Com a mesma velocidade que vêm ganhando as ruas como alternativa sustentável de mobilidade urbana, as bicicletas também começam a conquistar espaço no mundo corporativo. Em Curitiba, empresas estão vendo no veículo de duas rodas um eficiente instrumento de gestão de pessoas.
A criação de uma cultura colaborativa, o incentivo a hábitos de vida saudável, o combate ao sedentarismo e a promoção da socialização entre os colaboradores são desafios que consomem tempo e recurso dos setores de RH das empresas. Com programas de incentivo ao uso da bicicleta seja como meio de transporte ou de lazer , algumas companhias estão conseguindo resultados significativos nesse sentido.
A Companhia de Saneamento do Paraná (Sanepar) é uma das pioneiras no estado a abraçar a causa das bicicletas. Com o programa EcoCiclo, a estatal estimula o uso desse veículo como meio de transporte e o ciclismo de lazer. "O uso da bicicleta traz vantagens para a as pessoas, para a cidade e para a empresa. Os benefícios podem ser medidos na área da saúde, na economia financeira, na redução de veículos nas ruas e na diminuição de emissão dos gases do efeito estufa", defende o diretor de meio ambiente da Sanepar, Péricles Weber.
Atualmente a empresa está criando uma infraestrutura com bicicletário e vestiários, adquirindo capacetes e confeccionando coletes refletivos que serão distribuídos como Equipamento de Proteção Individual (EPI) aos funcionários que optarem pelo uso da bike.
Além disso, a Sanepar também promove workshops com especialistas, que dão treinamentos sobre segurança no trânsito, oficinas de conserto e reparo da bicicleta.
"Também aderi à causa e toda sexta-feira venho pedalando em um trajeto de 15 quilômetros ida e volta. Faço questão de deixar minha bicicleta estacionada na vaga da diretoria. Isso acaba estimulando e contagiando as pessoas. Dois colegas da área de projetos começaram a vir trabalhar de bicicleta e hoje também são entusiastas", conta Weber.
Ciclovia interna
Outra empresa que aposta na bicicleta é Caterpillar, fabricante de máquinas e equipamentos. A unidade de Campo Largo, na Região Metropolitana de Curitiba, inaugurada em novembro, tem uma ciclovia interna de 250 metros que liga o portão de entrada ao bicicletário da unidade, que tem capacidade para até 90 bicicletas.
A adesão às duas rodas na empresa representa quase 25% do quadro de funcionários: dos 290 trabalhadores da unidade, em média 70 vão diariamente trabalhar de bicicleta sem que nenhuma campanha de estímulo tenha sido realizada até agora. Segundo a empresa, o planejamento de 2012 prevê programas focados na bicicleta para promover a qualidade de vida dos seus funcionários.
O Instituto Curitiba de Informática (ICI) também tem um programa institucionalizado de estímulo ao uso do veículo. A empresa instalou um bicicletário e construiu vestiários para facilitar de quem vai trabalhar pedalando.
A Companhia de Informática do Paraná (Celepar) criou o projeto Transporte Livre a partir de uma iniciativa da Comissão Interna de Prevenção de Acidentes (Cipa).
O programa foi selecionado para participar em junho do ano passado da Conferência Mundial de Mobilidade, em Portland, nos Estados Unidos. Com o projeto, cerca de 10% dos funcionários da Celepar utilizam a bicicleta para ir ao trabalho ao menos uma vez por semana.
França e Bélgica adotam "bolsa pedal"
Alguns países europeus criaram programas de incentivo para as empresas que estimulam seus funcionários a usar a bicicleta como meio de transporte. Na Bélgica, por exemplo, as companhias pagam 21 centavos de euro (aproximadamente R$ 0,47) por quilômetro pedalado pelos funcionários no percurso diário entre a casa e o trabalho. O sistema é financiado de forma facultativa pelas empresas, que, em contrapartida, podem deduzir esses gastos nos impostos devidos ao governo.
Economia
No fim de janeiro, o ministro dos Transportes da França, Thierry Mariani, anunciou a implantação de um programa semelhante em seu país. A medida custará ao governo cerca de 20 milhões de euros (R$ 45,3 milhões) para financiar os 2 milhões de cidadãos franceses que usam a bicicleta regularmente.
Segundo o ministro, a medida deve gerar uma economia de 5,6 bilhões de euros (R$ 12,6 bilhões), além dos benefícios indiretos, como o combate ao sedentarismo, melhora na saúde e redução da emissão de gases poluentes.
Viabilidade
O modelo de subsídio aos usuários da bicicleta teria viabilidade econômica se implantado no Brasil. Em Curitiba, o sistema seria mais econômico que o subsídio do vale transporte para quem mora a até cinco quilômetros de distância do trabalho (10 quilômetros pedalados por dia no trajeto ida e volta).
O trabalhador curitibano recebe em média R$ 110 de vale transporte por mês, considerando o uso de duas passagens por dia útil. Caso o mesmo modelo europeu fosse adotado por aqui, com o custeio de R$ 0,47 por quilômetro rodado, o gasto mensal com a "bolsa pedal" seria de R$ 103,40 por funcionário.
Para a empresa, a economia em um ano chega a R$ 79,2 por funcionário, além dos eventuais subsídios fiscais da legislação. Já para o trabalhador, o subsídio pode representar um dinheiro a mais no bolso além de todos os benefícios indiretos ligados ao uso desse meio de transporte.