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Eloi Zanetti

Em louvor a Santo Expedito

Corre pelo Brasil e está presente em quase todas as carteiras, principalmente daqueles que costumam freqüentar novenas e solicitar ajuda divina, o santinho de um soldado canonizado como Santo Expedito. No verso, uma oração de súplica. Diz o texto que Expedito é o santo indicado para resolver problema urgente, de difícil solução e dar uma ajudazinha nos negócios. O que ninguém sabe é que a palavra expedito quer dizer: sujeito desembaraçado, altivo, diligente, rápido. Alguém que sabe tocar o trabalho sozinho sem estar precisando receber ordens. Em conseqüência, expedito tem a ver com expediente, que é uma jornada de trabalho ou com expedição, uma missão a ser cumprida.

Antigamente, quando era um jovem auxiliar administrativo, meu chefe, um militar aposentado, costumava falar assim sobre alguns subalternos: "este rapaz tem expediente, pode dar o trabalho para ele que resolve". Naquela época todo escritório mantinha junto ao relógio ponto um quadro com a famosa Mensagem a Garcia. A história versava sobre o esforço sobre-humano que um soldado fez na Guerra de Cuba (Espanha contra Estados Unidos – não tem nada a ver com Fidel Castro, por favor) para levar uma mensagem ao General Garcia, não o Sargento Garcia de O Zorro, mas um de verdade numa guerra de verdade. Como predicado de todo soldado, o herói encarregado de levar a mensagem tinha expediente. Não ficou perguntando como é que ele iria realizar a sua missão, ou onde estaria o tal de Garcia. Ele se meteu na realização da tarefa e foi até o final.

Quem tem expediente não precisa ficar perguntando como é que eu faço isto, ou empurrando o trabalho com a barriga nem deixa para amanhã o que ele não vai fazer mesmo. Vai lá e faz.

Alguns patrões, antes da criação das modernas técnicas de recrutamento, seleção e indicação de candidatos, contratavam só no olhar. Isto é, viam se o sujeito "dava prá coisa", na base do feeling mesmo. Olhavam e analisavam se o candidato que se apresentava tinha ou não expediente, se era de iniciativa ou apenas mais um daqueles que só se mexiam obedecendo ordens. Numa linguagem moderna, pessoas que possuem ou não o tal de empowerment.

Conheci um velho italiano, dono de uma marcenaria, que contratava um auxiliar e ficava só observando; se o contratado não tirasse o paletó e não arregaçasse as mangas logo no início, ele não deixava esquentar o lugar, já despachava na primeira hora. Os caboclos mal mandados não esquentavam muito no trabalho, tudo era mais direto e objetivo.

Empresários, chefes e gerentes, está na hora de vocês se unirem e adotarem também o Santo Expedito, como santo de devoção e padroeiro das suas empresas. Rezem todos os dias para ele solicitando ajuda para que seus funcionários e colaboradores, além dos seus títulos de especialização, pós-graduações e MBAs, tenham também o tal de expediente. Num mundo onde não temos mais tempo para nada, o pior é ficar esperando que o nosso pessoal tenha iniciativa e se interesse em fazer o trabalho acontecer. Pois está me parecendo que a nova geração está precisando do exemplo de uma nova Mensagem a Garcia – só que não poderá ser por e-mail. Porque com respeito a expediente, a turma hoje, só quer é olhar o relógio para ver o final dele e saber da data do próximo feriado, quando não terá expediente e poderão emendar para curtir a praia.

O Brasil nunca vai ser uma nação de empreendedores, se não formarmos jovens devotos e adeptos da causa de Santo Expedito. Não para pedir favores e incomodarem o santo, mas para seguir o seu exemplo e aprenderem a resolver problemas sozinhos, sem ninguém mandar.

E entre o moderno empowerment e o nosso popular Santo Expedito fico com o último que tem mais a nossa maneira de ser.

Eloi Zanetti, consultor de marketing. Para contato: eloizanetti@terra.com.br

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