Alexandre Amorim e Diego Moreira, da Asid Brasil, ONG criada após experiência em uma empresa júnior.| Foto: Aniele Nascimento/Gazeta do Povo

As companhias que contratam recém-formados para cargos de liderança demandam que eles tenham visão de dono de negócio. Os universitários que querem sair na frente na disputa por uma colocação encontram nas empresas juniores (EJs) uma oportunidade para dar um upgrade no currículo.

CARREGANDO :)

Geridas e formadas por alunos de graduação, as EJs prestam serviços e consultoria para empresas reais. O contato com clientes e o foco no resultado fazem com que os integrantes desenvolvam habilidades gerenciais e empreendedoras, requisitos para quem procura por uma boa colocação.

“O aluno que participou de uma empresa júnior demonstra iniciativa, criatividade e perfil empreendedor. Quando o estudante tem a oportunidade de conduzir o próprio negócio, ele entende como interagem as diversas áreas da empresa. Ele chega ao mercado com visão global ”, afirma Maiara Nakamura, sócia da Asap Recruiters em Curitiba.

Publicidade

A maioria das empresas que funcionam nas instituições de ensino é das áreas de Administração e Engenharia. No país, existem 236 EJs formadas por 11 mil jovens. No estado, de acordo com a Federação das Empresas Juniores do Paraná (Fejepar), são 75 espalhadas por 15 cidades.

Origem

O Movimento Empresa Júnior foi criado na França, em 1967, por alunos da Escola Superior de Ciências Econômicas e Comerciais de Paris. No Brasil, a ideia chegou na década de 80. Nas empresas juniores, os integrantes são voluntários e orientados por professores. O dinheiro arrecadado com os serviços prestados é revertido para manutenção da infraestrutura e capacitação dos universitários.

Depois da EJ

Os “pós-juniores”, como são chamados os jovens que fizeram parte do movimento, encontram facilidade na hora de procurar emprego justamente pelo networking que constroem durante os anos dedicados à atividade extracurricular. Foi o que aconteceu com o engenheiro mecânico Helison Bertoli, de 23 anos.

Já no segundo semestre do curso na Universidade Federal do Paraná (UFPR), o estudante entrou para a Empresa Júnior de Engenharia Mecânica da faculdade. Durante os quatros anos de CoemJR, prestou consultoria de projetos mecânicos para diversas empresas, mas descobriu nas funções administrativas sua verdadeira vocação.

Publicidade

“Durante o tempo de empresário júnior percebi que não queria ser engenheiro e sim gestor. Então, fui para a Hungria estudar gestão e administração. Durante as aulas do intercâmbio, aprendi a teoria de muitas das coisas que vivenciei na CoemJR”, conta Helison. De volta ao Brasil, ele passou no processo seletivo da Ambev e virou estagiário na área financeira.

Quando se formou, no primeiro semestre deste ano, participou de um processo seletivo interno e foi contratado como Analista de Gestão e Remuneração. Um dos fatores que influenciaram para Helison conseguir a vaga foi o networking construído nos tempos de EJ. “Quem conduziu o processo seletivo da Ambev era uma ex-participante de empresa júnior da UFPR e a vaga de analista que eu assumi era do ex-diretor de RH da mesma empresa que eu participei, a CoemJR”, explica Helison.

Comportamento

Só participar da atividade extracurricular, alertam especialista em recrutamento, não garante uma vaga. “Para o estudante aproveitar , ele tem que levar a sério. A empresa universitária tem um profissionalismo. Tem uma expectativa do outro lado, da empresa contratante. O estudante tem que se entregar aos projetos”, diz a gerente executiva da Peget Talent, Manoela Costa.

Pós juniores criam ONG que presta consultoria em gestão

Participar de uma empresa júnior pode ser um empurrão para a carreira empreendedora. A ideia de criar a Asid Brasil – organização sem fins lucrativos que presta consultorias de gestão para instituições que atendem pessoas com deficiência – surgiu quando os sócios Alexandre Amorim, 25 anos, Luiz Hamilton Ribas, 26, e Diego Tutumi Moreira, 26, estavam na faculdade.

Integrantes da JR Consultoria, empresa júnior dos cursos de Ciências Sociais Aplicadas da UFPR, eles eram responsáveis por prestar consultorias e fazer voluntariado. Na época estudante de administração, Alexandre Amorim percebeu que algumas unidades que atendem pessoas com deficiência davam certo, outras não. Ao fazer visitas aos locais, viu que o diferencial daquelas que alcançavam resultados positivos era a adoção de boas práticas de gestão.

Ele decidiu, junto com os dois colegas, montar a Asid. “Essa filosofia empreendedora veio da empresa júnior. O grande diferencial é que lá nós vemos que é possível fazer acontecer”, diz Alexandre. As técnicas empregadas na JR Consultoria ajudaram a montar a Asid em 2010. Hoje, a organização conta com 23 funcionários e atende 75 instituições em todo o estado. O dinheiro para manter o negócio vem de empresas apoiadoras e doações.

Trabalho social

O Movimento Empresa Júnior, iniciado na França em 1967, tem um viés social muito forte e isso é levado em conta na seleção dos candidatos que vão integrar a EJ. Eles trabalham com a ideia de que empreendedor é aquela pessoa que propõe soluções sociais e impactam o ambiente em que vivem. “O estudante que passou por uma empresa júnior busca oportunidades em que possa fazer a diferença”, diz Maiara Nakamura, sócia da Asap.