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Veja o perfil dos países e os sites especializados em vagas de emprego na África |
Veja o perfil dos países e os sites especializados em vagas de emprego na África| Foto:

Moçambique prefere criativos

Moçambique também tem o português como língua oficial, mas os brasileiros podem ter dificuldade em achar emprego lá por causa do sotaque local. É o que diz a consultora em recursos humanos Elsa dos Santos, diretora da agência de recrutamento Select Vedior. "As empresas que contratam expatriados preferem os portugueses, porque eles falam de uma maneira mais parecida com o moçambicano. O brasileiro é muito informal no ambiente de trabalho", diz. No entanto, segundo ela, essa informalidade na comunicação justamente abre as portas nas áreas de marketing e publicidade. "O brasileiro é muito criativo e sabe convencer as pessoas. Temos uma televisão aqui feita por brasileiros que é muito boa." A vantagem em relação a Angola é que a estrutura do país é melhor, já que a guerra civil pós-independência foi de 1977 a 1992. "É um país mais estável e os salários são tão bons quanto os de Angola", diz a recrutadora Cristina Pimentel, da consultoria em recursos humanos Global Career Company. Isso mesmo sem o país ter acesso aos petrodólares, ao contrário de Angola.

O paulistano Emanuel Tavares, de 29 anos, diz que é relativamente fácil encontrar emprego em Moçambique, porque o estrangeiro é visto pelos empregadores como mais qualificado e bom trabalhador. "O salário mínimo aqui é uns US$ 55 por mês, mas eu fui contratado para receber US$ 1.250 e ainda ganhei casa, água, luz, empregada doméstica e transporte pagos pelo empregador." Com formação técnica em Massoterapia e Quiropraxia pelo Senac-SP, Tavares foi contratado por um spa três anos atrás. O contrato era para ser de dois anos, tempo que ele esperava guardar dinheiro para voltar ao Brasil e abrir um negócio próprio, mas a empresa faliu dois meses depois. "Foi um choque porque eu tinha feito dívidas para vir para cá. Se eu voltasse ia levar uns cinco anos para pagá-las, mas se ficasse ia levar um ano", diz. Esse foi o período mais difícil para ele, quando chegou a ter quatro empregos ao mesmo tempo e ficava de um lado para outro de Maputo, a capital de Moçambique, nos táxis-vans. "Emagreci uns 20 quilos em dois meses."

Hoje com uma empresa própria, em sociedade com sua namorada moçambicana, Tavares diz que valeu a pena a experiência. "Eu queria sair da casa dos meus pais e estava em busca de aventura, experiência profissional e pessoal. Sabia que podia dar errado, mas hoje acho que estou mais preparado para os desafios da vida."

Profissionais bem qualificados que estão em busca de uma experiência temporária no exterior e esperam receber um bom salário para fazer um pé-de-meia e voltar têm boas oportunidades num continente pouco conhecido como destino de trabalho: a África. Os brasileiros levam vantagem onde se fala português, principalmente em Angola, por causa das similaridades culturais. Para viver do outro lado do Atlântico, porém, é preciso de jogo de cintura para enfrentar o chamado "desafio africano" – os problemas de infraestrutura devido a anos de guerras e instabilidade política.A consultora em recursos humanos Kiran Luchmun, diretora do site de empregos "Find a Job in Africa", sediado em Londres, Inglaterra, diz que em Angola há muitas vagas para diretores, gerentes, engenheiros e técnicos altamente especializados. "A indústria do petróleo e gás é a que mais contrata, já que mais de 80% do PIB angolano vem desse setor", explica. É o que diz também a brasileira Cristina Pimentel, recrutadora da consultoria em recursos humanos Global Career Company, também de Londres. Para ela, brasileiros que têm experiência em áreas específicas são os que conseguem emprego em Angola. "É para quem tem habilidades específicas, principalmente nos setores de infraestrutura, como telecomunicações e construção, mas também há vagas para tecnologia da informação e petróleo e gás", explica. As exigências são alguma experiência internacional e domínio de inglês, já que as empresas que contratam geralmente são de grande porte e multinacionais.Os atrativos são altos salários, moradia, transporte e passagens aéreas para o Brasil a cada três ou quatro meses. É o que conta a gerente administrativa Vivian Lima, mineira que mora há um ano em Angola. "O salário mínimo para um expatriado é de US$ 1,5 mil, mas um gerente consegue ganhar fácil uns US$ 4,5 mil. Pretendo ficar mais um ano, e daí volto para o Brasil com carro e apartamento comprados, porque gasto só 10% do meu salário aqui, com os benefícios da empresa", diz. Ela trabalha na Domminus, que oferece terceirização de mão de obra e prestação de serviços para outras empresas. "As vagas que temos são para pessoas jovens, de 23 a 30 anos, de preferência solteiro, com graduação e muito pró-ativo, porque é preciso muita força de vontade para trabalhar aqui."

Falta de água, eletricidade, ausência de ruas pavimentadas e transporte público são somente alguns dos percalços que atrapalham a vida do profissional em Angola. Táxi é sinônimo de "lotação". Isso sem falar no altíssimo custo de vida. "A realidade lá é completamente diferente. Um café da manhã em um hotel custa uns US$ 50", diz Cristina, da Global Career.Ou seja, quem acha que vai encontrar vida fácil por lá deve pensar duas vezes, como diz o consultor em recursos humanos Carlos Ribeiro, responsável pelo mercado angolano na Servimafa, empresa de Portugal. "Todos os expatriados vão em busca do Eldorado, mas todos passam dificuldades. Se vale a pena? Depende da pessoa. Uns querem voltar rápido, outros não", conta. Além disso, segundo ele, existe até um certo rancor dos profissionais angolanos, já que, além de todas as regalias, o salário do estrangeiro geralmente é maior.

Para evitar esse tipo de problema, o governo angolano vem implantando uma série de medidas num projeto de "angolanização" das empresas. Há cotas de funcionários locais a serem preenchidas, em quantidades que variam de acordo com o tamanho do quadro total. "Na indústria petrolífera há um tempo limite de três anos que um funcionário expatriado pode trabalhar", acrescenta a recrutadora Tânia Correia, da petroquímica Nalco. "Nós temos mexicanos, americanos e canadenses aqui, mas eles têm que transmitir seus conhecimentos a angolanos." Isso pode ser uma exigência para profissionais brasileiros bem qualificados, o que não deixa de ser uma oportunidade para desenvolver habilidades de liderança e treinamento.

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