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Ensino

Cursos de pós-graduação atraem 3,5 mil brasileiros ao Paraguai

As mercadorias importadas deixaram de ser os únicos objetos de desejo dos brasileiros no Paraguai. Agora eles cruzam a fronteira em busca de conhecimento. Cursos de mestrado e doutorado oferecidos por universidades de Ciudad del Este, na fronteira com Foz do Iguaçu, e de Assunção estão atraindo desde gaúchos a paraenses. Alguns alunos não se importam em percorrer centenas ou milhares de quilômetros até chegar ao país vizinho para, ao fim de dois ou três anos, ter o tão sonhado título em mãos.

Inúmeros motivos atraem os brasileiros aos cursos de pós-graduação no Paraguai. O principal deles é o Decreto 5.518, de 23 de agosto de 2005, pelo qual foi estabelecido o Acordo de Admissão de Títulos e Graus Universitários para o Exercício de Atividades Acadêmicas nos Estados Partes do Mercosul. Segundo as universidades paraguaias, o decreto acaba com a necessidade de reconhecimento, no Brasil, dos títulos de mestre e doutor obtidos no Paraguai por quem deseja dar aulas. Dessa forma, a revalidação dos títulos seria automática.

No entanto, a Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), órgão responsável pela pós-graduação no Brasil, alega que esse direito é limitado à atividade de docência e pesquisa em caráter temporário e não permite que o aluno siga carreira de professor no Brasil, a não ser que o título seja reconhecido em uma universidade brasileira (leia mais nesta página).

O pró-reitor e diretor de pós-graduação da Universidade Tecnológica Intercontinental (UTIC) – uma das três universidades que oferecem cursos de pós-graduação em Ciudad del Este –, Osvaldo Villalba, diz que o decreto é válido, mas há resistência de algumas faculdades brasileiras em aceitar o título obtido no Paraguai. "Os acordos são firmados, mas não se respeitam. A Capes põe uma série de dificuldades que não deveriam existir", diz.

Villalba alega que, em razão dessas resistências, alunos estão recorrendo à Justiça e ganhando a causa, para conseguir trabalhar no Brasil com o título obtido no Paraguai, abrindo, dessa forma, precedentes para outros pedidos. Segundo ele, os cursos de mestrado e doutorado da instituição seguem o mesmo padrão do Brasil. É necessário cursar disciplinas de acordo com as linhas de pesquisa, fazer a qualificação e defender a dissertação ou tese. "Os critérios rígidos asseguram a qualidade do ensino", diz.

Parcerias

Segundo a Associação de Universidades Privadas do Paraguai (APUP), atualmente há 3,5 mil brasileiros matriculados em cursos de mestrado e doutorado no país. Eles estão vinculados a dez instituições de ensino superior do Paraguai. Em Ciudad del Este, além da UTIC, oferecem cursos a Universidade Politécnica e Artística do Paraguai (UPAP) e a Universidade Três Fronteiras. A UTIC, que tem sede em Assunção e 35 câmpus em todo o país, reúne hoje em Ciudad del Este um total de 80 alunos de doutorado e mestrado em 12 cursos nas áreas de Ciências da Saúde, Ciências Sociais Aplicadas, além de Lingüística, Letras e Artes.

Para facilitar a organização dos cursos, que também atraem argentinos e uruguaios, algumas faculdades fazem parcerias com empresas educacionais. Em Ciudad del Este, a Master Educacional é a responsável administrativa pelo curso oferecido aos brasileiros pela UTIC. O diretor-administrativo da empresa, Rui Pinto dos Santos, diz que a maioria dos professores da UTIC vem do Brasil. Todos são doutores, alguns formados por universidades de renome, incluindo a Universidade de São Paulo (USP) e a Universidade de Sorbonne, de Paris.

Segundo ele, a intenção da universidade é realizar um trabalho sério e de acordo com os preceitos legais, mas o esforço esbarra no preconceito dos brasileiros em relação a tudo que é feito no Paraguai. "Se os professores são considerados bons para ministrar aulas no Brasil, por que que não são para ministrar aulas no Paraguai? Eles já foram avaliados pela Capes", diz.

Atrativos

O custo e a periodicidade dos cursos também acabam atraindo os brasileiros ao país vizinho para estudar. Os cursos nas universidades privadas chegam a ser 50% mais baratos em relação aos preços cobrados pelas universidades particulares no Brasil. A periodicidade das aulas, geralmente realizadas uma vez ao mês ou quinzenalmente – sempre aos fins de semana –, também é uma facilidade para os alunos brasileiros. A maioria deles é professor ou trabalha em outras áreas em período integral, e não dispõe de tempo para assistir aulas semanais nas concorridas universidades públicas do Brasil.

Na UTIC, o preço dos cursos varia de US$ 5 mil a US$ 11 mil, de acordo com o tipo e plano escolhidos. No plano mais em conta, o aluno paga US$ 127 mensais.

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