O Ministério da Fazenda não quis se pronunciar, nesta quinta-feira, sobre as notícias de que o ministro Antonio Palocci poderia deixar o cargo por causa de divergências com a ministra chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, e das pressões por causa das acusações em CPIs sobre o período em que ocupava a prefeitura de Ribeirão Preto. Palocci passou a manhã desta quinta-feira na Granja do Torto reunido com o presidente Lula, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, o senador Aloizio Mercadante (PT-SP) e o presidente do PT, Ricardo Berzoini. À tarde, o ministro deve ficar no Palácio do Planalto.
As atenções do Planalto devem ficar voltadas hoje para o depoimento do ex-assessores do ministro na prefeitura de Ribeirão Preto, Vladimir Poletto e Rogério Buratti, na CPI dos Bingos. Poletto declarou à revista "Veja" ter participado de um esquema de recebimento de US$ 3 milhões do governo de Cuba para a campanha do presidente Lula em 2002.
As críticas da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, à proposta de uma política fiscal de médio e longo prazos apresentada pelo ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, irritaram profundamente o ministro Palocci. Ontem ele tratou do assunto com o presidente Lula e voltou a reforçar suas queixas hoje no encontro com o presidente na Granja do Torto.
Notícias publicadas nesta quinta-feira dão conta de que as divergências com Dilma levaram Palocci a considerar a sua saída do governo. Motivo: o presidente Lula está enfrentando uma disputa entre a Casa Civil, de um lado, e Fazenda e Planejamento, do outro, em relação a um aprofundamento do aperto nas contas públicas, e Palocci não gostou de duras críticas da ministra à política econômica e ao programa fiscal de longo prazo que ele e o ministro Paulo Bernardo têm proposto. Em entrevista a "O Estado de S. Paulo", Dilma disse que a proposta é "rudimentar" e o debate, "desqualificado".
Segundo "O Globo", no Congresso e na Esplanada correu informação extra-oficial de que Lula estaria apoiando a posição de Dilma, mas não faria uma declaração pública para não fragilizar ainda mais Palocci, alvo de investigações das CPIs.
Reportagem de capa do jornal "Valor" desta quinta-feira também destaca o conflito: "Abatido com o cerco que vem sofrendo no Congresso e no próprio governo, o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, já pensa em deixar o cargo. Nos últimos dias, manifestou essa possibilidade a assessores do presidente Lula e a pelo menos um interlocutor no Congresso. O efeito da entrevista sobre Palocci foi "devastador", segundo parlamentar próximo do ministro. Assessores de Lula afirmaram que só haveria duas alternativas para o caso: a demissão da ministra ou uma nota oficial com pedido de desculpas. Nenhuma delas foi considerada ontem (quarta-feira). As críticas de Dilma vieram em um momento muito delicado, em que a oposição dá sinais de que não protegerá mais o ministro, como fez desde o início da crise política".
Segundo a "Folha de São Paulo", Palocci disse a Lula que se sente "cansado". Reclamou que faz "jornada dupla" (gerenciar a economia e a crise) "e ainda tem de ouvir críticas numa hora de fragilidade". O presidente, segundo o diário paulista, "pediu calma", afastou a "hipótese de saída e prometeu falar com Dilma".
Na equipe econômica do governo foi considerada absurda a avaliação feita por Dilma sobre o ajuste fiscal. A proposta vem sendo apresentada por Paulo Bernardo como forma de preservar Palocci de tantas cobranças sobre a ortodoxia da política econômica.
Segundo técnicos do governo, é essencial para o Brasil um plano que garanta o crescimento econômico não só agora, mas no futuro.
- Esse objetivo não vai mudar. Não vai haver qualquer mudança na política econômica - disse um técnico.
O pior das críticas de Dilma, segundo auxiliares da equipe econômica, foi o desgaste político para Palocci e Bernardo. As declarações foram consideradas graves porque desautorizaram os ministros. Foi lembrado que o ex-chefe da Casa Civil José Dirceu discordava da política econômica, mas nunca enfrentou a equipe tão frontalmente.
Apesar de o Planalto ter passado ontem uma imagem de entendimento entre os dois grupos, o clima é de crise. Paulo Bernardo passou a tarde ontem no Planalto e se encontrou com Dilma. Segundo deputados petistas, o ministro também está irritado com as declarações da chefe da Casa Civil e cobrou satisfações.
Na reunião da Câmara de Política Econômica, no Planalto, Palocci conversou com Dilma. Depois da conversa, a ministra ligou para Bernardo e tentou pôr panos quentes na situação.
Em conversas com ministros, Lula foi claro nos últimos dias: o rumo da política econômica não deve ser alterado em hipótese alguma. Mas também não é para cometer excessos. Lula está muito incomodado com o superávit primário recorde e teria dado sinal verde para que a Dilma enquadrasse Bernardo. A ordem é gastar mais até o fim do ano.
Lula está convencido do argumento dos aliados de que se continuar com esse arrocho suas chances de reeleição serão menores, pois o crescimento será afetado.
- Está na hora de fazer um esforço para o crescimento. O país não tem condições de fazer um superávit primário de 6% do PIB. Quanto maior o crescimento, menor o custo do ajuste fiscal - disse o líder do governo no Senado, Aloizio Mercadante (PT-SP), reforçando a posição de Dilma Rousseff.
A avaliação no governo é de que Bernardo está se queimando para proteger Palocci. Mas já há quem considere suicida a estratégia do ministro do Planejamento. Na base aliada, ele é duramente criticado.
- O ministro Paulo Bernardo está querendo ser mais realista que o rei - disse o líder do PCdoB na Câmara, deputado Renildo Calheiros (PE).