Atire a primeira pedra quem nunca sonhou ter um fim de semana com um dia a mais. Pois este não é um ideal tão inatingível como se pensa. Para muitos pesquisadores, a ideia é até boa e pode reduzir desde emissões de carbono na atmosfera até custos com horas extras nas empresas.
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Há também quem defenda que uma folga esticada é capaz de aumentar a produtividade e o bem-estar dos funcionários ou ainda prevenir o desemprego e outros problemas sociais frente ao avanço da tecnologia no mercado de trabalho. Experiências interessantes não faltam para fundamentar estas teses.
O governo de Utah, nos Estados Unidos , por exemplo, suprimiu a sexta-feira da semana laboral de seus funcionários, em 2007. O resultado foi a economia de US$ 1,8 milhão em energia em apenas 10 meses.
Além disso, como os trabalhadores precisavam se deslocar menos de casa para o serviço, houve uma diminuição de mais de 12 mil toneladas na emissão de CO2 por ano. A medida sobreviveu só até 2011. Mas o tempo foi o suficiente para mostrar que a ideia poderia, sim, ser viável.
O fator saúde
Para os adeptos da proposta não é apenas o planeta que ganha com a mudança. A saúde das pessoas também é impactada. Segundo o médico e professor britânico John Ashton, acrescentar um dia ao fim de semana pode reduzir os níveis de estresse dos trabalhadores e prevenir problemas de pressão arterial, além de tornar os funcionários mais felizes.
Um estudo publicado pela revista “The Lancet” também se ateve aos lucros da redução da carga horária para a saúde. A pesquisa revelou que os colaboradores submetidos a jornadas de 55 horas correm 33% mais risco de desenvolver um acidente vascular cerebral do que pessoas com carga de até 40 horas. Além disso, quem trabalha menos dorme melhor e possui 13% menos chance de desenvolver doenças coronárias.
No Reino Unido, a adesão à proposta é alta. Um levantamento da empresa de pesquisa YouGov mostrou que 57% dos trabalhadores por lá apoiam a medida e que, para 71% deles, o país poderia ser um lugar mais feliz para viver caso houvesse esta mudança.
Gestão de pessoas
A redução da semana laboral pode servir também como uma boa política de retenção de talentos e ainda aumentar a produtividade de uma companhia. É o que mostra o exemplo da Treehouse, startup de ensino de webdesign online, que aderiu à ideia para oferecer um diferencial aos seus funcionários. Por não estar entre as poderosas do Vale do Silício, a empresa se utilizou da alternativa como um atrativo na disputa por profissionais de destaque.
O bom desempenho dos colaboradores foi outro ganho que chegou com a implantação do projeto, conforme revelou o diretor-executivo, Ryan Carson, à revista “Inc”. Na visão dele, seu pessoal chega para trabalhar muito mais descansado e bem disposto e isso aumenta o rendimento das equipes.
Trabalho do futuro
Na concepção de muitos especialistas, o emprego do futuro passa por uma reconfiguração da carga horária dos trabalhadores. Para Alex Williams, professor da Universidade de Londres, e coautor do livro “Inventar o futuro: pós-capitalismo e um mundo sem trabalho”, a mecanização de grande parte das atividades vai revolucionar o mercado e demandar novos formatos de gerir o tempo das pessoas, com um uso menor de energia e menos força de trabalho humana.
A alternativa do especialista para aproveitar o que o avanço tecnológico tem a oferecer e ao mesmo tempo prevenir prejuízos sociais é encurtar a semana laboral e, entre outras ações, instituir uma renda básica universal.
Também de olho no mercado do futuro, a especialista do Instituto New Economics Anna Coote vai ainda mais longe e aposta na semana de três dias, com 21 horas. Ela defende que a iniciativa pode reduzir a carga de trabalho, as emissões de carbono, as desigualdades sociais, além de colaborar para uma vida melhor e mais sustentável.
O professor Ryan Carson partilha desta perspectiva e consegue enxergar limitações da distribuição das horas laborais ainda hoje. Para ele, o tempo trabalhado é mal distribuído e esse problema acarreta, inclusive, no aumento do desemprego. “Um grande número de pessoas trabalha loucamente enquanto uma parcela significativa dela população não consegue emprego”, disse o especialista em entrevista ao jornal “The Guardian”.