Uma nova geração de espectadores não respeita mais as regras rígidas das grades de programação das emissoras de televisão. Assistir a comerciais, esperar uma novela terminar ou atrasar algum compromisso para não perder aquele episódio inédito de sua série favorita é coisa do passado.
Após a onda avassaladora do MP3, que ainda deixa a indústria fonográfica sem saber que rumo tomar, um novo movimento vem ganhando força entre os usuários de internet com conexões de banda larga. Trata-se do download de filmes, seriados, desenhos animados e videoclipes.
Passando ao largo das discussões sobre pirataria, os usuários das redes peer-to-peer (P2P), programas que fazem transferências de arquivos entre PCs conectados à rede, estão cada dia mais afastados do jeito tradicional de assistir à televisão. E as diferenças entre a antiga forma de se ver tevê são muitas.
Umas das principais características é a velocidade de se conseguir o produto desejado. Não importa em que lugar do mundo um seriado seja exibido, em poucas horas alguém terá gravado e disponibilizado o programa para download. Séries como a campeã de audiência Lost, exibida no Brasil pelo canal pago AXN, tem seus episódios inéditos exibidos muito antes nos EUA. A segunda temporada é um exemplo disso. Usuários do BitTorrent, rede P2P, já podem assistir ao quinto episódio dessa fase. No Brasil, a nova temporada está programada para ir ao ar somente em 2006.
Outra série entre as muitas que os fãs podem acompanhar com antecedência é Roma, a megaprodução da HBO que está apenas no quarto capítulo no Brasil, enquanto na internet já se pode encontrar o sétimo episódio.
Usuários
O técnico de manutenção industrial Osvaudir Antonio Ferreira Dias, de 33 anos, é um desses usuários que mudou radicalmente a forma de ver televisão. Aliás, ele diz que há anos não assiste mais a programação oferecida da maneira convencional. "Não assisto mais tevê, baixo tudo pela internet", revela Dias, um ardoroso telespectador das séries Os Simpsons e Smallville, exibidos pela Fox e Warner, respectivamente. "Durante a semana, assisto quando volto do trabalho. No fim de semana, reunimos a família para assistirmos os melhores episódios."
Para Dias, além da velocidade em se conseguir os seriados, o conteúdo sem modificações também é uma vantagem. Segundo ele, as séries exibidas no Brasil tem parte do episódio cortado. "Tem capítulos de Smallville com mais de 10 minutos de cortes", alerta.
Mais aficionado por filmes, o estudante de geografia Cristiano Brum Binder, de 20 anos, usa a internet como instrumento para ter acesso aos longas-metragens que não consegue achar nas vias convencionais. "Tem coisas que você não consegue encontrar nem nas locadoras", comenta. Shows, filmes antigos e inéditos e a série animada Beavis and Butthead, da MTV norte-americana, que não é mais exibida no Brasil, fazem parte do cardápio cultural do estudante.
Outro fator que leva várias pessoas a baixarem vídeos pela internet é o fato destes já virem sem os anúncios. "Fica muito melhor de assistir sem interrupções", pondera Binder. A qualidade também é apontada pelo aumento de procura por este tipo de conteúdo. Normalmente as gravações são feitas em países como Estados Unidos e Japão, onde já é amplamente difundida a televisão digital, também chamada de HDTV, que possui uma imagem que se assemelha aos atuais DVDs. "A definição é muito melhor do que vemos nas nossas tevês", afirma o estudante.
Exclusividade
Eventos exclusivos e que não são exibidos na televisão também geram muita procura. Por exemplo, sem internet, a única maneira de um fã de lutas de vale-tudo acompanhar os torneios mundiais era através de jornais e revistas. Porém, com acesso a rede é possível baixar, poucas horas depois do término, aquele torneio que aconteceu na Inglaterra. Além disso, uma maneira que está se popularizando entre os fãs do esporte é acompanhar ao vivo por meio de webcams tais eventos.
Há basicamente dois modos de se ver os arquivos baixados pela rede. A mais usada é assistir no próprio computador. Outra maneira muito popular é assistir na televisão através de um cabo conectado ao computador. Outras formas seriam gravar o material em DVD ou CD e executá-los nos aparelhos de DVD convencionais. A mais recente, e que promete se propagar com maior intensidade, são players portáteis de vídeo, como o recente lançamento da Apple, um iPod que roda vídeos.
Além do conteúdo disponibilizado pelos próprios internautas, a Apple passou a oferecer desde a semana passada séries e videoclipes em sua cultuada loja online, a iTunes Music Store. Cada episódio ou videoclipe é vendido ao preço de US$ 1,99, porém somente quem mora nos EUA pode fazer a compra. Mas a tendência é que diversas lojas passem a oferecer arquivos de vídeo sob demanda, assim como aconteceu recentemente com o mercado fonográfico.
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