Desde o dia primeiro (1º), começou a valer na França uma lei que dá aos trabalhadores o direito legal de ignorar e-mails e outras formas de comunicação de colegas e chefes quando estão fora do horário de trabalho. Chamada de “direito de desconectar”, a nova lei diz que as empresas têm de negociar com seus empregados os termos de comunicação, uma medida que para o governo deve redefinir a linha cada vez mais tênue que divide o trabalho e o lazer.
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Ao mesmo tempo em que a tecnologia mudou o local de trabalho e as expectativas das companhias, mais trabalhadores viram suas agendas metas mudarem. Hoje, a muita gente acredita que o trabalho em horário comercial está se tornando fora da realidade, com maior espaço para freelancers e trabalhos sem horários definidos.
Enquanto a flexibilidade pode ajudar empregados a construírem um balanço vida pessoal/trabalho melhor, novas tecnologias trazem a possibilidade de os limites entre essas duas coisas ficarem confusos, o que pode causar mais estresse, na opinião da chefe de recursos humanos da CareerBuilder, Rosemary Haefner.
Excesso de trabalho
Em média, um americano trabalho 47 horas por semana, e 17% dizem que têm dificuldade de encontrar um balanço entre vida pessoal e trabalho suficiente para aproveitar atividades de lazer sem distrações trazidas pelo trabalho. Na França, a carga de 35 horas por semana é a norma, a intrusão de empregadoras através da comunicação digital se tornou um problema, levando os legisladores a aprovarem a nova lei em maio passado.
“Todos os estudos mostram que há muito mais estresse relacionado ao trabalho do que no passado, e esse estresse é constante”, disse na época o parlamentar socialista Benoit Hamon. “Os empregados deixam fisicamente o escritório, mas eles não deixam o trabalho. Eles permanecem ligados por uma espécie de coleira digital.”
Se trabalhadores e seus empregados não conseguem chegar a um acordo, a empresa precisa publicar um documento que diga de forma detalhada o que espera dos funcionários quando eles estão fora do escritório. A lei não traz sanções para as companhias que não definirem esses termos ou descumprirem a regra sobre comunicação fora do horário de trabalho.
Regras em outros países
Muitos permanecem céticos sobre a possibilidade de uma lei como essa ser adotada em outros países, como os Estados Unidos, onde as semanas são mais longas e há menos tempo para as férias. “Aqui na França nós falamos em dois tipos de tempo, como definidos pelos gregos: chronos e keiros. Chronos é o tempo regular e divisível. Keiros é o tempo inconsciente e criativo”, explicou à BBC o consultor de negócios Linh Le. “Keiros é essencial para o pensamento produtivo, e bons empregadores sabem que precisam protegê-lo.”
Assim, o surgimento da questão em um regra escrita deve trazer mais luz sobre a importância de se estar presente em casa e conversar sobre flexibilidade e expectativas em torno do trabalho. “Alguns dos desafios que vêm com a flexibilidade são o gerenciamento dessas fronteiras entre casa e trabalho, e a capacidade de dizer “não estou trabalhando agora”, avalia Anna Cox, uma especialista no tema da University College London, em entrevista ao The Guardian, que também nota que a lei poderia encorajar “um diálogo entre colegas de trabalho sobre suas próprias expectativas”.
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