Quando a proximidade da segunda-feira provoca calafrios e desânimo e o clima de tensão dificulta o desenvolvimento de qualquer atividade rotineira, pode ser um sinal de que o seu trabalho é um ambiente tóxico.
A situação é comum no meio corporativo. Profissionais insatisfeitos, comentários negativos nos corredores da empresa, casos de assédio moral e altos índices de depressão ou síndrome de burnout talvez indiquem que algo precisa mudar na organização.
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Segundo o livro “Ambientes de trabalho tóxicos: Lidando com personalidades tóxicas e seus sistemas de poder”, dos norte-americanos Mitchell Kusy e Elizabeth L. Holloway, quase 50 % das pessoas inseridas em espaços com altos níveis de tensão relatam perder tempo pensando no problema. Estudos também mostram que metade destes profissionais já cogitaram deixar o emprego, enquanto 15% deles já chegaram ao ponto de se demitir.
Causas
Para o consultor Jonas Duarte, da Crescimentum Consultoria, o clima pesado de uma organização quase sempre se associa a deslizes da liderança. Conforme explica o especialista, cabe ao líder mostrar ao seu time o real propósito da empresa e fazer com ele se sinta parte de um contexto mais importante do que as tarefas diárias que desempenha.
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Contudo, nem sempre isso é o que acontece, lamenta Jonas. E nestes casos, os indivíduos passam a viver sob o fluxo do ambiente, à mercê das circunstâncias do dia a dia, se tornando mais vulneráveis à insatisfação.
Pesquisas mostram que más ações no trabalho tendem a afetar os funcionários até cinco vezes mais do que os bons gestos.
O consultor acrescenta que outro ponto desencadeador de ambientes tóxicos é a falta de reconhecimento, e não apenas por meio de aumento de salário ou benefícios da empresa, mas também mediante feedbacks pontuais, funções mais desafiadoras e oportunidades de crescimento.
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Metas exorbitantes e pressões excessivas também tendem a comprometer o equilíbrio de um setor ou companhia. E não faltam exemplos do caos que isso pode causar. Em um artigo publicado no The New York Times, o fundador da consultoria americana Watermark Jon Picoult lembrou do que aconteceu quando a financeira Wells Fargo acabou despedindo 5,3 mil funcionários após a abertura várias contas e emissões de cartões de crédito sem a permissão dos clientes.
O objetivo das fraudes dos funcionários era atingir as altas metas comerciais impostas aos colaboradores. Segundo Picoult, colaboradores atuais e antigos da companhia chegaram a relatar intensas pressões de gestores várias vezes ao dia.
Personalidades tóxicas
Mas especialistas também mencionam que o problema pode ser causado por indivíduos com atitudes tóxicas. E será que eles conseguem por si só impulsionar o abalo de um setor inteiro? Kusy e Holloway defendem que sim e apontam explicações para isso. Pesquisas mostram que más ações no trabalho tendem a afetar os funcionários até cinco vezes mais do que os bons gestos.
Se você está se perguntando como é possível identificar estas pessoas tóxicas, o escritor norte-americano Travis Bradberry, em um artigo para o LinkedIn, aconselha manter distância de oito perfis de colegas: os fofoqueiros, arrogantes, temperamentais, “vitimistas”, invejosos, manipuladores, julgadores e perversos.
Mas, atenção: pode ser que você mesmo se encaixe em algum destes padrões. Então, é preciso aprender a olhar para si e fazer uma autocrítica para se transformar e melhorar o espaço em que você se insere, conforme alertam os consultores.
Cada um pode fazer a sua parte
Embora a tranquilidade de um ambiente de trabalho esteja muito ligada ao que a empresa e as lideranças fazem para afastar posturas tóxicas, é possível atuar individualmente para combater o problema.
Na visão da coach Cibele Nardi, é função de cada pessoa criar barreiras contra ondas negativas, trabalhar a própria inteligência emocional e tomar as rédeas de tudo o que faz, afinal de contas, cada atitude na companhia não se reflete apenas nos resultados da empresa, mas também na trilha de carreira de cada um. “Se eu me sinto sempre vítima de algo, apenas me prejudico. A partir do momento em que eu assumo a responsabilidade pelo meu sucesso, as coisas começam a mudar”, diz.
Jonas acrescenta que se o colaborador se dá conta de que a sua realidade no emprego não vai mudar, seja por conta da resistência dos líderes, que não encaram as raízes da questão, seja porque a organização não se atenta ao problema devidamente, o profissional pode repensar sua situação e avaliar se não é hora de trocar de empresa. Para isso, é fundamental se certificar de que o seu objetivo de vida está bem delimitado. “O propósito é algo que vem de dentro para fora. Não adianta você partir para outro plano com os mesmos vícios e práticas do ambiente anterior”, salienta.