O videogame pode ser a porta de entrada para uma profissão. Mas gostar de jogar não é suficiente para entrar nesse mercado. Muita gente está preferindo ir para o outro lado do processo e criando seus próprios games. Assim, eles encontraram uma forma de transformar o hobby em uma carreira que pode ser bastante lucrativa.
E o crescimento desse mercado vem conquistando profissionais de diferentes áreas. Segundo o coordenador do curso de Jogos Digitais da PUCPR, Bruno Campagnolo, a multidisciplinaridade do setor atrai não apenas programadores, mas também artistas visuais, designers e músicos. Para ele, é muito difícil alguém que domine todas as áreas da produção e o segredo está em saber dialogar com esses diferentes setores.
Outro ponto que chama a atenção é a facilidade de entrar no mercado graças à expansão dos dispositivos móveis. “ Os jogos mobile tornaram tudo mais acessível. É possível competir com as grandes empresas mesmo não sendo conhecido”, explica o responsável pelo curso de Aplicativos em Jogos Digitais da Universidade Positivo, Michael Pizzatto.
De acordo com ele, o perfil casual do jogador brasileiro faz com que as maiores oportunidades para os desenvolvedores estejam nos smartphones, principalmente pela facilidade de autopublicação e a possibilidade de vender em dólar. Contudo, Campagnolo relembra que esse formato também tem seus problemas. “Como a loja é muito grande, é muito difícil se destacar. Você é apenas mais um e depende de todo um trabalho de marketing para se diferenciar”, diz.
Do Brasil para o mundo
Mas o mercado não se resume apenas a jogos de celular . Mesmo sem a potência de países como Estados Unidos, Canadá e Japão, o Brasil já conta com vários estúdios espalhados pelo país, como as curitibanas Freddy Bear e Signum. E os salários podem ser bem atrativos. “Um profissional recém-formado pode ganhar entre R$ 1.200 e R$ 1.800, mas alguém bem qualificado consegue até R$ 4 mil em uma pequena ou média empresa”, revela Pizzatto.
Outra possibilidade é trabalhar no exterior. De acordo com Campagnolo, é comum que muitos desenvolvedores façam serviços para empresas estrangeiras e outros até se arriscam em uma carreira internacional. “O brasileiro é criativo e sabe se virar. Ele sabe encontrar soluções e é bem valorizado lá fora”, conta o professor, que destaca que um bom portfólio é o melhor caminho para qualquer criador de games.
A participação em eventos e concursos é outra maneira de entrar no mercado estrangeiro ou mesmo de conseguir visibilidade para o seu projeto. Segundo o organizador da Brasil Game Show, Marcelo Tavares, é muito comum que executivos das grandes companhias visitem essas feiras em busca de projetos locais. “No ano passado, o gerente do Xbox veio ao Brasil com esse objetivo e fechou vários acordos com produtores locais”, conta. Para ele, há um grande volume de empresas brasileiras começando a surgir e mostrando ao mundo o que está sendo feito aqui.
Gostar de jogar não é o bastante para virar desenvolvedor games
Para se tornar um produtor de jogos, gostar de passar horas em frente ao videogame não é o suficiente. Na verdade, é apenas o começo. “É muito comum a decepção dos alunos que acham que vão apenas jogar. O que menos você faz dentro da área é jogar”, explica Bruno Campagnolo. Segundo ele, essa falsa impressão faz com que o índice de desistência seja relativamente alto.
Na área de programação, esse impacto é mais comum por conta das exigências da área. O professor conta que o programa de aulas é bem específico, pois abrange desde conteúdo de computação até elementos de Física e Matemática.
Já o coordenador do curso da Universidade Positivo destaca outra exigência para quem pensa em se tornar um criador de conteúdo: deixar de olhar o game apenas como entretenimento. De acordo com Michael Pizzatto, não se pode mais continuar sendo apenas um jogador. “A pessoa precisa jogar e entender porque ele é feito daquela forma. É jogar algo que você não gosta para descobrir o porquê de seu sucesso. Essa é a maior dificuldade de quem entra na área”.
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