13% das entrevistadas pela pesquisa Carreiras Femininas no Espaço Contemporâneo já sofreram algum tipo de assédio no trabalho por causa da gravidez.
Pesquisa
Mães são mais felizes no trabalho
Apesar de todos os dilemas que as mulheres enfrentam ao engravidar e das agruras de jornadas múltiplas, a premissa de que a maternidade vai prejudicar a carreira está longe de ser verdadeira. Tanto que trabalhadoras que são mães sentem-se mais felizes do que suas colegas sem filhos.
O resultado aparece na Pesquisa As Carreiras Femininas no Espaço Contemporâneo _ Trajetórias e Perspectivas de Mulheres Profissionais Brasileiras, defendida por Juliana Oliveira Andrade em sua tese de doutorado pela Universidade Federal de Minas Gerais, em 2012.
Na Constituição
Conheça os direitos trabalhistas das mulheres que engravidam:
Estabilidade no trabalho durante a gravidez e por cinco meses depois no parto.
Caso a mulher seja despedida nesse período, tem direito a ser reintegrada ou receber indenização.
Mesmo em caso de demissão sem o informe da gravidez, se for comprovado que ela estava grávida, tem direito a ser readmitida.
A publicitária Miriam, 29 anos, ocupava um cargo em uma agência de publicidade de Porto Alegre havia sete meses quando deu aos colegas a notícia da gravidez. Todos a parabenizaram, menos a chefe. "Não acredito que foste fazer isso agora", reagiu.
A pressão chegou ao cúmulo da sugestão do aborto. Embora tivesse direito à estabilidade no emprego por causa da gravidez, não suportava mais o assédio e pediu demissão.
Hoje o filho de Miriam tem 15 anos. Contrariando as previsões da antiga chefe, a publicitária continua casada e, atualmente, ocupa um cargo de diretoria. Mas a história não foi esquecida, até porque não acabou. Coações semelhantes à que Miriam sofreu continuam acontecendo em escritórios, hospitais, empresas, departamentos de governo.
Constrangimentos no trabalho por causa da gravidez não devem ser considerados naturais. O nome disso é assédio moral, garantem especialistas. A pesquisa Carreiras Femininas no Espaço Contemporâneo mostra que 13% das entrevistadas já sofreram algum tipo de assédio no trabalho.
"Uma organização não tem o direito de interferir nessa decisão pessoal. Isso é assédio. A mulher que quer ser mãe não pode negociar porque o relógio biológico é implacável", alerta a pesquisadora Juliana Oliveira Andrade.
O fenômeno atinge diferentes profissões e classes sociais. Como o caso da deputada estadual Ana Affonso, que não conseguiu tirar licença-maternidade na Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul. Embora o regimento da Assembleia do Estado assegure o benefício, a petista descobriu que as minúcias da legislação o concedem pela metade: se quisesse desfrutá-lo, teria que suspender seu mandato.
Durante os quatro meses de licença, o cargo ficaria com um suplente. Ana decidiu abrir mão da licença-maternidade. E garante que vai levar a filha para amamentar no plenário. "Quem sabe assim eles enxerguem a situação".
Maternidade e ascensão na carreira
Gravidez não é sinônimo de declínio na carreira. Pelo menos não precisa ser, como mostra a trajetória da consultora sênior em Recursos Humanos Luciana Madrid, que estava se preparando para subir de cargo na multinacional onde trabalha quando engravidou.
O que, em outras empresas, poderia virar um dilema, na Dell se transformou em caso inspirador para quem acredita que é possível conciliar carreira e maternidade.
Quando sua barriga saliente indicava os seis meses de gestação, ela foi promovida a diretora de RH para o Brasil. Quando retornou da licença-maternidade, assumiu também a diretoria para a América do Sul. Um ano depois, quando o filho Eduardo completou um ano, ganhou ainda mais responsabilidades. Passou a responder pela diretoria de RH para a América Latina.
Reconhecida no mercado como uma empresa que mantém boas práticas em relação a gestantes, a Dell defende como valores a flexibilidade e o respeito à diversidade. A empresa oferece inclusive uma sala exclusiva para a retirada e armazenamento do leite materno. Caso a funcionária precise levar o filho ao médico ou chegar mais tarde para deixá-lo na creche, ninguém faz cara feia.
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