto em que vai participar. Porém, se o salário é menor, isso se torna mais representativo", analisa.
Longo prazo
Quando o assunto é ficar na empresa pelos próximos dez anos, porém, a opinião é distinta. Quase 60% dos curitibanos não se vê trabalhando na mesma empresa no período como Laila, que pretende estar em seu próprio negócio. O que chama atenção na pesquisa é que entre funcionários públicos o número também é alto: 52% deles não querem continuar na mesma empresa.
Aurelena que já havia trabalhado no setor público, saiu e agora foi chamada novamente para trabalhar não pretende mais mudar. "Aqui eu tenho estabilidade e faço o que eu gosto", pondera a engenheira. O comportamento dos funcionários públicos é decorrente do mercado de concursos muito forte atualmente, na opinião de Kim. "Hoje as pessoas assumem um cargo público já se preparando para o próximo concurso", avalia.