De pintor a líder, aproveitando chances
Neste ano os funcionários da Volkswagen se formam na primeira turma do curso de Gestão da Produção Industrial Automobilística, uma iniciativa da montadora de São José dos Pinhais (Região Metropolitana de Curitiba), que, há três anos, iniciou o programa em parceria com o Centro Tecnológico da Universidade Positivo.
Os cerca de 40 estudantes que acabaram de finalizar o trabalho de conclusão de curso possuem um perfil semelhante: todos já atuam no mercado de trabalho, a maioria em unidades produtoras de veículos da região. É o caso do líder de Manufatura Leandro Andreolli, 34 anos. Ele começou na empresa em 2001 como pintor de linha, participou de diversos treinamentos e recrutamentos internos, e hoje é responsável por coordenar uma equipe de 48 pessoas da Pintura.
Andreolli conta que ficou seis anos sem estudar, mas sempre almejou uma função melhor. "Não dá para ficar parado. Eu busquei a faculdade porque na empresa existiam oportunidades e eu queria aproveitá-las. Além de tudo, tem o subsídio da empresa, e isso dá uma injeção de ânimo", ressalta.
Vestibular
Luciana Partel, gerente de Recursos Humanos da Volkswagen em São José dos Pinhais, explica que o curso surgiu para dar a qualificação adequada aos funcionários, oferecendo uma visão geral sobre o funcionamento da montadora. Para isso, os empregados realizam vestibular na instituição e aqueles que apresentam mais potencial são selecionados para receber o auxílio.
De acordo com Luciana, a empresa paga 70% do curso e o aluno banca os 30% restantes (cerca de R$ 150). "É um valor simbólico, para que ele valorize também o curso, que dura três anos. Não queremos parar por aqui, queremos ampliar o curso, porque a união da escola com a empresa é uma tendência no setor, para a formação de profissionais e o desenvolvimento do país", salienta.
Para o consultor de RH Marcelo Maulepes, é difícil mensurar o retorno do investimento na qualificação do profissional, mas ele destaca que há benefícios para toda a sociedade. "São projetos caros e o retorno não é mensurável, é difícil calcular retorno, mesmo porque a empresa não está investindo apenas nela mesma, mas tem toda a questão social, com investimento em educação", pontua.
Com a falta de mão de obra qualificada, as empresas vêm encontrando dificuldades para encontrar funcionários com as características necessárias para preencher seu quadro. Por isso, passaram a investir em desenvolvimento profissional para reter empregados e desenvolver seus líderes no próprio quintal o conceito de "universidade corporativa" deve ser uma tendência para os próximos anos, segundo consultores.
Grandes empresas já investem no desenvolvimento profissional de seus funcionários desde antes da década de 1980. Naquela época, o maior problema era a falta de aperfeiçoamento educacional. Hoje, além de questão da escolaridade, há carência de profissionais e necessidade de especialização para ampliar a competitividade.
Apesar de exigir investimento, empresas de todos os tamanhos podem investir em universidades corporativas. "Por causa da falta de mão de obra qualificada, a empresa se vê obrigada a cuidar do desenvolvimento do seu profissional, por qual meio for. O importante é ter ações de desenvolvimento. Pode ser para pequenas, médias e grandes empresas, basta haver uma adequação do negócio", analisa Denise Lustri, diretora da Cohros, empresa especializada em gestão de pessoas.
Pós-graduação
Há exemplos de investimento em qualificação em todos os setores, da cidade ao campo. Preparando-se para enfrentar a concorrência global no setor de cana-de-açúcar, desde 2010 a Universidade Corporativa do Setor Sucroenergético (UniCeise) tem cursos como pós-graduação (MTA) em Gestão de Tecnologia Industrial Sucroenergética e MBA em Gestão Empresarial no Setor Sucroalcooleiro. "Precisávamos aumentar a competitividade nas usinas, já que muitas multinacionais estão vindo ao Brasil para atuar no setor. É uma requalificação dos profissionais. Administradores e engenheiros que estão entrando nas usinas precisam se especializar, tendo um olhar global sobre o setor sucroenergético", explica Janaína Andrioli Calor, coordenadora da UniCeise.
Cada departamento de gestão de pessoas define seus critérios para elencar quais serão os funcionários que receberão o treinamento, mas em geral as empresas levam em conta o tempo de casa, a importância da função e a escassez da especialidade no mercado outras realizam até vestibular (veja mais nesta página).
Marcelo Maulepes, consultor de RH e diretor da Relatom, empresa de consultoria e gestão empresarial, destaca que há o temor do assédio de concorrentes na hora de investir na qualificação dos profissionais, mas não é isso que define o investimento. "A concorrência é um risco, mas não é ela que vai definir o programa ou não, mesmo porque não é apenas o curso que vai determinar a permanência ou não do funcionário, mas todo o ambiente de trabalho. A universidade corporativa deve ser uma tendência forte nos próximos anos e acredito que deveria haver incentivos fiscais e tributários para as empresas que investem na formação de seus funcionários", destaca.
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