Às vésperas de uma formatura em Londrina, Alexandre Kleis, que morava em Curitiba, precisava cortar o cabelo e não encontrava salões com horários livres. Da preocupação pessoal nasceu a ideia de um novo negócio: e se as pessoas tivessem acesso a agendas de vários disponíveis no momento?
Depois de ter estagiado por mais de sete anos em empresas grandes, como a Eletrolux, a GVT e a Philco, o jovem resolveu investir na proposta e, em 2011, abriu com o amigo Giovanni Bonetti a primeira plataforma de agenda online da América Latina. Ela daria origem ao que hoje é a Beauty Date, startup que oferece o serviço de agendamento virtual em salões, uma espécie de Uber da beleza.
Com apenas 24 anos, os sócios abandonaram de vez o plano de fazer carreira em uma companhia de renome para construir algo que fosse deles. E logo a proposta ganhou mais um parceiro, o publicitário Fabrizzio Zampieri, que, à época, tinha 29 anos.
O trio de empreendedores reflete uma realidade comum entre os jovens brasileiros. Uma pesquisa recente da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan) mostra que dois em cada três deles planejam empreender nos próximos dois anos. Para a maioria dos 5.681 entrevistados, aspectos como a qualidade de vida, a realização de um sonho e a possibilidade de não ter um chefe são pontos primordiais para este passo. Conheça o perfil do jovem empreendedor brasileiro
O que mais pesou na decisão de Alexandre foi a oportunidade de ditar o ritmo da própria carreira. “Nas empresas por onde passei, eu me inspirava nos meus líderes, queria ser como eles. Mas, sabia que demoraria muito para chegar a um cargo de gestão”, lembra.
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É preciso tirar a ideia da gaveta
Com aproximadamente 100 funcionários, a Beauty Date tem crescido a cada ano. Mas para chegar a esse patamar vários testes foram feitos. O primeiro deles foi em 2011, com a criação do Agenda Fácil, um sistema de agendamento virtual em vários segmentos. Depois, nasceu o Agenda Saúde, voltado para a área médica e odontológica. Foi só em 2013, após uma série de pesquisas de mercado, que os sócios resolveram investir no ramo da beleza. “Eu passava dias em salões ao lado das secretárias para entender do que elas precisavam e como poderíamos ajuda-las”, lembra Alexandre.
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Segundo o consultor do Sebrae, João Luiz de Moura, o sucesso de um negócio passa mesmo por esse caminho. O especialista explica que ter uma boa ideia não basta para que uma empresa decole. É preciso testá-la, ao menos para um público menor, identificar seus pontos fracos e fortes e afunilar a proposta.
“Esse empreendedorismo de palco em que tudo é muito bom, alegre e fácil não é real. É preciso perseverar e estar preparado para o que vier”
Foi o que aconteceu com o analista de sistemas Luciano Lugli, 32 anos, sócio da Especialista do lar, franquia voltada para manutenção, reparo e reforma. Ao lado do parceiro Laercio Ribeiro Aro, submeteu a ideia da empresa a quatro fases: a primeira foi para verificar a aceitação do serviço no ABC paulista, a segunda foi expandir para a Grande São Paulo e a terceira, se estruturar sob o modelo de franquia. Atualmente, a rede se prepara para ampliar seu número de franqueados.“Se você tem um projeto, leve para o mercado, mesmo que não seja algo tão pronto, ao menos para sentir a aceitação do seu produto”, aconselha.
PLANEJAMENTO FINANCEIRO
A falta de uma reserva financeira é uma das principais dificuldades encontradas por quem quer começar a empreender. Mas, conforme orienta o Diretor Executivo da Associação Brasileira das Sociedades de Microcrédito (ABSCM), José Benício de Oliveira Neto, abrir uma empresa contando exclusivamente com empréstimos não é uma boa saída. O ideal é acumular durante um tempo o maior estoque possível de capital, dar início ao empreendimento com bastante cautela e se atentar ao fluxo de caixa mediante um controle minucioso. “A maioria das empresas falidas não quebra por conta de dívidas altas, mas por descontroles do dia a dia. Muita gente mistura, por exemplo, as contas de casa com as contas da empresa. Isso deve estar bem separado”.
Empreender tem seus desafios
Testar uma ideia requer preparo para possíveis fracassos. E empreendedores de sucesso são unânimes em admitir que o erro faz parte de qualquer grande projeto. Que o diga o jornalista João Varella, 32 anos , que, em 2013, lançou a Editora Lote 42, em parceria com os amigos Cecilia Arbolabe, 31 anos, e Thiago Blumenthal, 36 anos. Ele lembra que, durante sua atuação como repórter de economia, teve contato com muitos empresários importantes, e enxergou neles pessoas comuns, que erram e acertam todo tempo. “Esse empreendedorismo de palco em que tudo é muito bom, alegre e fácil não é real. É preciso perseverar e estar preparado para o que vier”.
E não são poucas as dificuldades que os jovens empreendedores encontram pelo caminho. Um relatório da Confederação Nacional dos Jovens Empresários (Conaje) divulgado no ano passado mostra que 30% deles enfrentam problemas com a gestão financeira, 27% com a gestão de pessoas, 25% com planejamento e 12% com questões relacionadas ao marketing. Com relação aos desafios externos, o calcanhar de Aquiles é a carga tributária elevada, encarada como entrave para 58% dos 5.060 jovens ouvidos.
É por isso que os consultores são assertivos: quer que seu negócio vingue? Não deixe de buscar conhecimento para driblar o que surgir. João Luiz orienta que o interessado pesquise livros, textos, vídeos e até cursos online sobre empreendedorismo e analise a fundo cases que possam servir de inspiração. “Fazer faculdade não é suficiente. A expertise empreendedora vai além do ensino formal”.
O especialista também ressalta que, quem nunca trabalhou precisa estar imerso de alguma forma no campo em que quer ingressar. Uma boa ideia é atuar voluntariamente no setor ou buscar estágios para adquirir experiência em atividades administrativas e de gestão.
O idealizador dos sites Empreendedor Digital e Férias Sem Fim, Bruno Picinini, reforça que esse preparo deve também estar associado à capacidade de vender o próprio produto. “Não importa se você é o sujeito que tem as ideias, vendê-las também é sua função”, diz.
Na medida do equilíbrio
João Luiz acrescenta que, antes mesmo de acreditar no próprio projeto, é importante saber sonhar com cautela. “O bom empreendedor é aquele que corre riscos calculados”, defende.
Outro ponto mencionado pelo especialista se diz respeito à dedicação ao trabalho. Na visão dele, muita gente começa a empreender pensando que vai trabalhar menos, o que é um equívoco. É por isso que, para João Luiz, a decisão de empreender deve ser alinhada com a família e os amigos. “É um projeto que vai ocupar a mente da pessoa por 24 horas. Isso requer uma análise minuciosa da própria vida pessoal”.
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