Você leva horas para se desligar do trabalho, vai para a cama com o celular na mão, dorme tarde e acorda cedo. No fundo, sabe que esses maus hábitos fazem muito mal à sua saúde, mas simplesmente não consegue abandoná-los. Para quem ainda está refém desse círculo vicioso, aqui vai mais um motivo para rompê-lo: seu sono ruim pode custar bilhões para o seu país.
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As razões são diversas. Segundo o estudo “Por que o sono importa? Os custos econômicos do sono insuficiente”, realizado pelo RAND Corporation, um instituto norte-americano de pesquisa, dormir menos de sete horas diárias pode colaborar para o desenvolvimento de várias doenças e aumentar risco de mortalidade em 13%, o que afeta o volume de mão de obra.
Além disso, o problema tende a diminuir significativamente os níveis de produtividade, além de aumentar o número de faltas por doenças e reduzir a motivação do trabalhador.
Outro fator apontado pela pesquisa diz respeito à falta de descanso entre crianças e jovens adultos, que pode levar muita gente a um mau desempenho escolar e laboral ao longo de toda vida. Isso se reflete em perdas significativas ao mercado de trabalho.
De acordo com o RAND, que comparou dados de adultos entre 25 e 55 anos das cinco maiores economias do mundo (Estados Unidos, Alemanha, Reino Unido, Japão e Canadá), estes aspectos somados podem gerar prejuízo não apenas para companhias, mas também para países inteiros. No Japão, por exemplo, a perda anual vai de US$ 88 a US$ 138 bilhões, o equivalente a uma média de 2,92% do seu produto interno bruto (PIB).
Os Estados Unidos são os mais afetados: perdem algo entre US$ 280 e US$ 411 bilhões do seu PIB todos os anos. Segundo dados do Centro de Controle e Prevenção de Doenças no país, ao menos um terço dos adultos de lá não dormem adequadamente.
No Reino Unido, a perda chega a US$ 50 bilhões, o equivalente a 1,86% da produção do país. Na Alemanha, o valor estimado é de US$ 60 bilhões (1,56%) e, no Canadá, de US$ 21,4 bilhões (1,35%).
Prejuízos
A pesquisa do RAND não foi a primeira a mostrar os danos econômicos das noites mal dormidas. Em 2011, a Academia Americana de Medicina do Sono chegou a revelar que trabalhadores com insônia produzem o equivalente a 11 dias a menos por ano, podendo render aos Estados Unidos um prejuízo anual de 63 bilhões de dólares.
Nas grandes companhias, a questão pode afetar significativamente o desempenho dos gestores mais importantes. Segundo o estudo “O Custo Operacional do Sono Insuficiente”, realizado pela consultoria McKinsey e divulgado no início deste ano, o sono ruim prejudica a performance de executivos ao comprometer comportamentos fundamentais para a liderança. Nestes casos, a atuação financeira das empresas tende a ser impactada.
No Brasil, uma pesquisa do International Stress Management Association no Brasil (Isma-Br) mostrou que, em 2015, metade da população sofria de algum distúrbio do sono. E há mais de 80 tipos deles. O estudo também revelou um aumento de 6% no número de indivíduos que dormem mal, o que, segundo especialistas, é uma tendência comum, já que o mundo moderno abarca uma cultura que encara o descanso como perda de tempo.
Mudanças
O RAND defende que pequenas mudanças no dia a dia das pessoas para melhorar a qualidade do sono pode ter impactos positivos nacionais. Se os trabalhadores que dormem seis horas começarem a dormir sete podem ajudar a acrescentar US$ 226, 4 bilhões à economia nos Estados Unidos, US$ 75,7 bilhões no Japão, US$ 34,1 bilhões na Alemanha, US$ 29,9 bilhões no Reino Unido e US$ 12 bilhões no Canadá.
Para impulsionar estes avanços, o instituto fornece orientações a funcionários, empregadores e autoridades públicas. Segundo os pesquisadores, o trabalhador precisa praticar bastante exercícios físicos, ter horários fixos para ir dormir e limitar o uso de aparelhos eletrônicos pouco antes de ir para a cama.
As companhias, por sua vez, devem reconhecer a importância de um sono de qualidade, combater problemas psicossociais na empresa e desenvolver ambientes produtivos de trabalho. Cabe ao setor público investir em profissionais da saúde para auxiliar no combate ao problema, estimular as organizações a prestarem atenção nos estudos sobre os efeitos da falta de sono e pensar em horários escolares que comecem mais tarde.