Os trabalhadores da indústria tiveram um ganho real de 9,33% em julho na comparação com o mesmo mês de 2004, devido sobretudo à queda da inflação. A pesquisa Indicadores Industriais da Confederação Nacional da Indústria (CNI) também mostrou que o setor tem folga na capacidade produtiva e está preparado para atender ao aumento da demanda sem gerar pressões inflacionárias, o que daria ao Banco Central margem para uma redução maior na taxa de juros.
A projeção da CNI é de que o Brasil possa virar o ano com taxas de juros de 17% no mínimo. Segundo a entidade, entre julho de 2004 e julho deste ano houve uma queda de dois pontos percentuais no uso da capacidade instalada e ao mesmo tempo o número de horas trabalhadas na indústria cresceu quase 3% no mesmo período.
- Há espaço para uma queda mais substancial na taxa de juros a médio prazo - disse o economista da CNI, Flávio Castelo Branco.
A capacidade instalada da indústria em julho ficou em 81,9%, dois pontos percentuais abaixo do índice registrado em igual período de 2004. Segundo Castelo Branco, isso não é pouco numa série pequena. Ao mesmo tempo, o número de horas trabalhadas subiu quase três pontos percentuais no mesmo período.
Para a CNI, esses dois indicativos sinalizam que houve uma consolidação dos investimentos na indústria e, por isso, a preocupação do Banco Central com o nível da capacidade instalada - o que levaria a uma redução lenta nos juros não se justifica - pelo menos nos próximos seis meses. Segundo Castelo Branco, a Selic, que está hoje em 19,75%, poderá chegar a 17% em dezembro.
- Não podemos ficar presos na armadilha do crescimento, com medo de crescer - disse o economista, acrescentando que o país precisa acompanhar o mesmo ritmo dos países emergentes, senão vai perder uma "janela" da economia global.
A inflação, frisou o economista, está em baixa e isso tem efeito na recomposição dos salários. Em julho, a massa salarial (total dos salários pagos pelo setor industrial) cresceu 1,29% e nos primeiros setes meses deste ano, 9,02%.
- O crescimento do salário é muito mais pelo efeito da inflação do que pelo dinamismo mais acentuado da atividade econômica - explicou Paulo Mol, da CNI.