A publicitária Miriam, 29 anos, ocupava um cargo em uma agência de publicidade de Porto Alegre havia sete meses quando deu aos colegas a notícia da gravidez. Todos a parabenizaram, menos a chefe. "Não acredito que foste fazer isso agora", reagiu.
A pressão chegou ao cúmulo da sugestão do aborto. Embora tivesse direito à estabilidade no emprego por causa da gravidez, não suportava mais o assédio e pediu demissão.
Hoje o filho de Miriam tem 15 anos. Contrariando as previsões da antiga chefe, a publicitária continua casada e, atualmente, ocupa um cargo de diretoria. Mas a história não foi esquecida, até porque não acabou. Coações semelhantes à que Miriam sofreu continuam acontecendo em escritórios, hospitais, empresas, departamentos de governo.
Constrangimentos no trabalho por causa da gravidez não devem ser considerados naturais. O nome disso é assédio moral, garantem especialistas. A pesquisa Carreiras Femininas no Espaço Contemporâneo mostra que 13% das entrevistadas já sofreram algum tipo de assédio no trabalho.
"Uma organização não tem o direito de interferir nessa decisão pessoal. Isso é assédio. A mulher que quer ser mãe não pode negociar porque o relógio biológico é implacável", alerta a pesquisadora Juliana Oliveira Andrade.
O fenômeno atinge diferentes profissões e classes sociais. Como o caso da deputada estadual Ana Affonso, que não conseguiu tirar licença-maternidade na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Embora o regimento da Assembleia do Estado assegure o benefício, a petista descobriu que as minúcias da legislação o concedem pela metade: se quisesse desfrutá-lo, teria que suspender seu mandato.
Durante os quatro meses de licença, o cargo ficaria com um suplente. Ana decidiu abrir mão da licença-maternidade. E garante que vai levar a filha para amamentar no plenário. "Quem sabe assim eles enxerguem a situação".
Maternidade e ascensão na carreira
Gravidez não é sinônimo de declínio na carreira. Pelo menos não precisa ser, como mostra a trajetória da consultora sênior em Recursos Humanos Luciana Madrid, que estava se preparando para subir de cargo na multinacional onde trabalha quando engravidou.
O que, em outras empresas, poderia virar um dilema, na Dell se transformou em caso inspirador para quem acredita que é possível conciliar carreira e maternidade.
Quando sua barriga saliente indicava os seis meses de gestação, ela foi promovida a diretora de RH para o Brasil. Quando retornou da licença-maternidade, assumiu também a diretoria para a América do Sul. Um ano depois, quando o filho Eduardo completou um ano, ganhou ainda mais responsabilidades. Passou a responder pela diretoria de RH para a América Latina.
Reconhecida no mercado como uma empresa que mantém boas práticas em relação a gestantes, a Dell defende como valores a flexibilidade e o respeito à diversidade. A empresa oferece inclusive uma sala exclusiva para a retirada e armazenamento do leite materno. Caso a funcionária precise levar o filho ao médico ou chegar mais tarde para deixá-lo na creche, ninguém faz cara feia.