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Imagine uma sexta–feira antes de um temporal ao final de tarde de uma semana excepcionalmente agitada e muitas coisas ainda por fazer. Arruma-se uma brecha no tempo e corre-se a uma casa com placa de "aluga-se" para olhar qual era a imobiliária. Chovia, então. Anota-se o número. Mil ligações nos entremeios; imprevistos e desencontros. Liga-se e fala-se com a pessoa do atendimento para saber que chaves de imóveis não dormem fora; impossível.

Era preciso voar, pegar a chave e ver o imóvel. Inútil dizer que alguém mais iria junto no sábado pela manhã e a chave preciosa poderia ser devolvida antes do almoço. Descobri que chaves são virgens e não podem passar a noite fora. Tudo bem, regras são regras, ainda que tolas.

Chuva. Descer do carro, buscar a chave deixando um documento para assegurar a devolução (nunca se sabe em tempos de "sem casa"!), e de volta ao imóvel. Chove. E a chave está errada; não é daquele imóvel.

Imagine agora o caminho de volta para pegar o documento. A chave, até poderia ter seu dia de balada, mas o documento não. Ora, isso acontece dirão alguns. Sim, acontece mesmo, todos os dias.

Mas defendo a idéia de que o que faz a diferença entre as pessoas e as empresas é a postura em relação a erros, esquecimentos, desatenção etc. Voltei, falei que estava errada, ninguém disse nada e fui embora. Além do documento havia deixado o número do celular.

Ingenuamente fiquei esperando um telefonema! Não acreditava que a profissional responsável não ligasse para dizer que lamentava, que enviaria a chave para algum lugar, que se oferecesse para acompanhar a visita no sábado pela manhã etc, etc, etc. Mil e uma alternativas para solucionar o meu desejo: ver a casa. E possivelmente uma opção para alugar naquele fim de semana. Um telefonema e eu ficaria sem graça, pediria desculpas pela minha pressa e excesso de compromissos. Assumiria a "minha culpa", ela a dela e todos ficaríamos contentes. Com um pouquinho de jeito ela me locaria naquela tarde chuvosa. Eu estava sensível.

Mas a realidade não é bem assim. E esse é o mundo da prestação de serviços. Quantas opções ela teria para atrair um potencial cliente, conquistando-o. Quantas idéias poderia ter (e fazer!) para surpreendê-lo ou encantá-lo. Começando por um simples telefonema. Mas isso parece que não faz parte do roteiro.

Imaginei que ela, a corretora, continuaria lá, sentada atrás da mesa, esperando o dia acabar. Acordaria no dia seguinte lamentando o mercado em baixa. Reclamaria da empresa, da chefia, dos outros. Sem saber como pode ser simples fazer negócios.

Maria Christina de Andrade Vieira, empresária e escritora, autora de Herança (Ed.Senac-SP), Cotidiano e Ética: crônicas da vida empresarial (ed. Senac-SP).chris@onda.com.br www.andradevieira.com.br

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