Recentemente recebi o e-mail de um leitor que me contou um pouco de sua história profissional. Ele dividiu comigo sua frustração em relação à visão míope da empresa em que trabalha e me confessou que está muito desmotivado. A seguir, relato a experiência de Saulo, da qual outros leitores podem tirar lições positivas.
Saulo trabalha há dois anos e meio em uma empresa familiar de 34 anos de existência. Ingressou na organização com promessas de abertura para a execução e a realização de projetos. Iniciou nesse embalo um projeto audacioso, que previa o apoio da alta administração. O intuito era implantar uma ferramenta de controle estratégico que impulsionaria o crescimento do grupo. Com enfoque em uma visão sistêmica, quatro perspectivas seriam analisadas: finanças, clientes, procedimentos internos e aprendizagem e crescimento. A partir dessa metodologia, seria desenhado um processo de causa e efeito, que mostraria que o resultado financeiro e a fidelidade dos clientes refletem esforços provenientes dos processos internos e da interação e superação das pessoas.
Houve euforia nos seis primeiros meses de implantação do projeto. A alta direção estava confiante de que a ferramenta traria resultados significativos. No entanto, um critério básico era de que qualquer programa contasse com o envolvimento e o comprometimento de todos. Quanto a isso, Saulo sentiu muita dificuldade. Os funcionários intermediários com mais tempo de empresa, de certa forma, deixaram-no à deriva, dando a entender que o projeto significava um evento isolado. Logicamente, havia duas saídas: ficar desmotivado e largar aos poucos seu intento de implantar o projeto ou dar continuidade ao desafio, ainda que com ventos contrários. Saulo decidiu persistir no desafio. Com isso, passou a ter um apreço maior na base meio no qual ele promoveu um concurso de frases com o tema "Valores da Empresa", formou um grupo de teatro amador e implantou um informativo interno.
Assim, Saulo conseguiu melhorar consideravelmente o clima organizacional. Todas essas ações foram vistas pela diretoria como atos pequenos, mas que, no entanto, geraram uma redução expressiva na rotatividade de funcionários e no absenteísmo. A alta administração não assimilou as idéias de Saulo e não valorizou as ações implementadas, mesmo após o profissional ter explicado que tais fatores dariam suporte e condições para melhorias a médio e longo prazo. Hoje, Saulo sente que o que fere sua motivação não é a falta de desafios, não é o desconforto, tampouco o risco de perder o emprego. O que o desmotiva é a falta de visão sistêmica por parte da empresa e o desinteresse no desenvolvimento humano.
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Muitos profissionais sentem-se frustrados por não conseguirem modificar a visão da diretoria sobre qualquer aspecto. Eles perdem a vontade de inovar, pois sabem que suas idéias serão ignoradas ao esbarrarem com a alta gestão da empresa. Contudo, é possível continuar implantando conceitos inovadores sem bater de frente com a direção. O profissional moderno consegue imprimir mudanças significativas em seu nível hierárquico, disseminando no dia-a-dia valores que considera relevantes. As alterações no clima organizacional podem começar de baixo para cima e não precisam, necessariamente, ter a participação ativa da direção. Basta que haja um mínimo de apoio.
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SAIBA MAIS...
Expressão artística e cidadania
O projeto "Arte da Paz" é uma iniciativa do Instituto de Defesa dos Direitos Humanos (Iddeha) patrocinada pela Petrobras, que tem como objetivo contribuir com a formação de adolescentes, reduzindo a violência urbana. Por meio do hip-hop, o projeto realiza ações que desenvolvem habilidades artísticas e trabalham noções de direitos humanos e cidadania. Os beneficiados são jovens entre 14 e 18 anos - da região periférica de Curitiba e de cidades do entorno - que se encontram em situação de risco social. O "Arte da Paz" incentiva o reingresso e a permanecia escolar e busca promover o empreendedorismo e a profissionalização dos participantes.
Após a formação dos jovens em oficinas técnicas, são realizadas minioficinas em escolas públicas e na comunidade, nas quais eles são desafiados a utilizar a expressão artística para repassar as informações aprendidas. O projeto "Arte da Paz" teve início em 2003 e, desde então, já forneceu formação a 1.439 jovens e passou por 18 instituições de ensino estaduais. No próximo dia 17, a iniciativa receberá o prêmio Fundo Itaú de Excelência Social 2006.
Bernt Entschev é presidente do Grupo De Bernt. Empresário com mais de 36 anos de experiência junto a empresas nacionais e internacionais. Fundador e presidente do grupo De Bernt, formado pelas empresas: De Bernt Entschev Human Capital, AIMS International Management Search e RH Center Gestão de Pessoas. Foi presidente da Manasa, empresa paranaense do segmento madeireiro de capital aberto, no período de 1991 a 1992, e executivo da Souza Cruz, no período de 1974 a 1986