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Ansiedade

Estresse e pressão excessivos no trabalho podem levar à síndrome de burnout

Uma das consequências do estresse extremo é a síndrome de burnout, que surge quando a tensão emocional e o estresse crônico no ambiente de trabalho culminam no esgotamento do trabalhador. | Bigstock
Uma das consequências do estresse extremo é a síndrome de burnout, que surge quando a tensão emocional e o estresse crônico no ambiente de trabalho culminam no esgotamento do trabalhador. (Foto: Bigstock)

Entre prazos apertados, má distribuição de tarefas, cobranças desproporcionais, metas inalcançáveis e dificuldades de relacionamento, não faltam exemplos de fontes de estresse na vida profissional. E elas, muitas vezes, ultrapassam as paredes do ambiente de trabalho e nos fazem estourar — um pedido de socorro do nosso organismo. 

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Uma das consequências pode ser a síndrome de burnout, que surge quando a tensão emocional e o estresse crônico no ambiente de trabalho culminam no esgotamento do trabalhador. Descrito pela primeira vez em 1974 pelo psicanalista Herbert J. Freudenberger, o distúrbio psíquico se manifesta especialmente em pessoas que atuam em posições que requerem envolvimento pessoal e direto com o público. Entre os mais afetados estão professores, médicos, enfermeiros, assistentes sociais, policiais e agentes penitenciários. 

Um estudo publicado na Revista Brasileira de Terapia Intensiva avaliou a saúde de 180 médicos de terapia intensiva de cinco capitais nacionais (Porto Alegre, São Paulo, Salvador, Goiânia e Belém) e encontrou “elevada prevalência da síndrome de burnout” entre os participantes.

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“Níveis elevados de exaustão emocional, despersonalização e ineficácia foram encontrados em 50,6%, 26,1% e 15%, respectivamente. A prevalência de burnout foi de 61,7%, quando considerado nível alto em pelo menos uma dimensão e de 5% com nível alto nas três dimensões simultaneamente”, escrevem os autores.

O perfil dos acometidos pela síndrome também inclui indivíduos muito perfeccionistas e muito entregues à profissão. “Eles vão até o último fio de energia”, aponta Carlos Augusto Maranhão de Loyola, membro da Associação Paranaense de Psiquiatria (APPSIQ) e da Câmara Técnica de Psiquiatria do CRM-PR. “Têm, ainda, as questões organizacionais. Não conta só a atuação do trabalho, em si, mas também a relação com as pessoas e a presença de assédio moral”.

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Em inglês, a palavra “burnout” pode ser usada também para definir a “queima completa” de alguma coisa — por exemplo, o consumo total do combustível de um carro. Essa é uma analogia válida sobre o que acontece com uma pessoa que sofre com a síndrome: seu corpo diz um “basta” depois de ter consumido toda a energia disponível.

“É diferente do simples estresse no trabalho”, diz o psiquiatra do Hospital de Clínicas da Universidade Federal do Paraná (HC-UFPR) Luiz Renato Carazzai. “De certa forma, o organismo dá uma resposta diferente ao estresse”. 

Estigma no caminho do diagnóstico, principalmente dos colegas

O transtorno mostra uma grande variedade de sintomas físicos e emocionais. Profissionais afetados podem apresentar taquicardia, taquipneia, dor no peito, amortecimento nas mãos, tremores, dores de cabeça, chiado ou zumbido nos ouvidos, tontura, náuseas, vômito e diarreia. Indicações emocionais incluem mudanças bruscas de humor, aumento da ansiedade e irritabilidade, apatia, desmotivação e dificuldade de concentração. 

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O diagnóstico é feito pela entrevista com um médico laboral ou psiquiatra. Porém, o estigma sobre a saúde mental pode entrar no caminho da ajuda especializada. “De certa forma, as empresas ainda têm uma dificuldade não só com o burnout, mas com todos os quadros psicoemocionais”, opina Carazzai.

Para ele, como não é possível diagnosticar essas doenças com exames como raio-x ou tomografia, ainda que existam critérios médicos sólidos, há uma impressão de que identificação do problema é subjetiva.

Já para Loyola, a maior dificuldade não está em lidar com os gestores de recursos humanos, mas sim com o preconceito dos colegas. “Devagar os setores de RH vão dando mais conta da complexidade e das dinâmicas trabalhistas associadas à saúde mental e vão fazendo com que as empresas deem mais atenção”, diz. “Mas o colega que nunca vivenciou algo parecido tende a julgar como corpo mole, preguiça ou falta de comprometimento”. 

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Afastamento do trabalho

A partir do diagnóstico, a síndrome de burnout pode ser tratada com acompanhamento psicoterápico, farmacologia ou, na maioria das vezes, um misto dos dois. O especialista do HC-UFPR explica que podem ser usadas estratégias de enfrentamento para situações de estresse, técnicas de terapias cognitivas comportamentais ou métodos um pouco mais objetivos, que identificam as situações de gatilho e criam mecanismos internos de enfrentamento.

“Hoje, quase um terço dos afastamentos são ligados a algum sintoma psicoemocional. Isso chama a atenção”, destaca Carazzai que acrescenta que mesmo afastamentos por outros fatores, como hipertensão, podem estar ligados a transtornos de ansiedade.

Segundo dados da Secretaria da Previdência, em quatro anos, as concessões de auxílio-doença por transtornos de ansiedade cresceram 17%: de 22,6 mil, em 2012, para 26,5 mil, em 2016. 

Para o psiquiatra, o aumento no registro de casos se dá por vários fatores. Além desse tipo de patologia ter se tornados mais conhecido recentemente, as relações de trabalho atualmente são mais intensas —portanto, mais estressantes. “E crises sociopolíticas ou econômicas também influenciam. Com elas, existe uma pressão maior [sobre o trabalhador] e a resposta [do corpo] muitas vezes é distorcida”.

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Ele ainda conta que transtornos clínicos relacionados ao estresse, como gastrite, úlcera ou problemas cardíacos, frequentemente têm um tempo de recuperação menor do que uma doença psiquiátrica. Ou seja, tratamentos de ordem mental acabam custando mais para as empresas do que atentar à prevenção.

A necessidade da promoção da saúde mental nas empresas

O processo emocional que leva à síndrome de burnout não é abrupto. Ela se instala gradualmente, com alterações de humor e comportamento que, eventualmente, desencadeiam uma crise. É só então que vem o diagnóstico, quando a saúde já está bastante debilitada e a produtividade igualmente reduzida. 

Por isso, vale o ditado: prevenir é melhor do que remediar. Empresas precisam desenvolver programas de atenção à saúde mental, identificando ambientes mais suscetíveis e estratégias de precaução. “Pode haver palestras, sessões de relaxamento, yoga ou atividade física, reuniões mais terapêuticas para abordar conflitos”, exemplifica Carazzai. “Cada empresa, com as suas características, precisa desenvolver a política com o médico ocupacional”. Com custos baixos, estratégias aparentemente simples têm grandes resultados para a saúde dos profissionais.

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