Quando mandou um e-mail para sua equipe avisando que passaria alguns dias fora do escritório, Mandalyn Parker não esperava receber uma resposta do CEO da empresa - ou se tornar famosa na internet. De acordo com a CNN, ela atua como desenvolvedora de software ou, segundo o título que escolheu para si mesma, “engenheira de empatia”, na Olark, uma plataforma de bate-papo ao vivo que ajuda empresas a conversar com clientes. A companhia, baseada em Michigan, nos Estados Unidos, tem uma equipe de cerca de 40 pessoas.
Ela disse à CNN que sofre de ansiedade crônica, depressão e transtorno de estresse pós-traumático e às vezes precisa se concentrar exclusivamente em seu bem-estar. Depois de várias noites de insônia, ela não estava bem disposta. “Tive também muitos pensamentos suicidas, o que dificulta a realização muito no trabalho”, explicou.
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“Estou tirando hoje e amanhã para focar na minha saúde mental. Espero que eu volte na semana que vem revigorada e novamente 100%”, avisou à sua equipe. Dentre as respostas que recebeu, a de Ben Congleton, CEO e co-fundador da Olark, chamou tanto a sua atenção que ela resolveu postar no Twitter.
“Eu só queria te agradecer pessoalmente por enviar e-mails como este. Toda vez que você faz isso, eu uso isso como um lembrete da importância do uso de dias de folga para a saúde mental”, escreveu Congleton. “Não consigo acreditar que isso não é a prática padrão em todas as organizações. Você é um exemplo para todos nós e ajuda a reduzir o estigma para que todos possamos trazer todo o nosso ser para o trabalho”.
Resposta positiva
O tweet com a troca de mensagens teve mais de 43 mil curtidas, foi compartilhado na rede social mais de 15 mil vezes e quase 500 respostas. “Eu fiquei absolutamente tocada. [A repercussão] trouxe lágrimas aos meus olhos”, revelou Mandalyn à CNN. “Foi surpreendente ser aplaudida pela minha vulnerabilidade”.
“Eu não fazia ideia de que minha resposta ficaria tão visível - as reações revelaram que minha posição sobre a saúde mental no local de trabalho é incomum, para dizer o mínimo”, declarou o CEO em um texto postado no Medium.
As centenas de relatos deixados na rede social retratam um cenário que não é de todo surpreendente, considerando o tabu que ainda envolve doenças de ordem mental. “Uma vez eu liguei para avisar que tiraria um dia para cuidar da minha saúde mental. Meu chefe me disse que ansiedade não é uma doença real e que eu precisava de um atestado”, contou uma usuária.
“Eu gostaria de poder pelo menos começar a me sentir confortável o suficiente para falar sobre isso com empregadores”, apontou outro.
“Eu tive que tirar um dia para cuidar da minha saúde mental recentemente e menti sobre o motivo para ir não ir trabalhar porque isso não é visto como uma desculpa viável para perder [um dia de] trabalho”, relatou outra pessoa.
Saúde mental ainda é tabu
Em seu texto no Medium, Congleton afirma que viu muitas histórias de pessoas desejando que seus diretores se importassem com a saúde dos funcionários e o parabenizando, mas acredita que sua atitude não devia ser nada demais.
“Não consigo acreditar que ainda é controverso falar sobre saúde mental no local de trabalho quando 1 em cada 6 americanos são medicados para a saúde mental. É 2017. Não consigo acreditar que ainda seja controverso oferecer uma licença médica paga. Você sabia que apenas 73% dos empregados em tempo integral nos EUA têm licença médica paga?”, ressalta.
“Estamos em uma economia do conhecimento. Nossos trabalhos exigem que executemos no máximo desempenho mental. Quando um atleta está ferido, ele fica no banco e se recupera. Vamos nos livrar da ideia de que de alguma forma o cérebro é diferente”, sustenta.
Além de ficar famoso na internet pela iniciativa, o CEO ainda acabou fazendo uma ótima propaganda da empresa. Entre os tweets, as pessoas não apenas queriam uma vaga de emprego na Olark, mas também queriam apoiar a companhia por seus valores. “[A plataforma] parece muito melhor do que a que estamos usando o momento. Vou mencioná-la [no trabalho]”, garantiu um usuário.