Já foi-se o tempo em que bom era fazer um curso de inglês e de informática para valorizar um currículo de graduação. Com o mercado de trabalho cada vez mais competitivo, este tipo de vantagem ou "apenas" uma graduação não são mais suficientes para se conquistar bons empregos e salários. Agora o necessário é se especializar. Bem, convencer as pessoas disso pode até ser muito fácil. O problema é que, muitas vezes, estar em uma sala de aula freqüentando um curso de pós-graduação não depende somente da força de vontade. Horários incompatíveis, impossibilidade de deslocamento, falta de dinheiro ou outras situações inesperadas, também se transformam em barreiras quando o assunto é se especializar.
Com o curitibano Luiz Alberto Ferraz Gonçalves, de 30 anos, já estava tudo pronto para o curso de especialização em Logística. O caso dele, porém, não chega a ser um problema, já que a espera será acompanhada por mimos e brincadeiras com a filhinha Ana Carolina, que chega ao mundo agora em março. "Tem que ficar mais junto, é o primeiro filho. E para a mulher é uma transformação muito grande na vida, no corpo", avalia o pai coruja. Luiz não considera o adiamento um entrave em sua vida, apenas um momento de prioridades. "Com certeza vai valer a pena, e uma filhinha é uma despesa a mais também", diz. Luiz é formado em Administração desde o ano passado pela Universidade Tuiuti do Paraná (UTP) e trabalha com comunicação de dados em uma rede bancária.
A mulher dele, Mariliz de Souza Gevezier, 29, que acabou de trancar a faculdade no quarto ano de Administração, comemora a decisão do marido e concorda que o momento agora é da primeira filha do casal. "Eu não pressionei para ele não fazer a pós, ele mesmo disse que queria curtir todos os momentos e que não teria coragem de sair para trabalhar e depois ainda ir para uma pós", relata. Supervisora na área de logística de uma empresa na capital, Mariliz afirma ainda que a rotina de estudos do casal deve voltar ao normal em um ano. "Preferimos dar mais atenção para ela", afirma a mamãe de primeira viagem.
Dinheiro
No caso da administradora Patrícia Ponchio Araújo, 25, que mora em Rolândia (25 quilômetros de Londrina), no Norte do Paraná, a questão está mais ligada ao bolso. Com uma renda mensal de dois salários mínimos, sem considerar os descontos, fica inviável cursar a pós de Recursos Humanos onde quer, no Centro Universitário Filadélfia (UniFil), em Londrina, e ainda quitar as despesas da casa onde mora com o irmão, que também ganha pouco. "Eu tenho uma grande dificuldade financeira. Tem que pagar aluguel, água, luz", conta. Funcionária do departamento de Recursos Humanos de uma cooperativa de Rolândia, Patrícia também tenta juntar um pouco mais de recursos ministrando palestras. "Eu cobro um valor simbólico por hora, mas estou tentando guardar", diz.
Nascida em Pitangueira (30 quilômetros de Londrina), Patrícia guarda também a esperança de um dia se especializar. "Vai levar tempo, tenho comigo que não vai ser muito fácil, mas não vou desistir nunca, tenho certeza que uma hora vou conseguir". Com a especialização em Recursos Humanos, Patrícia acredita que poderá ter um salário bem maior e alcançar colegas de turma da Faculdade de Ciências Econômicas e Administrativas de Apucarana, onde se formou em 2004. "Sei da necessidade de profissionais especializados. Tem colegas que se formaram comigo que já terminaram a pós e elas estão em uma melhor situação, porque a pós abriu caminho para elas", conclui.
Interatividade
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