| Foto: Pedro Serápio/Gazeta do Povo

Os executivos das grandes empresas estão sob pressão. A crise econômica deprimiu mercados, varreu lucros e tornou a opinião pública amarga com relação aos pacotes de pagamentos que eles recebem. Para o headhunter John Poracky, que esteve em Curitiba na semana passada, o desafio de enfrentar essa situação será longo e exigirá mais dos líderes empresariais.

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Em entrevista à Gazeta do Povo, ele explicou que os executivos terão de mostrar confiança, mesmo após demitir milhares de funcionários, e terão de concentrar mais esforços para encontrar o talento certo para assumir um número cada vez maior de tarefas. Afinal, com a redução das folhas de pagamento, quem fica acumula funções.

Poracky fez em Curitiba uma palestra durante a posse da nova diretoria do Instituto Brasileiro de Executivos de Finanças do Paraná (Ibef-PR), na última quinta-feira, evento promovido em parceria com a Estação Business School e com a De Bernt Entschev. O headhunter é consultor em Recursos Humanos e vice-presidente da AIMS International Management Search, uma rede de procura de executivos.

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Como os CEOs podem proteger boas companhias em um ambiente de crise?

O CEO é uma figura que estabelece a direção e a estratégia de uma organização. Para ser bem-sucedido neste momento em particular é necessário que eles demonstrem liderança. Eles devem ser capazes de inspirar confiança na organização e isso significa que deve haver transparência e comunicação.

E como inspirar confiança em um momento em que a companhia tem de demitir centenas de funcionários e há uma sensação de medo na economia?

A prioridade número um em uma organização são as pessoas que trabalham nela. Você não consegue inspirar confiança nas pessoas que ficaram na companhia se não explicar com clareza quais são os problemas e como eles serão enfrentados. Há decisões difíceis que um líder precisa tomar para ter certeza de que o negócio vai sobreviver e elas têm de ser aplicadas com transparência.

As companhias ainda estão atrás de talentos neste momento? Que tipo de habilidade elas procuram?

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Uma das questões mais difíceis é como atrair talentos para uma empresa. Porque houve tantos cortes, você nota que os indivíduos estão assumindo cada vez mais responsabilidades. De repente, não há talento suficiente dentro da companhia porque eles foram demitidos. Agora as empresas precisam ver se ficaram com os talentos certos.

Como as empresas podem reter talentos, sem os pacotes de pagamento que costumavam oferecer até a chegada da crise?

Essa questão do pagamento é de curto prazo. Se eu dobrasse seu salário, mas o colocasse em um ambiente onde você não vai ser bem-sucedido, você aceitaria? O objetivo número um não é dinheiro, é a criação de um ambiente em que os dois lados ganham. Você tem seus objetivos, como virar um diretor, e se a empresa oferece essa possibilidade você vai ficar e vai trabalhar duro para que isso aconteça. E como o empregador pode ajudar? Ele usa algo que eu chamo de análise de posição.

E como se faz a avaliação?

Hoje a maioria das companhias só faz uma avaliação por ano e de uma maneira muito subjetiva. Elas precisam de ferramentas mais sofisticadas que possam captar as habilidades necessárias para cada trabalho em particular. O método de avaliação também precisa ver o aspecto motivacional e de liderança.

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E há ganhos para a companhia com isso?

Com certeza há ganhos de produtividade. É importante que o a empresa que busca talentos executivos entenda perfeitamente as questões enfrentadas pelas companhias. Que entenda a cultura, o ambiente, os conflitos que existem na organização, as responsabilidades, os resultados exigidos. Quando eu procuro um executivo, enquadro a busca na necessidade da empresa. Não basta olhar o currículo, é preciso verificar as habilidades do candidato na prática. Você pode cometer um erro de US$ 25 milhões contratando a pessoa errada.

Como o senhor vê a pressão da opinião pública americana contra o pagamento de bônus aos executivos da AIG?

Não é pouco dinheiro, US$ 165 milhões. Timothy Geithner, o secretário do Tesouro, sabia desde o início que o bônus seria pago. Ele estava preocupado com a possibilidade de ser processado em caso de não pagamento, porque os executivos têm contratos. Para complicar um pouco mais a questão, o item do plano de resgate dizendo que não haveria pagamento de bônus foi retirado da versão final. Quando houve o pagamento e as pessoas ficaram sabendo houve uma oposição forte. Agora, a administração Obama está tentando de qualquer maneira recuperar esse dinheiro. Você pode imaginar uma companhia pagando um bônus para alguém que já deixou a organização? O bônus deve ser calculado de acordo com o desempenho da pessoa e da companhia. Por que pagar quando não houve resultado? Estão perdendo dinheiro.

Há o risco de os EUA ficarem mais protecionistas, como indica a cláusula "Buy American" do estímulo fiscal do governo Obama?

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É um risco no curto prazo, e nós não podemos ir nesse caminho. Há agora uma pequena questão com o México sobre o tráfego de caminhões. Segundo o acordo do Nafta, os motoristas de EUA, Canadá e México têm direitos iguais de transitar através das fronteiras dos países. O sindicato dos motoristas americanos conseguiu bloquear essa cláusula. Os motoristas mexicanos agora só podem avançar 40 quilômetros dentro dos EUA, com a desculpa de que os caminhões mexicanos não são seguros. Estudos mostram, no entanto, que o nível de segurança é igual. Agora, o México quer retaliar vetando a entrada de produtos americanos. Algo deve ser feito rapidamente para evitar uma escalada protecionista.

Em que fase da crise estamos agora?

Se eu soubesse exatamente, estaria rico. Mas é claro que existem vários indicadores para os quais você pode olhar para ver se chegamos no fundo do poço. Ben Bernanke, presidente do Fed, tem indicado que vamos chegar ao nível mais baixo no terceiro trimestre deste ano. Quando você observar empresas contratando novamente trabalhadores temporários, ou empresas chamando de volta trabalhadores permanentes, é porque chegamos ao fundo do poço. É o momento em que se começa a observar atividade. Outro indicador é a bolsa de valores, que antecipa uma retomada em seis ou quatro meses. Quando ela começar a subir de forma constante, é um sinal. A elevação dos últimos dias, porém, parece ser temporária ainda.